Nascido em Buenos Aires, filho de imigrantes italianos, primogênito de cinco irmãos; Jorge Mario Bergoglio. Na sua autobiografia, recordou a origem migrante, o naufrágio do navio no qual seu avô teria embarcado, não fosse um obstáculo de aparente irrelevância: “Os meus avós e o seu único filho, Mário, o jovem homem que se tornaria o meu pai, tinham comprado o bilhete para aquela longa travessia, naquela nave zarpada do Porto de Gênova, no dia 11 de outubro de 1927, com destino a Buenos Aires. Mas, não embarcaram. Porquanto tivessem tentado, não foram capazes de vender em tempo o que possuíam. No fim, malgrado os esforços deles, os Bergoglio foram constritos a mudar o bilhete, a adiar a partida para a Argentina. Por isso, agora estou aqui” (Francesco e Carlo Musso, Espera, Mondadori).
A sua apresentação como Papa comoveu o mundo por suas primeiras palavras. Mais ainda, pelo nome que adotou: Francisco. Pensaram que fosse uma referência a Francisco Xavier, também jesuíta. Ele mesmo explicaria de qual Francisco se tratava: “Alguns não sabiam por que o Bispo de Roma se quis chamar Francisco. Alguns pensaram em Francisco Xavier, em Francisco de Sales, e, também, em Francisco de Assis. (…) Na eleição, tinha ao meu lado o Cardeal Cláudio Hummes, o Arcebispo Emérito de São Paulo e também Prefeito Emérito da Congregação para o Clero: um grande amigo, um grande amigo! Quando o caso começava a tornar-se um pouco ‘perigoso’, ele animava-me. E quando os votos atingiram dois terços, surgiu o habitual aplauso, porque foi eleito o Papa. Ele abraçou-me, beijou-me e disse-me: ‘Não te esqueças dos pobres!’ E aquela palavra gravou-se-me na cabeça: os pobres, os pobres. Logo depois, associando com os pobres, pensei em Francisco de Assis. Em seguida, pensei nas guerras, enquanto continuava o escrutínio até contar todos os votos. E Francisco é o homem da paz. E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito boa, pois não? [Francisco] é o homem que nos dá este espírito de paz, o homem pobre…”.
Foi o primeiro Papa com o nome Francisco! Francisco de Assis também foi o primeiro a ter esse nome. Contam as Fontes Franciscanas que se chamava Giovani (João): “Francisco, servo e amigo do Altíssimo, a quem a divina Providência deu esse nome, para que, por sua singularidade e raridade, mais rapidamente se difundisse por todo o mundo o conhecimento de seu ministério, recebeu de sua mãe o nome de João, quando renasceu pela água e pelo Espírito Santo, passando de filho da ira a filho da graça (…) Por isso, celebrava, mais do que as festas dos outros santos, a memorável festa de São João Batista, que tinha marcado seus passos com a dignidade de um nome de força mística. Entre os nascidos de mulher, não apareceu nenhum maior do que João, e entre os fundadores de Ordens nenhum mais perfeito do que Francisco” (Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco, Vozes, 3). O apelido, Francesco (Francisco), foi dado pelo pai em referência à mãe, de origem francesa.
Quanto ao Papa e à escolha do nome, logo se percebeu que não era só homenagem, mas um Programa de Pontificado, um Projeto de Vida. Suas preocupações, palavras, escritos e gestos fizeram eco à pessoa do Santo de Assis. Para Bergoglio, Francisco (de Assis) era o homem dos Pobres, da Paz, que amava e preservava a Criação. Falou disso nas encíclicas: Laudato si’ (2015) e Fratelli tutti (2020). Francisco (Papa) vivenciou o que se propusera naquele dia memorável, quando escolheu chamar-se Francisco. Não quis sê-lo apenas no nome. Por isso, tanto quanto o Francisco de Assis suscitou admiração e atração das pessoas do mundo inteiro, mesmo depois de 800 anos, também o Francisco de Buenos Aires deixou marcas profundas na humanidade que ficarão por muito tempo.