Convidar os pobres

O evangelista Lucas, por diversas vezes, apresenta Jesus junto à mesa numa refeição. Nessas ocasiões, seja com gente pobre ou rica, importante ou desconhecida, santa ou pecadora, sua posição é muito clara: toma sempre a defesa dos mais frágeis. 

Sendo convidado para uma refeição na casa de um dos chefes dos fariseus, Jesus notou que os convidados escolhiam os primeiros lugares, uma competição social. Em outra ocasião, Jesus já tinha alertado as pessoas a terem cuidado com esses homens, pois eles “fazem questão de andar com roupas compridas e gostam de ser cumprimentados nas praças públicas. Gostam dos primeiros lugares nas sinagogas e dos postos de honra nos banquetes. No entanto, exploram as viúvas e roubam suas casas e, para disfarçar, fazem longas orações”. São estes que estão no banquete do qual Jesus participa, aos quais em forma de parábola aconselha a ocuparem os últimos lugares para não serem envergonhados, porque é com os últimos que Jesus vai se assentar. Lugar discreto, que não tem muita visibilidade, que poucos enxergam, lugar dos pobres, lugar por onde passam os serventes, lugar privilegiado de Deus. O último lugar não é um castigo, mas o lugar de Deus. Ali encontramos Jesus a nos servir, Ele que vindo ao mundo não tinha lugar na hospedaria e nasceu nas tábuas de uma manjedoura e, quando morreu, o lugar foi a cruz de madeira. 

Pode ser que um candidato a algum cargo eletivo, com os olhos marejados, venha dizer que, visitando uma favela, ficou surpreso ao ver gente pobre, lixo jogado pelas vielas e esgoto a céu aberto. Pode ter certeza de que tal pessoa nunca tinha pisado no chão de uma favela, que sempre ignorou esse Brasil, esse estado, essa cidade. Quando eleito, não vai dar prioridade aos últimos que entram na fila do “ossinho”, mas aos grandes que definem o preço dos alimentos. 

Na segunda parábola, Jesus se dirige a quem faz a seleção dos convidados, indicando atitude de abnegação que deve caracterizar a hospitalidade: “Quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e o cegos. Serás feliz porque eles não podem retribuir-te”. Estes eram os que tinham prioridade nas festas divinas, os que eram considerados castigados, os pecadores, os que sujavam, enfeando o templo e a liturgia ali celebrada. São quatro categorias de pessoas excluídas. Convidá-las para um banquete é dar-lhes a oportunidade que a sociedade não as dá, é valorizar as pessoas por aquilo que elas são e não pelo que elas têm. É o convite à generosidade, dar sem esperar algo em troca, fazer o bem para ver o outro feliz, pois quem “dá aos pobres empresta a Deus”, diz o provérbio. “Neste momento, penso com gratidão nos refeitórios em que tantos voluntários oferecem o próprio serviço, dando de comer a pessoas sozinhas, deserdadas, desempregadas ou desabrigadas. Esses refeitórios e outras obras de misericórdia – como visitar os doentes, os presos… – são escolas de caridade que propagam a cultura da gratuidade, porque aqueles que aí trabalham são impelidos pelo amor a Deus e iluminados pela sabedoria do Evangelho” (Papa Francisco). 

Faz bem retomar a beleza do Salmo 67, que nos ensina que Deus se levanta, e, com carinho, prepara uma mesa para o pobre. “Ele faz estremecer os justos de incontida alegria, que, na sua santidade, se apresenta como Pai dos órfãos e defensor das viúvas, que dá uma casa aos sem-abrigo, faz sair os prisioneiros ao som da música, e deixa os rebeldes no deserto, derrama a sua chuva sobre a sua herança, envolve o pobre no seu manto de bondade” (Antônio Couto). 

Por fim, terminando este mês vocacional, lembro-me dos catequistas que, com sua palavra e seu testemunho, transmitem o patrimônio da fé, revelando a face de um Deus amigo dos pobres e uma Igreja acolhedora e misericordiosa. Juntos, avancemos para estudar e celebrar o Mês da Bíblia, por- que “O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes” (Josué 1,9). 

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Jorge rodrigues pereira
Jorge rodrigues pereira
1 ano atrás

Sabia reflexao muinto bonita