No próximo sábado, 2, celebraremos a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos – e em nosso País ainda são muitos os que mantêm a bela tradição de, nesse dia, visitar o cemitério e honrar a memória de seus entes queridos. No entanto, que pena seria se esse nosso carinho parasse por aí, em uma atitude meramente humana! Muito melhor seria, para nós e para nossos parentes falecidos, que, por meio de nossa fé viva e amor atuante, lhes trouxéssemos alívio e os ajudássemos a chegar mais depressa ao Céu. Para isso, é bom relembrarmos alguns pontos essenciais da nossa catequese sobre a Morte, o Juízo e o Purgatório.
Segundo a doutrina que recebeu de Jesus Cristo, a Igreja ensina que cada pessoa será julgada por Deus no instante exato de sua morte: é o que chamamos de juízo particular. Conforme a vida que tiver levado e a correspondência aos convites que Deus lhe tiver feito, cada um receberá uma sentença eterna: ou de salvação ou de condenação.
No entanto, mesmo entre aquelas pessoas que são salvas, nem todas vão direto para o Céu – pelo contrário, quando a pessoa morreu na amizade de Cristo, mas não se limpou – por meio das boas obras, orações e penitências – das desordens e do egoísmo que seus pecados causaram em sua alma, ela precisa passar por uma purificação antes ser recebida no Céu, pois ninguém adentra o Banquete do Rei sem as vestes nupciais (cf. Mt 22,11-13). Essa purificação é o que nós chamamos de Purgatório – e é por essas almas que nós rezamos no Dia dos Fiéis Defuntos.
Com isso, já entendemos um primeiro ponto importante: as almas que estão no Purgatório não estão em um estado de “indecisão”, como se ainda não soubessem se foram salvas ou condenadas. Se rezamos pelas almas do Purgatório, não é “para que sejam salvas”, mas sim “para que cheguem mais rápido ao Céu”!
Em segundo lugar, é bom entender: por que desejamos acelerar a permanência delas no Purgatório? Porque as almas que lá se encontram, embora estejam extremamente felizes por saberem que sua salvação está garantida, passam por grandes sofrimentos: “O Senhor olha-nos cheio de amor e nós sentimos uma ardente vergonha e um doloroso arrependimento pelo nosso comportamento mau ou ‘simplesmente’ insensível” (Youcat, n.159). O sofrimento do Purgatório é comparável à dor que um filho sente, quando finalmente cai em si e enxerga os danos que, com suas rebeldias, causou a seus pais que tanto o amam. É uma dor que cura: cura do egoísmo, do olhar autocentrado, do pensar somente em si. Mas continua sendo dor.
E, em terceiro lugar: como e por que nós podemos ajudar essas almas a passar mais depressa pelo Purgatório? O grande motivo pelo qual podemos fazer isso é a Comunhão dos Santos: o fato de que, sendo todos membros do único Corpo de Cristo que é a Igreja, cada uma de nossas boas obras ajuda, de uma forma mística, mas muito real, os nossos irmãos. E aqui cabem todos os atos de carinho que um coração generoso puder imaginar: podemos oferecer pela alma de nossos entes queridos as esmolas que dermos, pequenas renúncias a prazeres lícitos, orações… Mas a maior das caridades que podemos fazer pelos finados é a própria Santa Missa, o sacrifício de amor que o próprio Jesus Cristo ofereceu ao Pai. As gravuras antigas representavam a Santa Missa assim: cada vez que a hóstia era consagrada, os anjos recolhiam o Sangue e a Água do lado de Cristo, e davam de beber às almas sedentas do Purgatório.
Vivamos, então, este Finados como um verdadeiro feriado religioso: rezando pelas almas dos que já foram, e meditando, também, sobre a fugacidade dessa nossa vida, que logo acabará e nos fará comparecer ante o Juízo de Deus, que é ao mesmo tempo todo justo e todo misericordioso.