Com tantas religiões à procura de adeptos, é o caso de se perguntar: qual é a religião verdadeira? Como deve ser praticada a verdadeira religiosidade? Esta questão é posta pela Liturgia da Palavra do 22o Domingo do Tempo Comum, celebrado no dia 29 de agosto passado. Na reflexão que segue, não pretendo fazer a comparação entre as religiões, mas falar da nossa, do Cristianismo Católico, e das nossas atitudes religiosas.
Jesus é interpelado por fariseus e mestres da Lei sobre o motivo da não observância, pelos discípulos, das normas de pureza ritual que todos deviam observar (cf. Mc 7,1-23). De fato, os apóstolos comiam “com as mãos impuras”, isto é, sem fazer as abluções prescritas. Jesus chama seus interlocutores de hipócritas, ou seja, de falsos, pois estão preocupados com as regras de pureza ritual e com costumes herdados da cultura, ao longo do tempo, mas desprezam o mandamento de Deus. Eles reduziam, com frequência, o cumprimento da religião à observância formal e exterior de normas rituais e costumes culturais, mas não se preocupavam com o principal: a obediência a Deus, a humildade e a misericórdia. Jesus lhes aplica uma advertência dura do profeta Isaías: “Esse povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim” (cf. Is 29,13).
A primeira leitura desse domingo traz outro aspecto da mesma questão: em que consiste a religião verdadeira? Após explicar ao povo os mandamentos da Lei de Deus, Moisés exorta todos a observarem os mandamentos e a se sentirem felizes porque Deus está tão próximo, a ponto de lhes mostrar sua vontade e manifestar seus caminhos. A observância dos mandamentos da Lei de Deus é fonte de sabedoria, integridade moral e respeitabilidade para o povo.
No salmo responsorial, a questão da verdadeira religiosidade aparece com mais um enfoque: quem poderá se aproximar de Deus e entrar em sua casa? A verdadeira prática da religião é orientada pelo desejo de chegar a Deus, de estar em sua companhia e de receber os seus favores. Quem é digno disso? É quem caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente, busca a verdade e vive em conformidade com ela; quem não calunia nem prejudica seu irmão, quem vive retamente e não se deixa corromper (cf. Sl 14/15,2s). Pode aproximar-se de Deus quem trata bem os irmãos, que também são filhos de Deus.
Enfim, na Carta de São Tiago (2a leitura) aparece claramente a referência à “religião pura e sem mancha”, que leva a assumir as dores e aflições dos outros e a não se deixar corromper pelo mundo, que se opõe a Deus. O Apóstolo também exorta a acolher com fé e reverência a palavra de Deus, força de salvação para aquele que crê e a coloca em prática (cf. Tg 1,17-27). A sensibilidade e a caridade efetiva diante das dores e aflições do próximo são partes da verdadeira religião. Amor a Deus e ao próximo são inseparáveis.
Nessas breves referências, temos alguns aspectos fundamentais da verdadeira religiosidade: ela não deve ser feita apenas de observâncias formais e externas, mas ser animada pela busca da verdadeira conversão de vida e sintonia com Deus. Sem isso, uma religiosidade de aparências e sem verdadeira humildade significa hipocrisia e não agrada a Deus. A humildade sincera e o santo respeito de Deus também são posturas do homem de fé. A primeira atitude da verdadeira religiosidade é o reconhecimento sincero de que só Deus é Deus, e que nós não somos deuses, mas criaturas. Querer “negociar” com Deus em pé de igualdade é pretensão soberba, que ofende a Deus.
A religiosidade verdadeira também se traduz na escuta sincera de Deus, para conhecer sua vontade e seus caminhos, que se traduzem nos mandamentos. Não é verdadeira a religiosidade que não se expressa na obediência a Deus e na busca constante de viver conforme sua vontade. A tentação de “usar Deus”, conforme nossos desejos e caprichos, pode ser grande. Nesse caso, a vivência religiosa não está voltada para Deus, mas para nós mesmos e para a satisfação de nossos desejos e projetos pessoais. Nada mais errado do que a pretensão de “comprar” os favores de Deus!
No Evangelho desse domingo, Jesus também adverte que é preciso purificar as intenções e o coração, para viver retamente a vida moral. O coração cheio de podridão e toda sorte de maldade, mesmo mantendo exteriormente uma aparência fingida de religiosidade, decididamente, não agrada a Deus (cf. Mc 7,21-23).