A Igreja inicia neste domingo o tempo litúrgico do Advento, em que todos os fiéis se preparam com fé para a vinda de Cristo. Durante as próximas quatro semanas, recordaremos de forma muito especial que nós não fomos feitos somente para este mundo, mas principalmente para habitarmos eternamente no “Reino que não terá fim”. Assim, simbolizado pela cor roxa, será um momento para buscar uma verdadeira conversão do coração, fazendo penitências, intensificando nossas orações e vivendo, de fato, como católicos que sabem que tudo debaixo do céu é passageiro e deve ser ordenado para Deus.
Em linhas gerais, pode-se dizer que o Advento se divide em dois intervalos diferentes. O primeiro deles é o intervalo focado na Parusia, ou seja, a vinda de Cristo Juiz. É entendida também como a Vinda da Justiça, em que Jesus aparecerá no fim do mundo cheio de Majestade e glória como juiz e supremo remunerador dos homens. Na sequência, conforme se aproxima do Natal, tem-se a preparação para a Vinda da Misericórdia, momento em que a Igreja se volta para o mistério da Encarnação pela qual Nosso Senhor desceu à terra na humilde condição de homem.
São Gregório Magno, entretanto, recorda que ambas as Vindas estão intrinsecamente unidas: “Se o Filho de Deus desceu até nós fazendo-se homem, foi para nos elevar até Deus, introduzindo-nos no seu Reino eterno. E a sentença que o Filho do Homem, a quem todo o poder foi dado, proferirá quando vier pela segunda vez a este mundo, dependerá da maneira como os homens O tiverem acolhido na primeira vinda” (Homiliæ in Evangelia, Livro I, Homilia 1). Por isso, Nosso Senhor avisa: “Porque quem se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na Sua majestade, e na de Seu Pai e dos santos anjos” (Lc 9,26).
Meditando essas duas realidades propostas por este tempo litúrgico, abre-se um chamado e um consolo na vida de toda a Igreja. O chamado é claro: precisamos e é urgente acolhermos Deus em nossas vidas, vivendo santamente todos os nossos dias. Essa é, sem dúvida, uma vocação desafiadora. Ao contemplá-la, muitos desanimam e desistem de persegui-la, julgando não serem capazes de correspondê-la. Contudo, isso só ocorre pois ignoram justamente o consolo do Advento – Deus se encarnou por nós! Sabendo de nossas misérias, não mediu esforços para assumir nossas pobrezas, limitações e sofrimentos e nos dar todas as graças necessárias para que alcancemos plena comunhão consigo.
Tenhamos, portanto, plena confiança Naquele que tanto fez por nós! Tendo Nosso Senhor se encarnado justamente para nos dar a salvação na cruz, jamais se recusaria a auxiliar de todas as formas possíveis os fiéis que recorrem a Ele. Em uma de suas cartas, Santa Teresinha elabora perfeitamente como devemos pensar: “É a confiança, e nada mais que a confiança, que nos deve levar ao Amor” (Carta 197). O Papa Leão XIV, em vigília realizada neste ano, também afirmou: “Nos momentos de escuridão, mesmo contra todas as evidências, Deus não nos deixa sozinhos; pelo contrário, é precisamente nestas circunstâncias que, mais do que nunca, somos chamados a pôr a nossa esperança na proximidade do Salvador que jamais nos abandona”.
Assim, inspirados pelo mistério do Natal, que também nós depositemos toda a nossa vida em Deus enquanto aguardamos ansiosamente por sua vinda gloriosa. Que durante nossa passagem terrestre, possamos sempre repetir como o Salmista: “A nossa alma espera o Senhor: Ele é nosso amparo e nosso escudo. Nele, pois, se alegra o nosso coração, e no Seu santo nome confiamos” (Sl 32,20.21), para, enfim, desfrutarmos do Reino onde “não teremos mais fome nem sede, nem cairá sobre nós o sol nem calor algum, porque o Cordeiro, que está no meio do trono, nos apascentará e nos levará às fontes das águas da vida; e Deus enxugará toda a lágrima de nossos olhos.” (Ap 7,16.17).





