De onde vêm os missionários?

O 4º Domingo de outubro é celebrado na Igreja inteira como “dia mundial das missões e da infância missionária”. Muitas iniciativas são organizadas e realizadas nas comunidades locais, envolvendo crianças, jovens e adultos. Entre essas iniciativas, estão os testemunhos de algum missionário sobre sua missão, sobre o trabalho que realiza e sobre as situações que envolvem seu trabalho. Muitas outras iniciativas podem ser organizadas, mas é muito importante promover a consciência missionária nas comunidades e a oração pelas missões e os missionários.

Neste dia também é feita a coleta em favor das missões e da infância missionária em todas as comunidades e em todas as celebrações. O que se recolhe é destinado integralmente às missões ad gentes, ou seja, às frentes missionárias no meio dos povos ainda não evangelizados ou aos locais aos quais a Igreja chegou recentemente. É o caso dos países da África e da Ásia em geral, mas também de vários países da América Latina. Nesses lugares e países, o trabalho missionário e a vida das comunidades cristãs ainda jovens dependem do apoio generoso e solidário da Igreja inteira.

Talvez alguém pense que o tempo de “fazer missão” já acabou e que, agora, basta cultivar a fé nas comunidades já estabelecidas. Isso, porém, é um grande equívoco, pois a fé cristã, católica e de outras confissões cristãs, é professada por um pouco mais de 2 bilhões dos mais de 8 bilhões de habitantes de nosso planeta. Isso significa que apenas uma de cada 4 pessoas no mundo está evangelizada. Há muito trabalho missionário a ser feito! Já lembrava o Papa São João Paulo II na carta apostólica – Entrando no Novo Milênio (2001) “que o trabalho missionário da Igreja, longe de estar concluído, está apenas no começo”.

Não devemos esquecer que a Igreja existe para a missão e que Jesus enviou os discípulos a anunciar o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15) e não apenas a algumas pessoas ou povos. A ação missionária faz parte da natureza da Igreja de Cristo e se ela deixasse de realizar seu trabalho missionário, ela deixaria de ser a Igreja que Jesus quis. Por isso, o dia mundial das missões nos recorda sempre disso e nos ajuda a mantermos os “corações ardentes e os pés a caminho”, sem nos cansarmos e sem nos acomodarmos apenas a “conservar” o que já realizamos e temos. Os bispos da América Latina e do Caribe recordaram isso na Conferência de Aparecida, em 2007: não devemos contentar-nos em fazer uma pastoral de conservação, mas é preciso desenvolver uma pastoral decididamente missionária.

A renovação missionária da Igreja foi tema do nosso sínodo arquidiocesano (2017-2023) e nos fez perceber quanto é vasto o campo missionário aqui mesmo entre nós, em São Paulo. Há uma população crescente que se dizia católica, mas já deixou de participar da Igreja e de praticar a fé católica. Mesmo dentro de nossas comunidades e famílias, há um grande e desafiador campo missionário. Além disso, são sempre mais numerosos os que já não foram mais batizados e os imigrantes, que escolheram São Paulo para morar e viver. A eles também somos enviados para anunciar o Evangelho e para os atrair ao encontro de Cristo Salvador e da Igreja.

A ação missionária da Igreja nasce de “corações ardentes”, felizes pelo amor de Deus e de Jesus Cristo que experimentaram, que amam e valorizam a própria fé e se convencem de que cada batizado, a partir do muito que recebeu, também pode e deve partilhar os preciosos bens da fé. Não surgem missionários em comunidades desanimadas e voltadas apenas sobre si mesmas e para seus problemas internos. Na Carta Pastoral pós-sinodal – “Comunhão, participação e missão”, o tema missionário perpassa todas as indicações e propostas para a fase pós-sinodal, que agora vivemos. Uma das orientações destacava que é preciso “tornar mais missionárias nossas comunidades eclesiais”. A preocupação missionária deve estar presente em todas as paróquias e comunidades, em toda organização pastoral, nas celebrações e na formação do povo de Deus. Também já deve estar presente na formação das crianças e da juventude.

Na mesma Carta Pastoral, recordava-se, como já havia sido dito muito bem no Documento de Aparecida: não será missionário quem não for discípulo. A boa formação cristã é imprescindível para crescermos como comunidades eclesiais missionárias. Não é apenas questão de formação intelectual, mas de aprofundamento da experiência do encontro com Deus por Jesus Cristo e no dom do Espírito Santo. Podemos esperar um crescimento da consciência missionária e da ação missionária somente quando há cristãos fervorosos e comunidades fervorosas, cheias de amor de Deus e do próximo.

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Anna Maria Cintra
Anna Maria Cintra
8 meses atrás

Esse texto nos leva a refletir: o que e como fazer para evangelizar os que estão perto de nós e os que estão mais longe? Rezar, pedir luz ao Espírito Santo, refletir e tentar.

Diác Francisco Monteiro
Diác Francisco Monteiro
8 meses atrás

A Anna Maria Cintra lembrou bem: os de longe e os de perto. Muitas vezes o “campo missionário” está bem do nosso ladinho!

Ir. Marlena MF
Ir. Marlena MF
8 meses atrás

Esse texto da Ana Maria, nos remete a uma reflexão que para ser Missionário não é somente sair para outro País, mas vem do aprofundamento da experiência do encontro com Deus por Jesus e no Dom do Espírito Santo.