Que São João Maria Vianney seja escolhido como padroeiro dos padres diocesanos não é espantoso: afinal, o Cura d’Ars deu sua vida como pastor das almas daquele pequeno vilarejo da França. No entanto, como entender que a padroeira do trabalho missionário da Igreja seja Santa Teresinha do Menino Jesus? Que relação pode haver entre uma monja carmelita de clausura e o apóstolo que busca no mundo as ovelhas desgarradas de Cristo?
Por trás da escolha dessa padroeira, a sabedoria da Igreja nos quer lembrar, em primeiro lugar, que não existe verdadeira cisão entre a vida ativa e a contemplativa. Seria, por isso, um engano supor que ter uma sólida vida interior é “coisa de monge”. Pelo contrário: a oração – íntima, convicta, determinada –, que faz crescer nossa vida espiritual e nos aproxima de Jesus, é mesmo “a alma de todo apostolado”, na feliz expressão de Dom Chautard.
Com efeito, Jesus nos escolheu para sairmos e produzirmos frutos perenes (cf. Jo 15,16); Ele nos advertiu também que, perdendo a íntima conexão com Ele, somos como ramos separados da videira – absolutamente estéreis (cf. Jo 15,1-6).
Confirma este ensinamento a vida dos grandes apóstolos da caridade: a mesma Madre Teresa de Calcutá, que espantava o mundo com seu zelo pelos leprosos e pelos moribundos, era irredutível quanto à necessidade de um diálogo generoso e cotidiano com o Senhor Eucarístico. Ao jovem padre, que antepunha as atividades pastorais à vida de oração, ela censurava: “Achas que eu conseguiria praticar a caridade se não pedisse todos os dias a Jesus que enchesse o meu coração com o Seu amor? Achas que eu poderia percorrer as ruas à procura dos pobres se Jesus não comunicasse à minha alma o fogo da Sua caridade? Sem Deus, somos pobres demais para ajudar os pobres!”. Não por acaso, a primeira palavra de Jesus a seus discípulos foi “Vinde” (Jo 1,39), e sua última palavra, “Ide” (Mc 16,15). Todo verdadeiro apóstolo deve primeiro “vir” ao Mestre, conviver com Ele, aprender como Ele se porta – e só depois poderá “ir” ao mundo, e comunicar o Evangelho.
Além do fato de que o apostolado só existe como superabundância da vida interior, a escolha de Santa Teresinha como padroeira das missões se justifica, em segundo lugar, pelo mistério da Comunhão dos Santos.
Como ensina nossa religião, os méritos e preces de cada membro da Igreja, mesmo que feitos em oculto, podem aproveitar a todos os demais, e inclusive operar a conversão de pecadores. As preces amorosas de Santa Mônica, afinal, trouxeram à fé seu rebelde filho Agostinho; e a intercessão de Padre Pio de Pietrelcina, a pedido do então bispo Karol Wojtyla, curou milagrosamente a polonesa Wanda Póltawska, mãe de quatro filhos que estava a ponto de morrer de câncer em 1962.
Na vida de Santa Teresinha, seu apostolado da oração foi fecundo mesmo antes de sua entrada no carmelo: tendo lido no jornal acerca da prisão de Henri Pranzini, que havia matado três mulheres em Paris no “Crime da Rua Montaigne” e recusava a Confissão, ela pôs-se a rezar insistentemente e oferecer sacrifícios por sua conversão. O criminoso resistiu impenitente durante todo o tempo de sua prisão, até que, subindo já o cadafalso para ser executado, tomou de repente o crucifixo do padre ali presente e beijou-o três vezes – no que Teresinha viu um sinal divino de que suas preces haviam sido atendidas.
Se hoje é a nós que Nosso Senhor convoca para evangelizar o mundo inteiro, tenhamos sempre em mente os exemplos dos santos, e especialmente de Santa Teresinha: só poderemos atrair as pessoas a Cristo se nós mesmos permanecermos sempre bem junto Dele.