A paciência de Deus

Com a parábola do semeador, Jesus explica como se passam as coisas no Reino dos Céus (cf. Mt 13). O Divino Semeador lança generosamente a boa semente no campo. Os terrenos, porém, acolhem a semente em condições diversas, de maneira que o fruto não será o mesmo em todos aqueles que a receberam.

Deus não deixa de oferecer a mesma chance de salvação e vida a todos, e ninguém deverá culpá-lo por não ter tido oportunidades para fazer o bem durante a vida. O Divino Semeador espera que todos sejamos terreno bom, de maneira que a semente possa render o fruto esperado. Deus nos valoriza, como colaboradores livres e responsáveis na sua obra.

Deus não desiste de nos oferecer suas graças, mesmo sabendo que não as aproveitamos e nem sempre correspondemos à sua generosidade. Mesmo sabendo que muita semente se perde, Ele não deixa de semear com largueza. Deveríamos estar bem atentos para não frustrar a expectativa de Deus a nosso respeito.

No mesmo contexto da parábola do semeador, no Evangelho de São Mateus, aparece a parábola do Reino de Deus parecido com um campo semeado apenas com semente boa, mas onde apareceu também a erva ruim, ameaçando sufocar o trigo (cf. Mt 13,24-30). Os empregados do dono do campo se perguntam: “Como assim? O campo não foi semeado só com semente boa? Como se explica que também tenha aparecido a erva ruim no meio do trigo?” E Jesus, que lança a boa semente do Evangelho do Reino de Deus no campo dos corações humanos, responde: “Foi o inimigo”. Durante a noite, ele foi lá e espalhou a semente de planta ruim no meio do trigo.

A pergunta feita tantas vezes sobre a origem do mal não tem outra resposta: vem do inimigo, que introduz a semente da planta ruim no terreno que Deus cultiva com sementes do bem. Como aparecem problemas de corrupção no meio de gente honesta? Como aparecem as plantas do ódio, espinheiros de intrigas e calúnias, de violência, vícios e imoralidades nos ambientes onde deveriam florescer apenas virtudes e obras boas? Como se explica que também apareçam “ervas ruins” nos ambientes da Igreja, em contraste com tudo o que ela prega? É ela mesma corrupta e induz à maldade? Por certo não, e a resposta de Jesus é curta e direta: obra do inimigo! É ele quem semeia essas coisas que não prestam no bom campo de Deus. E o faz “de noite”, às escondidas, de maneira insidiosa, induzindo as pessoas ao erro, como fez com os nossos primeiros pais, no paraíso terrestre.

A parábola do joio e do trigo tem mais alguns ensinamentos. Os empregados do dono do campo querem arrancar logo a erva ruim, para deixar no campo somente o trigo. O patrão, porém, cultivador sábio e paciente, responde: “Ainda não, para não acabar arrancando também o trigo. Deixemos que trigo e joio cresçam juntos e, quando chegar a colheita, então sim: a erva ruim será arrancada e jogada ao fogo e o trigo será recolhido no celeiro”. O paciente cultivador espera que o trigo mostre firmeza e perseverança e produza seu fruto, apesar da concorrência do joio.

Com essa parábola, Jesus ensina que Deus espera a nossa constância no bem, a não nos deixarmos abater e desanimar por causa das dificuldades na vivência da fé e no seguimento de Jesus, apesar das condições adversas que os discípulos de Jesus devem enfrentar. Trigo que é trigo precisa mostrar qualidade de virtude e corresponder às esperanças do Divino Semeador. Não lhe faltarão as graças de Deus para isso.

E por qual motivo o Divino Semeador é tão paciente e até condescendente com o joio? Este não está ameaçando sufocar o bom trigo? Acontece que a parábola não se refere ao joio propriamente dito, mas à humanidade, verdadeiro campo de Deus. Nas pessoas há sempre joio misturado ao trigo, onde mais, onde menos. E Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. Espera que o joio se converta em trigo, com o passar do tempo. Nós é que temos pressa para fazer o julgamento e condenar. Deus não tem pressa de condenar ninguém. Da mesma forma, porém, é seguro que o dia do julgamento chegará e, então sim, trigo e joio serão irremediavelmente separados.

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