Cruz: sinal de bênção, proteção, salvação e segurança

Parece haver uma contradição no nome da celebração da Exaltação da Santa Cruz. 

A gente costuma exaltar aquilo que agrada, que nos faz feliz: um prêmio, uma promoção… Não nos passa pela cabeça pensar que a cruz possa ser algo de bom. No entanto, sempre que nos benzemos, fazemos o sinal da Cruz; e nos protegemos do mesmo modo diante do perigo, do mal. Quando pedimos a bênção, o padre faz o sinal da Cruz. Assim, a cruz é também sinal de bênção, proteção, salvação e segurança. Também significa o sacrifício purificador da Cruz aceita por Cristo em resgate de toda a humanidade. 

A data da celebração dessa festa remonta ao ocorrido com o imperador Heráclio, que, no dia 14 de setembro de 629, um ano depois de recuperar a Cruz que os persas haviam arrebatado da Terra Santa, foi a Jerusalém para recolocá-la no Calvário. Achava-se diante dos muros da cidade santa, quando saiu a recebê-lo Zacarias, Bispo de Jerusalém. O imperador quis imitar Jesus e carregar a Cruz até o local do Calvário. Mas não conseguia, porque a Cruz era pesada demais. O Patriarca Zacarias explicou-lhe que, para carregar a Cruz de Cristo, seria necessário se despojar das insígnias reais e das suas vestes. Heráclio despojou-se de suas vestes, de sua coroa e das sandálias. E assim levou até o cume do monte Calvário o sagrado madeiro em que morreu o Salvador. A partir de então, todo o Ocidente passou a celebrar a festividade da Exaltação da Santa Cruz com mostras especiais de júbilo e ação de graças a Deus. 

Agora precisamos entender as razões pelas quais a Igreja vê a Cruz como algo positivo. Assim proclama a Liturgia da Missa: “A cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória: Nele está nossa vida e ressurreição; foi Ele que nos salvou e libertou”. Lembramos que o Arcanjo São Gabriel anunciou a Maria que Jesus seria chamado Filho do Altíssimo e Deus daria a seu Filho o trono do rei Davi. Mas, no final da vida, Jesus não sobe a um trono, mas é pregado numa cruz. Na verdade, essa cruz é o trono pelo qual Jesus conquistou o reino do Céu e triunfou sobre o pecado, a morte e a maldade humana. Jesus veio ao mundo para nos libertar do pecado e da morte e deixou intacta a dor, o sofrimento e a cruz. É interessante também reparar que Jesus se refere à cruz como a sua exaltação: “Quando eu for exaltado da terra, atrairei tudo a mim!” (Jo 12,32). Como o Papa Francisco explica, “não se pode entender Cristo Redentor sem a cruz. Podemos mesmo chegar a pensar que é um grande profeta, que faz coisas boas, que é um santo. Mas Cristo Redentor sem a cruz não se pode entender” (Meditação matutina, 26-IX-2014). Assim, Jesus quer ensinar que a sua morte na cruz não deveria ser considerada uma derrota, mas um triunfo; da mesma forma, as dores e dificuldades da vida não devem ser vistas como desgraças insuportáveis, mas como realidades que podem levar à identificação com Deus. Cristo adverte os seus discípulos de que sofrerão perseguições e calamidades, “mas tende confiança: Eu venci o mundo” (Jo 16,33). 

Por isso, precisamos amadurecer em nossa maneira de encarar as dores e sofrimentos da nossa vida. São a nossa cruz. E se, ainda assim, considerarmos a nossa cruz muito pesada, Jesus passará ao nosso lado e nos ajudará a carregá-la como Ele fez por nós no caminho do Calvário. São Josemaria nos anima: “Com que amor se abraça Jesus com o lenho que Lhe há de dar a morte! Não é verdade que, mal deixas de ter medo à Cruz, a isso que a gente chama de cruz, quando pões a tua vontade em aceitar a Vontade divina, és feliz, e passam todas as preocupações, os sofrimentos físicos ou morais? É verdadeiramente suave e amável a Cruz de Jesus. Não contam aí as penas; só a alegria de nos sabermos corredentores com Ele” (Via-sacra, II Estação). 

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