Mês da Bíblia

Chegamos mais uma vez a setembro, entre nós brasileiros tradicionalmente chamado, já há várias décadas, de “mês da Bíblia”. Como em anos anteriores, gostaríamos de aproveitar desta ocasião para refrescar nossa memória sobre alguns pontos essenciais para tirarmos bons frutos da leitura da Palavra de Deus. Por mais que já juntemos muitos anos de caminhada na Igreja, e já tenhamos certamente ouvido várias vezes essas coisas, é bom trazê-las gravas em nosso coração, para que possamos repeti-las com insistência quando estivermos sentados em nossa casa ou andando pelos caminhos, quando nos deitarmos ou nos levantarmos (cf. Dt 6,4-7).

Por um lado, então, precisamos lembrar que a Bíblia precisa ser lida com fé, isto é, com aquele ponto de vista sobrenatural de quem acredita em Deus e nas coisas que Ele ensinou. É claro que, em um estudo bíblico mais profundo, podem surgir várias indagações legítimas, que merecem a investigação de pessoas capacitadas: como foi o processo de composição desses textos? Quem seriam seus autores humanos? Como é a correspondência entre as narrativas ali contidas e os fatos historicamente ocorridos? Fazer essas perguntas e buscar respondê-las é algo muito bom, e grande parte do esforço dos teólogos, sejam eles padres ou leigos, tem a ver com isto. No entanto, não podemos perder de vista o principal: o grande Autor da Bíblia é Deus, que em sua Providência inspirou os autores humanos, e por isso o grande sentido da mensagem bíblica é a Boa-Nova de amor e salvação que Deus quis nos comunicar. Por isso, quem pretende entender a Bíblia sem conhecer e aceitar essa Revelação divina, tal como conservada e ensinada pela Igreja, é como quem abre a embalagem de um jogo de tabuleiro novo e desconhecido, olha toda aquela multidão de cartinhas e peças coloridas, mas joga fora o manual de instruções, pretendendo que sabe jogar de uma forma melhor que o próprio desenvolvedor do jogo…  Seria loucura, mas muitos fazem assim com este livro sagrado, que nasceu no seio da Igreja e para a Igreja. 

Por outro lado, precisamos sempre ter a peito que a Bíblia é a Palavra viva de Deus! Ela não é apenas o que Deus falou, mas sim o que Deus fala; não apenas sua mensagem para a humanidade, mas sim sua mensagem para mim, para você, aqui e agora! Toda vez que entro no meu quarto e fecho a porta para fazer oração com a Bíblia, preciso me abrir para que ela me questione, me interpele. É claro que posso usar as reflexões feitas por outras pessoas: homilias bem preparadas por sacerdotes piedosos e cultos, livros espirituais escritos pelos santos – tudo isso certamente ajuda a entender a Bíblia. No entanto, há algo ali que Deus quer dizer apenas para mim, não para aquele pregador – e por isso eu preciso ler com atenção, com aquela mesma atenção que os olhos do criado têm às mãos do seu Senhor, para acorrer ao menor gesto seu (cf. Sl 123,1-2). Pensemos que, a cada dia, Deus utiliza a Bíblia para nos passar um pequeno “recadinho”, como aquela mãe que coloca na lancheira do filho, junto com o sanduíche e o suquinho, também um bilhetinho carinhoso.

Por fim, além da visão sobrenatural que lê a Bíblia à luz do ensinamento que Deus confiou à Igreja, e além da confiança filial com que buscamos ouvir o que Deus nos pede a cada dia, precisamos nos abrir à ação do Espírito Santo, para nos revelar o sentido do que lemos. Como dizia São João Crisóstomo, a Escritura “tem necessidade da revelação do Espírito, a fim de que, descobrindo o verdadeiro sentido as coisas que nela se encerram, disso mesmo tiremos abundante proveito”.

Leiamos, então, a Bíblia, neste mês e em todos os meses do ano, para que cresçamos sempre mais na intimidade e no amor a esse Deus que nos é tão bom!

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