No dia 29 de junho, os católicos no mundo inteiro celebram São Pedro e São Paulo Apóstolos – uma solenidade tão importante que a Igreja no Brasil transfere sua celebração para o domingo, de modo a facilitar a presença de todos os fiéis nas celebrações. Tomemos, então, a ocasião para relembrar nossa catequese sobre a Apostolicidade da Igreja, e sua missão de espalhar-se e fazer de todos os povos discípulos seus.
A primeira nota necessária para bem entendermos a natureza da Igreja é sua origem divina: ela não é uma invenção humana, mas resulta de um desígnio específico do próprio Deus. Enquanto ainda caminhava na terra, Cristo chamou Simão, o pescador galileu, e deu-lhe o nome de Pedro, para que sobre esta pedra edificasse a Sua Igreja (cf. Mt 16,13-19). Depois de subir aos Céus, o mesmo Cristo apareceu ao fariseu Saulo de Tarso, a quem havia separado desde o ventre materno, e o chamou por sua graça para ser apóstolo das nações (cf.Gl 1,11-20). Naturalmente, muito do que muito do que nós instintivamente associamos ao catolicismo foi o resultado de desenvolvimentos históricos e escolhas humanas (os paramentos ou as rubricas litúrgicos, por exemplo) – mas o importante é que o núcleo duro da Igreja, enquanto corpo místico de Cristo e continuação da Encarnação ao longo da história, provém diretamente do próprio Deus, e por isso mesmo está além das variações histórico-culturais.
E o mesmo Deus que constituiu a Igreja também a governa, a cada momento de sua história: se, à primeira vista, a prisão e morte de Cristo pelas autoridades de Jerusalém poderia parecer um “erro de percurso”, a verdade mais profunda é que ela foi permitida por Deus como parte de um desígnio maior – tanto que o mesmo Pedro, ao ser preso tempos depois pelas mesmas autoridades, foi milagrosamente resgatado da prisão por um anjo (cf. Tá 12, 1-11; Catecismo, n. 599-600). A lição, aqui, é que, por mais desanimadora possa às vezes parecer a situação da barca de Pedro, ela é sempre protegida pelo Cristo, que não deixará jamais prevalecerem as portas do inferno.
Mas, se foi o próprio Cristo quem escolheu edificar a Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos, e se a cada momento da história Ele vela solícito sobre ela, até o fim dos tempos (cf. Mt 28), com qual a finalidade Ele o faz? Para que serve, afinal, a Igreja?
Como nos relembra o Vaticano II, a Igreja Católica é o sacramento universal de salvação que Deus relegou à humanidade. Um sacramento é algo que não apenas simboliza uma dada realidade, mas também a realiza eficazmente. Ou seja: a Igreja é não apenas o símbolo da união da humanidade inteira com o único Deus – ela é também o canal que faz essa união acontecer. Fazendo-se membro fiel da Igreja, cada um de nós recebe no mais íntimo de seu coração a presença amorosa do próprio Deus Trindade, que já nos dá um aperitivo do que será a felicidade do Céu.
Se Pedro e Paulo foram escolhidos (e foram!), foi para serem testemunhas dessas maravilhas do amor de Deus, e anunciarem-nas ao mundo inteiro. À humanidade que, como o coxo da porta Formosa, implora por uma moedinha de ouro e prata corruptíveis, a Igreja, em cada época, lhe oferece a chance de levantar-se de sua prostação, e caminhar por sendas novas, que jamais estariam em sua imaginação (cf. At 3,1-10).
O que nos resta, então? Temos também nós algum papel, desejado por Deus, dentro desse seu Corpo Místico que é a Igreja? Temos sim, e um papel único, só nosso. Cada um de nós é chamado a ser membro do Povo de Deus – e para isso permanecer na mesma fé que ensinaram os apóstolos, e na mesma Fração do Pão e demais sacramentos que eles nos ensinaram. Que São Pedro e São Paulo intercedam por nós do Céu, para chegarmos um dia à sua companhia feliz!