O tema do Ano Jubilar – “peregrinos de esperança” – lança uma luz nova sobre os temas da nossa fé e da vida cristã. O Papa Francisco foi muito inspirado ao escolher a esperança como fio condutor deste Ano Santo. Certamente, essa virtude teologal, que faz parte da identidade cristã desde o Batismo, precisava mesmo ser recordada e trazida para o centro da compreensão da nossa vida cristã.
Talvez estejamos muito focados em uma religiosidade de eficiência imediata, querendo respostas definitivas a todos os anseios humanos já nesta vida. Os peregrinos precisam manter o olhar voltado para a meta e o passo firme e perseverante, para alcançar a meta. Ou então, sem valorizar a esperança, abandona-se todo esforço para dar sentido e dedicar-se às “causas perdidas”, conforme certa lógica humana. Ouvir o clamor dos pobres e dedicar-se a eles, cuidar dos doentes, lutar pela paz, a justiça e a honestidade, educar com paciência os filhos e valorizar o casamento e a família parecem ser dessas “causas perdidas”, que só se valorizam com verdadeira esperança.
Terminado o Tempo Pascal, a Liturgia da Igreja celebra, agora, o Tempo Comum. Uma interpretação superficial poderia dizer que é um tempo em que não acontece nada de especial nas celebrações e na vida da Igreja. Mas não é assim. Este é o tempo do anúncio e do testemunho do Evangelho “a todos os povos”, como Jesus mandou (cf. Mc 16,15). É o tempo de fazer frutificar as imensas graças e dons recebidos de Deus mediante a fé. É o tempo de fazer aparecer, com a ajuda do Espírito Santo, os sinais do Reino de Deus no meio de nós e no mundo. Tempo da ação do Espírito Santo que, com seus múltiplos dons, capacita cada um para realizar a obra de Deus, como “discípulo e missionário de Jesus Cristo”.
Este tempo é marcado e animado pela “feliz esperança”. Como trabalhadores que voltam cada dia ao seu trabalho, dedicados e perseverantes, assim também os cristãos, acolhendo o envio do Mestre Jesus, retomam cada dia a missão que Deus lhes confiou, para fazerem a sua parte como trabalhadores na messe do Senhor. A missão é grande e a sua eficácia não depende somente deles. A graça de Deus os acompanha e o Espírito Santo lhes dá sua preciosa ajuda. Seguem animados pela esperança de que, um dia, o Reino de Deus, entre mil dificuldades e resistências humanas, vai sendo acolhido e mostrando a sua eficácia.
O que fundamenta essa esperança, que alguém poderia chamar de ilusão e “doce quimera”, é a experiência da fé cristã. Na Carta aos Romanos, São Paulo faz uma bela síntese do motivo da esperança cristã, capaz de se manter firme, apesar das perseguições, incompreensões e sofrimentos: “E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Em seu amor desmedido por nós, Deus Pai nos deu o melhor que podia dar: o seu Filho e o Espírito Santo. Quem ainda duvidaria do amor de Deus? Ainda é São Paulo que nos diz, de modo eloquente: “Deus prova seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores. Muito mais, agora, que já estamos justificados pelo seu sangue, seremos salvos da ira” (Rm 5,8-9).
Quem compreendeu e experimentou o amor de Deus em sua vida tem motivos inabaláveis de esperança. Jesus o disse no seu diálogo noturno com Nicodemos: “Tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único para que não pereça, mas tenha a vida eterna todo aquele que Nele crer. (…) Pois Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16.18). A esperança cristã não é um sonho ou uma quimera, mas está baseada solidamente na fé e na experiência do amor de Deus. Por isso, ela é firme e inabalável.
As solenidades litúrgicas da Santíssima Trindade e de Corpus Christi trazem para nós essa mensagem riquíssima de fé e esperança. A comunidade de fé, caminhando na história, anuncia e testemunha o amor de Deus Trindade, experimentado na vida pessoal e comunitária. As experiências do amor de Deus dos irmãos nos alegram, enriquecem e aquecem o coração. Ao celebrar Corpus Christi, proclamamos, cheios de alegria e confiança: “Ele está no meio de nós! O amor de Cristo nos uniu!” Ele caminha conosco e sustenta a nossa esperança! Não estamos sozinhos. A esperança não desilude (cf. Rm 5,5). E, assim, podemos dedicar-nos também às “causas perdidas”, que são do Reino de Deus, sem desfalecer e confiando no poder de Sua graça (cf. 2Ts 2,16-17).