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‘Quando os pobres nos revelam a esperança’ 

A cada ano, ao celebrarmos o Dia Mundial dos Pobres, no 33º Domingo do Tempo Comum, somos convocados a entrar em um lugar inquietante – não de bem-estar confortável, mas de encontro com quem ama, sofre, espera, pois os pobres não são apenas destinatários de nossa ajuda, mas interlocutores vivos do Evangelho. Nesse horizonte, as cartas dos Papas Francisco e Leão XIV para esta data nos ajudam a clarear três convites essenciais. 

O Papa Francisco recorda que “nenhum excluído permaneça fora do nosso coração”: em um mundo em que as desigualdades se aprofundam, em que a pobreza se oculta em becos ou nas margens invisíveis, há o risco de olharmos sem ver, passarmos sem tocar. 

O Papa Leão XIV lembra que o pobre – que não dispõe de seguranças, bens, poder – pode ser “testemunha de uma esperança forte e confiável” precisamente porque a sua esperança está fincada em outro lugar. 

Assim, o primeiro convite é este: olhar, não desviar o rosto, estar presente, porque no olhar que reconhece o outro, começamos a desconstruir o anonimato e a indiferença. 

Há uma contradição que choca: esperarmos que o pobre nos ensine algo sobre esperança? Sim – e é isso que o Papa Leão XIV destaca. Quando tudo parece falhar – bens, status, seguranças – emerge uma esperança que não decepciona (cf. Rm 5,5), ou seja, Deus mesmo. 

O Papa Francisco também insiste: a pobreza não é apenas ausência de bens, mas pode ser “boa-nova” para a Igreja – um convite a redescobrir o essencial. 

Portanto, nosso segundo convite: deixar-nos evangelizar pela esperança que nasce na vulnerabilidade, porque talvez só quem nada tem, de fato, se abre ao Todo. 

Não basta compadecer-se; é preciso agir. O Papa Francisco chamou a atenção para que pequenos gestos – uma refeição, um acolhimento, uma visita – se tornem sinais de esperança. 

O Papa Leão XIV vai além e sustenta que todas as formas de pobreza – “sem excluir nenhuma” – exigem que a fé seja traduzida em vida, em comunidade, converta as estruturas sociais e políticas. Ele afirma que o pobre é um irmão a ser amado. Então, o terceiro convite: não queremos apenas “fazer pelos pobres”, mas caminhar com os pobres – promovendo justiça, dignidade, esperança real. 

Ao recordar o Dia Mundial dos Pobres, somos chamados a renovar a convicção de que a Igreja cresce, não na grandiosidade das estruturas ou nas luzes do espetáculo, mas na proximidade, no humilde gesto, no olhar cúmplice. Como o Papa Leão XIV sintetiza: a pobreza não pode roubar à pessoa a virtude da esperança. 

E como o Papa Francisco repetiu tantas vezes, não podemos esquecer os pobres porque, na verdade, é Cristo que nos visita por meio deles. 

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