O Papa Francisco, no dia 5 de maio de 2019, publicou uma mensagem relacionada ao evento “Economia de Francisco”, que, em virtude da pandemia de COVID-19, foi adiado e será realizado entre 19 e 21 de novembro de 2020. Nessa mensagem, o Papa esclarece que: “O título deste evento – ‘Economy of Francesco’ – se refere claramente ao Santo de Assis e ao Evangelho que ele viveu em total coerência, inclusive nos planos econômico e social. Ele nos oferece um ideal e, de certa maneira, um programa. Para mim, que adotei seu nome, é contínua fonte de inspiração”.
Pode-se observar na convocação do evento que há uma linha definida: “Um processo de mudança global, que veja em comunhão de intenções não apenas quantos têm o dom da fé, mas todos os homens de boa vontade, para além das diferenças de credo e de nacionalidade, unidos por um ideal de fraternidade, atento, acima de tudo, aos pobres e aos excluídos” e construir um pacto ou “compromisso individual e coletivo para cultivarmos juntos o sinal de um novo humanismo que corresponda às expectativas do homem e ao desígnio de Deus”.
Para isso, o Papa e os organizadores do evento convidaram jovens economistas, empreendedores e acadêmicos de diversas áreas do conhecimento, em conjunto com grandes pensadores como Amartya Sen, Muhammad Yunus, Vandana Shiva, Jeffrey Sachs, Bruno Frey, Kate Raworth, Carlo Petrini, Stefano Zamagni, Juan Camilo Cárdenas, Leonardo Becchetti, Consuelo Corradi, Jennifer Nedelsky, Mauro Magatti, Cécile Renouard, Sir Michael Marmot, Antje von Dewitz e Hamid Ali.
Atualmente, as lideranças da economia global muitas vezes priorizam o lucro, fortalecem as desigualdades, geram poluição, ocasionando a morte de pessoas e outros seres vivos. Não consideram que a economia é um instrumento para podermos gerar renda, distribuir e organizar nossa relação de consumo e com o meio ambiente, visando ao bem das pessoas e não o ganho individual. A convocação papal serve inicialmente como abertura de um processo que já está em curso: repensarmos uma nova economia para o mundo, principalmente servindo à pessoa humana, ao bem comum e o seu bom convívio com a natureza, com o intuito de “atribuir uma alma à economia de amanhã”.
De modo especial, o Brasil terá a segunda maior delegação de jovens enviados a Assis, algo em torno de 150, ficando atrás somente da Itália.
Observa-se, entre nós, inúmeras iniciativas eclesiais, acadêmicas e da sociedade civil para pensar a respeito da construção de uma nova economia, partindo de reflexões de textos da Doutrina Social da Igreja, pesquisas acadêmicas ou teorias científicas e experiências vividas por organizações sobre novas economias existentes.
A espiritualidade e a fé cristã nos capacitam para termos sempre em mente a constância do discernimento, ou seja, somos seres pensantes, crentes e discernentes, pois a vida exige sempre escolhas e decisões a serem tomadas. Com isso, levo comigo, além da formação acadêmica, a formação e a constância da vivência da fé cristã, principalmente naquilo que o Papa Francisco nos ensinou na Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, quanto ao discernimento.
Por fim, temos que ter em mente que a proposta da “Economia de Francisco” não é um processo pronto, mas que está em construção; que não está acabado, pelo contrário, está sendo gerado; que há propostas e novas economias existentes, já vivas em diversos cantos do Brasil e do mundo. Cabe a cada um de nós, no entanto, conectar os pontos, construir pontes e estabelecer redes, para que façamos o novo acontecer em nosso meio.