Ele está no meio de nós!

A ressurreição de Jesus, proclamada e celebrada na Páscoa, é uma verdade central da fé que recebemos da Igreja e professamos com ela. Tão importante, que São Paulo chega a afirmar: “Se Jesus não ressuscitou, então é vazia a nossa fé e nós somos falsas testemunhas de Deus, afirmando que Ele o ressuscitou” (cf. 1Cor 15,13-15). Mas os apóstolos e as testemunhas que estiveram com Jesus após a sua morte afirmam essa verdade com vigor e destemor, mesmo diante das ameaças de prisão e de martírio (cf. At 2,24.32; 4,10; 5,20).

O que significa afirmar que Jesus ressuscitou dentre os mortos, ou que Deus O ressuscitou dentre os mortos? Significa que, após a Sua morte incontestável na cruz e Seu sepultamento, o corpo de Jesus não permaneceu no túmulo nem retornou ao pó da morte, mas passou da morte para a vida. Jesus está vivo novamente; porém, não mais nas condições da vida neste mundo, mas glorificado e vivificado pelo Espírito de Deus. Os apóstolos, inicialmente, assustaram-se ao verem Jesus ressuscitado e até pensavam que era um fantasma ou uma ilusão e fantasia (cf. Lc 24,36-43; Mc16,14).

O que os assustou tanto foi o fato de Jesus, que havia estado morto com certeza, estar vivo novamente diante deles; e, também, o fato de O verem, não mais na Sua humanidade massacrada pelas torturas e pelo peso da morte, mas glorificado e transfigurado. Eles se tranquilizaram quando Jesus lhes dirigiu a palavra e lhes falou familiarmente. Eles o reconheceram pela palavra e pelos gestos que fez diante deles. Mas não é somente isso.

Eles compreenderam que a ressurreição de Jesus não era apenas um benefício para o próprio Jesus, mas era um evento salvador e revelador do desígnio de Deus para a humanidade e o mundo inteiro. Na ressurreição de Jesus, Deus interveio para manifestar algo grandioso. A liturgia da Páscoa o diz de várias maneiras: “Morrendo, Ele destruiu a morte e, ressuscitando, restaurou a vida” (Prefácio). A ressurreição de Jesus é a vitória de Deus sobre o pecado e a morte; a morte não é mais forte que Deus, nem tem a última palavra sobre a existência humana. Seu domínio foi quebrado e todos os que se aproximam de Jesus Cristo ressuscitado também podem ter a certeza de que superarão a morte e viverão para sempre com Ele. Pela ressurreição de Jesus, Deus mostra que seu desígnio para o homem é a participação na plenitude da sua vida.

Na celebração da Páscoa, portanto, anunciamos que, em Jesus ressuscitado, Deus nos dá uma amostra daquilo que preparou para todos nós. Jesus Cristo, em seu corpo humano ressuscitado e glorificado, é “o primeiro dentre os mortos” a ressuscitar (cf. Cl 1,18; Ap 1,5); alguém da nossa humanidade já está na glória de Deus. São Paulo o diz muito bem: “Se com Cristo vivemos, com Ele ressuscitaremos” (cf. Cl 2,12; Ef 2,12). Ele é a cabeça do corpo, que é a Igreja, e age e espera que os membros do Seu corpo também sejam unidos à cabeça do corpo (cf. Rm 12,5; Fp 3,21). O corpo de Cristo já não está mais morto, mas vivificado pelo Espírito de Deus.

A morte de Jesus significou a dispersão dos discípulos, que se viram sem Ele e se sentiram separados Dele. Em seu coração reinava decepção e desânimo, a tal ponto que cada um tratou de voltar às suas antigas ocupações. Os dois discípulos de Emaús são um bom exemplo disso (cf. Lc 24,13-35); mas também Pedro e outros discípulos. Após a morte de Jesus, Pedro diz: “Eu vou pescar”. E os demais também disseram: “Nós também vamos contigo” (cf. Jo 21,3). E retornaram à Galileia, para o lago de Tiberíades, onde tudo havia iniciado. A morte de Jesus os havia deixado novamente sem chão e sem rumo; cada um, com o coração amargurado, voltou a tocar a vida sem contar com a presença de Jesus e seu Evangelho.

Quando Jesus lhes apareceu, vivo e transfigurado, renasceram a esperança e o entusiasmo por Ele e pelo Evangelho. Sem Ele, a humanidade teria continuado a buscar o seu rumo contando apenas com o frágil lúmen da razão. Com Jesus, novamente vivo, reacendeu-se a chama viva da fé e da esperança e a luz brilhou sobre seu caminho. E eles passaram a contar definitivamente com sua presença e com a ação do Espírito Santo. Tinham a certeza de que Jesus apontava para o rumo certo com seus ensinamentos e que, na sua morte e ressurreição, Deus havia agido e mostrado ao mundo algo infinitamente grandioso e precioso. Eles estavam certos das palavras de Jesus: “Não vos deixarei órfãos. Estarei sempre convosco” (cf. Mt 28,20; Mc 16,20).

Onde está Jesus ressuscitado hoje? Na nossa profissão de fé, afirmamos que Ele “ressuscitou dentre os mortos, subiu ao céu, está à direita de Deus Pai, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Isso traz, em síntese, a resposta da fé da Igreja à pergunta feita. Mas Jesus ressuscitado também permanece com sua Igreja e com a humanidade, de múltiplas formas: na comunidade de fé reunida em seu nome; na Eucaristia, celebrada em sua memória; na Palavra do Evangelho, que a Igreja anuncia por seu mandato; em todo ser humano, de quem Ele assumiu a carne e a semelhança. Está especialmente presente nos pobres, enfermos, desprezados e toda pessoa que sofre; e em cada cristão, que O acolhe com fé, humildade e amor. Jesus ressuscitado não é uma lembrança do passado; não é uma fantasia ou uma bela ideia; não é uma estátua ou obra de arte que o retrata. Ele é o Filho de Deus, que se fez humano, está vivo no meio de nós.

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