A cidade de Belém do Pará sediará, nos próximos dias, a COP30, a Conferência Mundial que discutirá questões relevantes sobre as mudanças climáticas, com suas consequências e o que pode e deve ser feito para que não caminhemos para um colapso ambiental global em nosso planeta Terra, com consequências apocalípticas.
A Conferência acontece em um clima de controvérsias sobre a questão, pois há ainda os negacionistas climáticos e ambientais, que negam os problemas climáticos e ambientais, que são cada vez mais evidentes e já mostram incidências indiscutíveis. Ou negam a relação de tais problemas com a era industrial e os modelos de vida gerados pela sociedade industrial. Mas existe, sobretudo, a questão de fundo: quem aceita mudar seu estilo de vida e os benefícios de sua política econômica para frear o avanço do desastre climático e ambiental? Quem aceita pagar a conta do esforço a ser feito para consertar o que já foi estragado e que acaba atingindo a todos?
Tem-se a impressão de que os representantes dos países vão para a COP30 “com o freio de mão puxado”, para se comprometer o mínimo e levar para casa o menor prejuízo possível. Outros, até mesmo, nem comparecem à Conferência, sabendo que deveriam assumir uma parte significativa da “dívida ecológica” já pendente. Enquanto isso, cientistas, técnicos e representantes das mais diversas organizações da sociedade civil estarão se esforçando para mostrar o quadro real da situação e para propor decisões e ações que deveriam ser assumidas por todos.
Parece-se que estão em jogo algumas questões de fundo, a serem vistas com objetividade, e que o Papa Francisco já apontou, há dez anos, quando escreveu a encíclica “Laudato si’, sobre o cuidado da Casa Comum”. Antes de tudo, a responsabilidade de todos em relação à questão ambiental e climática. Isso requer olhar para o planeta Terra como nossa casa comum, um bem pertencente a todos, onde tudo está interligado, cujo cuidado foi entregue a todos e beneficia a todos; e cuja falta de cuidados atinge a todos e faz mal a todos. Não há como negar que há problemas na relação do homem com a natureza e o ambiente da vida e que isso representa uma ameaça para todos.
Se existe concordância sobre esse ponto de partida, é necessário passar às consequências: o que devemos fazer para corrigir essa situação e não colocar ainda mais em risco o futuro do ambiente da vida e da própria vida na Terra? As decisões devem ser discernidas e assumidas por todos. No entanto, aqui temos um problema: quem obriga a acatar as decisões da COP 30? Já sabemos que apenas a boa vontade não basta e que, em muitos casos, as diretrizes ou decisões dessas Conferências, depois, permanecem letra morta. Mesmo assim, não se consegue ir além disso: acreditar e esperar que todos assumam seriamente as decisões tomadas.
Uma terceira questão a ser tida em conta é o fato de haver uma só humanidade nessa casa comum. Passou o tempo em que um povo podia viver isolado e não ser atingido pelos problemas dos vizinhos e pelas questões globais. Todos dependem de todos e, por isso, as questões globais precisam ser tratadas com desprendimento, para não buscar apenas o bem do próprio povo, mas também o bem dos outros povos. As coisas mal resolvidas sempre geram novos conflitos e desequilíbrios injustos.
E eis uma quarta questão envolvida na crise ambiental e climática: a justiça. Já se sabe que os países mais ricos são também os que mais geram problemas para o ambiente e o clima. Mas são as populações mais pobres, os países mais pobres e em desenvolvimento os que pagam e pagarão o preço mais alto da fatura climática e ambiental. Isso se reflete imediatamente no comércio e na finança internacional, que tendem a beneficiar invariavelmente os países mais industrializados e ricos. Por outro lado, a desertificação e os desastres ambientais, quando não as guerras e as migrações motivadas por questões ambientais, também pesam mais sobre os povos mais pobres. O desequilíbrio ambiental reflete um desequilíbrio grave na ordem da justiça entre os povos, que precisaria ser enfrentado igualmente na COP30.
Por fim, se se quer avançar nas soluções para a crise ambiental, é preciso levar em conta mais uma questão: a fraternidade universal, como grande meta. É o que o Papa Francisco chamou de “amor cívico e político” (cf. LS nº 238-239). Enquanto cada país e cada economia tenta levar o máximo de vantagem para si, sem se importar com os demais, sobretudo os países mais pobres, não haverá verdadeiros avanços na solução da crise climática. Se somos uma única família humana e de povos, habitando e dependendo todos da mesma casa comum, é preciso crescer no senso de fraternidade entre os povos. Nessa casa comum, ou se pensa fraternalmente e solidariamente, ou haverá brigas e guerras sem fim. E a casa se destruirá para todos.






