A educação cristã

A história da educação no Ocidente está estreitamente ligada com a história da Igreja Católica. Desde o fim da Antiguidade, com o declínio de Roma e a desorganização do sistema educacional oficial do Império, a Igreja começou a difundir escolas anexas aos mosteiros e catedrais, algumas delas permanecendo até hoje como as mais antigas em funcionamento no mundo. Na Idade Média, algumas dessas escolas cresceram e deram origem às primeiras universidades, nas grandes cidades europeias. Também aqui nas Américas, a Igreja sempre esteve presente nos esforços educacionais: nossa cidade de São Paulo foi fundada por missionários em torno de um colégio para os índios; e quando, no século XVIII, as autoridades políticas decidiram expulsar os jesuítas do País, o Brasil se viu do dia para a noite privado de quase todos os seus professores… A preocupação da Igreja com a educação dos povos é inegável: mas qual sua motivação para isso?

Para respondermos a essa pergunta, precisamos entender melhor a antropologia cristã: a visão que a Igreja tem sobre o homem, suas capacidades e o sentido de sua existência. O ponto de partida é que, para nós, católicos, o ser humano é a obra-prima de todo o mundo visível, a “única criatura sobre a Terra que Deus quis por si mesma” (Vaticano II, Gaudium et spes 24). Somos criados para uma missão sublime: a de responder amorosamente ao amor com que Deus nos criou e nos salvou, e, assim, chegar a participar da vida da própria Trindade. Para realizarmos essa vocação, Deus nos fez à sua imagem e semelhança – ou seja, além de nosso corpo animal, deu-nos uma alma imortal, dotada da inteligência para conhecer racionalmente o mundo e da liberdade para escolher como nos portamos nele.

Muitas das coisas boas que somos chamados a fazer com nossa liberdade, no entanto, exigem algum tipo de preparação e esforço. Por causa do pecado de nossos primeiros pais, este amor que consiste na autodoação de si mesmo para o outro é algo que não “vem de fábrica”, mas precisa ser desenvolvido.

Todos nós, quando nascemos, temos a tendência de ser egoístas e autocentrados: como a criança que não quer dividir os brinquedos com os amiguinhos, e que precisa ser gradualmente educada pelos pais, para que um dia se torne capaz de dividir as coisas com naturalidade, e frua da alegria de amizades verdadeiras. Aquele amor sublime e sobre-humano que vemos nos santos é, sim, o fruto da graça de Deus, mas a graça não faz violência à natureza: ela vem para reforçar os generosos e repetidos esforços humanos de doar-se mais e de adquirir virtudes.

Consequência disso é que só é verdadeiramente plena e humana a educação que busca formar a pessoa como um todo, para a conquista das virtudes. O verdadeiro mestre e a verdadeira escola não se importam apenas com a nota do aluno no vestibular – mas querem ajudar os jovens a se tornarem honestos, puros, fortes nas adversidades, vivos de espírito, generosos com os mais fracos… numa palavra: virtuosos! Aquele mito do “bom selvagem”, de que nós seres humanos nasceríamos completamente inocentes e puros, sem a necessidade de sermos ensinados e de lutarmos pela virtude, é, justamente, um mito!

Podemos dizer, com toda a justiça, que o mestre que enxerga e desempenha assim sua profissão verdadeiramente ama seus alunos. Para esses mestres, valem as palavras dos Provérbios: “Ensina à criança o caminho que ela deve seguir; mesmo quando envelhecer, dele não há de se afastar” (Pv 22,6). Para os alunos, vale o conselho de São Bento: “Escuta, ó filho, os preceitos do mestre, e inclina a eles o ouvido de teu coração”. Eduquemos, então, nossos jovens para as virtudes, para a vida eterna, para Cristo!

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