As pessoas de mais idade costumam dizer que, algumas décadas atrás, não só havia muito mais jovens que decidiam se tornar padres, como também o próprio sacerdócio gozava de uma maior estima na sociedade. Hoje em dia, em compensação, não é raro se deparar com uma visão bastante equivocada do que são os padres, e do perfil ideal para um jovem que se envereda por este caminho. Na cabeça de algumas pessoas, se um jovem entra no seminário só pode ser porque não conseguiu encontrar uma esposa ou porque não tinha competência para uma carreira de sucesso… “Que desperdício! Esse menino é tão bonito! Aquele outro é tão trabalhador e responsável! Não precisavam ter entrado no seminário…”.
Apesar de se tratar de uma mentalidade profundamente errada, ela contém um elemento de verdade, que consiste na percepção de que cada um de nós só tem uma vida para viver, e por isso essa vida, que é boa e preciosa, não pode ser desperdiçada com qualquer coisa que não esteja à altura de um tão grande tesouro. Que tristeza quando uma pessoa chega ao poente de sua vida e percebe que “errou a mira”, que “perdeu o tempo cometendo loucuras que não lhe deixaram, no fundo, nada de concreto a não ser umas rugas na testa e o medo do tédio”, como cantava Charles Aznavour…
Mas o acerto daquela mentalidade acaba por aí, pois se, por um lado, é correto dizer que a vida tem que ser vivida por uma causa que valha a pena, por outro lado está redondamente enganado quem pensa que o sacerdócio não é uma dessas causas.
É verdade que um jovem competente e esforçado que decide entregar sua vida no sacerdócio faz a entrega total de si: ele não terá o mesmo padrão de vida ou a posição social que poderia ter, e deixará de constituir uma família com esposa e filhos. Mas, se ele renuncia a essas coisas (que são boas!), o faz por algo muito maior: por Deus, para consagrar seu coração inteiramente Àquele que é o único que pode satisfazê-lo. O padre é aquele que reza, ecoando o salmista: “Ao Senhor eu peço apenas uma coisa, e é só isto que eu desejo: habitar no santuário do Senhor por toda a minha vida; saborear a suavidade do Senhor e contemplá-lo no seu templo” (Sl 26,4).
Assim é o jovem que abraça a vocação sacerdotal: ele percebe, com surpresa e gratidão, que Deus o separou desde o ventre materno para estar próximo de Si, para ser um de seus íntimos. Ao mesmo tempo, ele enxerga que esta eleição divina foi completamente gratuita é imerecida: pois ele bem sabe que não é melhor que ninguém – que, no fundo, é um miserável pecador, e que haveria tantos outros que, humanamente falando, teriam mais habilidades para o exercício do sacerdócio. No entanto, ele responde como Samuel, Ecce ego quia vocasti me – “Eis-me aqui, Senhor, pois me chamastes!”.
Foi essa convicção que moveu, por exemplo, o jovem Guido Schäffer, médico formado, de um excelente trato com as pessoas e com uma carreira brilhante à sua frente, a largar tudo para entrar no seminário. Foi esse ímpeto que levou São Luís Gonzaga, herdeiro da Casa de Gonzaga, com centenas de servos e propriedades à sua dis- posição, a renunciar à sua herança e virar um noviço jesuíta, fazendo trabalhos braçais com a mesma batina puída de qualquer um de seus colegas de seminário.
Agradeçamos, então, a Nosso Senhor Jesus Cristo, sumo e eterno sacerdote, por chamar esses nossos irmãos a configurar-se mais intensamente a Si, e rezemos pelos nossos padres, para que renovem sempre sua firme decisão de entregar-se inteiramente para a glória de Deus e a salvação das almas!