Ecos da 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe

Arte: Sergio Ricciuto Conte

No final de novembro de 2021, a Igreja Católica na América Latina e no Caribe se reuniu em assembleia para aprofundar o Documento de Aparecida e discernir em conjunto novas formas de implementar os apelos que o Espírito Santo impulsionou ao Corpo Místico de Cristo na “Grande Pátria”.

Antes que se definisse a realização dessa atividade, pensou-se numa nova Conferência Geral do Episcopado, que geraria um novo documento do magistério da Igreja para orientar a evangelização no continente. Entretanto, o Papa Francisco, seguindo a inspiração imprevista do Espírito Santo, considerou que, em vez de uma nova Conferência, seria interessante realizar uma assembleia com todo o povo de Deus para aprofundar o Documento de Aparecida, pois nele havia muitos aspectos importantíssimos que ainda podíamos desfrutar.

Esse movimento, que o Papa Francisco fez e compartilhou com os responsáveis pela Assembleia Eclesial, é muito típico da vida espiritual e dos grandes místicos católicos. É um movimento de retornarmos a pontos importantes nos quais Deus se fez presente e nele aprofundarmos a experiência vivenciada, pois “não é o muito saber que sacia e satisfaz a pessoa, mas o sentir e saborear as coisas internamente” (Santo Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais 2,4).

Também podemos compreender como um retorno à fonte de água viva ou, como fazem nossos irmãos de fé judaica, fazer memória viva dos sinais vivos da presença significativa do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó (cf. Ex 3,15). Assim, em nossas realidades, somos convidados a relembrar as graças vividas e recebidas de Deus, para mantermos nossa mente em conexão com Ele. Nós, cristãos católicos, sempre fomos acostumados a ser guiados por aquilo que o Magistério nos propôs ao longo da história e precisamos ter clareza disso, de que a nossa fé também passa pelo Magistério e pela história. Entretanto, nossa fé também passa pela experiência individual e coletiva com o Deus vivo, Pai de Jesus Cristo, e em comunhão com o Espírito Santo. Na Assembleia Eclesial, buscou-se proporcionar ao povo de Deus na América Latina e no Caribe uma experiência eclesiológica e sinodal (de caminhar juntos) para encontrarmos a vontade de Deus nos tempos atuais.

Na Assembleia Eclesial, a primeira a ser realizada na América Latina e no Caribe, estávamos juntos, rezando juntos e partilhando nossa vida e trabalho pastoral em pequenos grupos.

Esses grupos menores deram uma grande colaboração à compilação dos “desafios pastorais” e à criação das “no- vas exigências pastorais em comum”.

Podia-se ver, na Assembleia, que tudo deriva, em suma, das exigências que Jesus Cristo faz no Evangelho a nós. É muito importante nos reunirmos, nos animarmos mutuamente no espírito de comunhão e compartilharmos a vida com os irmãos de fé e de caminhada. E é muito importante, também, termos claro em nossas mentes que tudo deriva de Jesus de Nazaré, que nasceu, morreu e ressuscitou por nós.

Às vezes, entender a nossa própria fé cristã católica se torna um processo muito difícil, pois precisamos estar abertos para escutar a Palavra de Deus, lê-la e compreendê-la. Nossa fé passa, muitas vezes, por experiências provindas da compreensão textual de uma história lida ou narrada. E demanda muita graça de Deus para aceitarmos isso. Então, vemos que necessitamos da graça. A graça é um sinal visível, em nossa vida concreta, da presença de Deus. Então, podemos pedir a fé, mas podemos pedir a graça de que Deus seja revelado a nós em nossa realidade.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal OSÃOPAULO.

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