Qualquer um que observar um pouco a nossa sociedade brasileira não deixará de perceber que os conflitos e divisões vão se tornando cada vez mais frequentes: dos já corriqueiros episódios de violência física e falta de segurança pública, passando pelas rixas políticas que transformam antigos amigos em desafetos e pelos atritos e desrespeitos mútuos entre instituições públicas, chegando até a discórdias ideológicas no próprio seio das nossas famílias – parece que, cada vez mais, o único ponto em que conseguimos concordar é que tem havido cada vez menos paz entre nós.
Mas qual o motivo para um tal esfacelamento do tecido social? Sem dúvida que poderiam ser identificados vários tipos de influências: econômicas, ideológicas, culturais, mas, por trás de todas elas, podemos afirmar, com segurança, que existe uma progressiva expulsão de Cristo do meio da sociedade e dos corações. O homem moderno, já há muitas décadas, decidiu apostar sua felicidade neste mundo: tanto o socialismo quanto os excessos de um capitalismo sem limites fazem consistir o sentido da vida humana no bem-estar mundano, material. Aplicamos todas as nossas energias na busca voraz por cada vez mais conforto e bem-estar, e deixamos de nos preocupar com o progresso moral e o cultivo do espírito. Nossos aparelhos se tornam cada vez mais “inteligentes” – temos smart TVs, celulares, relógios, assistentes pessoais e todo tipo de bugiganga –, mas nos trazem cada vez menos satisfação e verdadeira alegria. “Os antigos julgavam que o mundo girava à volta da Terra e, apesar disso, viviam como se esta Terra não tivesse uma importância decisiva em suas vidas. Hoje todos sabemos que a Terra não é o centro do universo e, contudo, vivemos como se todas as nossas esperanças dependessem delas” (Thamer Toth, Jesus Cristo Rei).
Em certo sentido, nossa época lembra um pouco o crepúsculo do Império Romano, em que aquela grandiosa civilização, outrora pujante, bambeava e ameaçava ruir em seus fundamentos, pelo crescente cinismo e rejeição dos valores tradicionais. Muito antes da efetiva queda de Roma ante os bárbaros, os homens mais sábios, como um Santo Agostinho, entreviam a ruína iminente – e indicavam a saída: “‘Os tempos estão ruins, estão cheios de problemas!’ – dizem os homens. Ora, passemos nós a viver bem, e os tempos serão bons. Nós somos os tempos: da forma com que nós vivermos, assim serão os tempos” (Sermão 80,8). A saída para estas nossas crises sociais – no Brasil e em todo o Ocidente – não é outra, portanto, senão a santidade pessoal.
Esforcemo-nos, então, para sermos os santos de que tanto precisamos: santos pais e mães de família, santos professores e médicos, santos políticos e sacerdotes, santos trabalhadores e empreendedores, santos formadores de opinião e influenciadores que empenhem sua vida e sua honra para defender a vida, desde seu início até seu fim natural, que promovam a honestidade na vida pública e privada, que lutem pela dignidade humana e contra todo tipo de miséria, material como espiritual. Deus quer um punhado de homens e mulheres “seus” em cada atividade humana – e então, Pax Christi in regno Christi, “a paz de Cristo no reino de Cristo”.
O conteúdo do editorial é excelente. Só gostaria de comentar duas pequenas coisas. No título, o verbo “precisar” rege a preposição “de”, de modo que o título do artigo deveria ser “Do que o Brasil precisa”. De fato, no último parágrafo foi feita corretamente a regência com o mesmo verbo. Em segundo lugar, a última frase do texto é de São Josemaria Escrivá, e é preciso indicar a autoria nestes casos para evitar o plágio, e também pode servir para dar a conhecer este santo.