A maior obra do nosso verdadeiro inimigo, creio, é fazer de tudo para que não acreditemos que Deus nos ama; e, como consequência, vivemos como se Ele não nos amasse: tristes, sozinhos, quando não desesperados.
Ele nos amou e quis que nascêssemos (Ele que é o Senhor da vida), mas consideramos esse ato de amor Dele por nós sem importância: não nos maravilha nem nos enche de gratidão. Às vezes, a obra do inimigo teve tanto sucesso que nos enchemos de raiva…
Ele nos deu, mesmo nas situações mais difíceis e quem sabe até trágicas, alguém que cuidou de nós, pois sem esse alguém, não teríamos sobrevivido, mas também esse fato, consideramos de pouca importância e nem nos lembramos Dele.
Quantas vezes, Ele nos resgatou e salvou de tantos perigos e dificuldades, mas também, nesse caso, nem nos lembramos de que Ele cuida de tudo, é o Senhor da realidade e está sempre, na medida que o permitirmos, livrando-nos das garras do nosso grande inimigo.
Como nossa vida seria diferente se nos lembrássemos de que Ele é o Senhor da vida e do mundo todo, e buscássemos viver uma amizade com Ele; recordando que Ele nunca se impõe a nós. Mesmo que Ele seja o Verbo, que age o tempo todo, Ele, como nós O conhecemos por meio de Jesus, não se impõe a ninguém.
O que podemos fazer para recordar-nos no dia a dia de que Ele nos ama? O que falta para viver essa relação de amor com Ele? A familiaridade com a Sua Palavra. Hoje, sabemos que as palavras, a linguagem, o conhecer formas verdadeiras e corretas de se exprimir por meio das palavras, do uso da linguagem, formam o pensamento e são a raiz do conhecimento. Por isso, a familiaridade com a Palavra de Deus é necessária para fruir toda a graça, e compreender adequadamente toda a nossa prática religiosa, os sacramentos, a Eucaristia. Sem a familiaridade com a Palavra de Deus que nos fala diretamente, qualquer outra vivência religiosa corre o risco de se tornar gesto externo que não toca no fundo do nosso entendimento, e não muda o nosso modo de pensar e de agir. Como dizia Santa Terezinha do Menino Jesus: “Aprendi tudo da Sagrada Escritura”, que ela carregava consigo o tempo todo.
É na Sagrada Escritura que Deus nos diz o quanto nos ama. São as Palavras inspiradas por Ele mesmo que podem nos ensinar a como viver o amor, a confiança, a certeza da Sua Presença, e misericórdia. Quanto mais repetirmos essas Palavras, mais elas penetrarão em nós e nos mostrarão o quanto elas são verdadeiras, como nos lembra o Papa Francisco na Dilexit nos (99):
És precioso aos meus olhos […] eu te amo (Is 43,4).
Pode uma mulher esquecer-se de seu filhinho, a ponto de não se compadecer do filho de suas entranhas? Mesmo que ela se esquecesse, eu, contudo, não me esquecerei de ti! Vê que eu te gravei nas minhas mãos (Is 49,15-16).
Mesmo que as montanhas se retirem e as colinas se movam, o meu amor não se afastará de ti, e a minha aliança de paz não será abalada (Is 54,10).
Com amor eterno, eu te amei, por isso te atraí com misericórdia (Jr 31,3).
O Senhor, teu Deus, está no teu meio. Valente, Ele te salvará. Ele se regozijará por ti com alegria, comovido em Seu amor; e se encherá de júbilo por ti com exultação (Sf 3,17).
É bom lembrarmos ainda, neste tempo de Advento e de Natal, que o primeiro a entrar no Reino dos Céus foi um ladrão que deve ter feito coisas tão terríveis a ponto de merecer a morte mais cruenta. Bastou-lhe, porém, confessar e pedir: Jesus, lembra-te de mim quando vieres com o Teu Reino; e que Jesus logo olhou para ele cheio de afeição e respondeu: Hoje, estarás comigo no paraíso.






