No dia 29 de novembro, nossa cidade de São Paulo foi às urnas no 2º turno das eleições municipais – contudo, além da escolha do prefeito, chamou atenção o recorde de abstenções: mais de 30% do total de eleitores não apareceram para votar.
É claro que uma parte desse índice pode ser atribuída ao contexto em que vivemos, e ao desejo que alguns têm de evitar, a qualquer custo, lugares com grande afluxo de pessoas. Não seria razoável, porém, apontar a pandemia como a única causa para o fenômeno; pelo contrário, parece ser visível na população um certo desânimo para com a participação política. Basta pensar, por exemplo, que neste 2º turno o candidato que ficou em 2º lugar, Guilherme Boulos (PSOL), recebeu 2,1 milhões de votos – menos que os 2,7 milhões de eleitores que não compareceram às urnas.
Para nós, cristãos, no entanto, “a política é uma das mais altas formas de caridade, porque busca o bem comum”, como costuma dizer o Papa Francisco. Mesmo que nenhum dos candidatos e partidos em disputa nos seja muito agradável, ainda assim o nosso voto tem um peso enorme no processo político, que não deveria ser desprezado.
De fato, o Cristianismo não pode ser entendido como algo unicamente espiritual, próprio de beatos que não se misturam com as coisas “ordinárias” deste mundo. Se o homem é, por natureza, um ser que vive em comunidade e, portanto, um ser político, então a política – arte que busca ordenar este convívio social ao bem comum – não é, em si, algo sujo ou que deve ser “tolerado” a contragosto. A Doutrina da Igreja nos ensina que cabe aos fiéis “intervir diretamente na construção política e na organização da vida social” (Catecismo da Igreja Católica, 2442).
E, se a mera escolha entre dois candidatos pode parecer pouco eficaz, cabe lembrar que a participação na política não se limita ao dia da eleição. Quantos de nós, por exemplo, acompanham a atuação de seus vereadores ou deputados e contatam seu gabinete para cobrar tal ou qual atitude frente a uma discussão legislativa? Além de confirmar o voto no dia da eleição, precisamos “descobrir, inventar [outros] meios para impregnar as realidades sociais, políticas e econômicas com as exigências da doutrina e da vida cristãs” (Catecismo, 899).
Aqui precisamos advertir que seria um exagero pretender que exista uma única solução “católica” para um dado problema político. A imensa maioria das questões políticas é opinável – isto é, admite diferença de julgamento entre duas pessoas instruídas e de boa vontade: “A ação social pode implicar uma pluralidade de caminhos concretos” (Catecismo, 2442).
Esta grande liberdade de consciência que nossa religião nos reconhece não significa, no entanto, que toda e qualquer posição seja aceitável. A política, para um cristão, “terá sempre em vista o bem comum e se conformará com a mensagem evangélica e com a Doutrina da Igreja” (Catecismo, 2442). Nenhum candidato, político, funcionário público ou cidadão pode invocar a laicidade do Estado para atentar contra as verdades fundamentais da lei moral e divina – por exemplo, para negar a um ser humano seus direitos fundamentais.
“Nós não podemos fazer como Pilatos e lavar as mãos, não podemos: temos de nos meter na política”, costuma dizer o Papa. Aceitemos, pois, o chamado do Pontífice, e encontremos, cada um a seu modo, uma forma de trabalhar concretamente para o bem comum.