Aonde aponta a Assembleia Eclesial?

A Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe foi concluída no domingo, dia 28 de novembro, na basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, na Cidade do México, onde havia sido aberta uma semana antes. Mais de mil delegados participaram da assembleia, a grande maioria deles de maneira remota, pela internet. Apenas um pequeno grupo, formado sobretudo por pessoas responsáveis pela organização e animação do evento, participou presencialmente, na sede da Conferência Episcopal do México.

Muitas impressões cada participante poderia compartilhar; tentarei fazê-lo nos limites deste artigo. A realização da Assembleia foi um ato de coragem e até de ousadia, vistas as muitas dificuldades para promover um evento dessas dimensões em tempos de pandemia e com as características próprias dessa Assembleia, que não foi apenas episcopal, mas “eclesial”, com a participação de leigos, religiosos, diáconos, presbíteros e bispos, além de convidados especiais. Os participantes eram de todos os países do continente, inclusive dos Estados Unidos e Canadá, trazendo grandes diferenças de cultura e mentalidade. Impressionante é pensar que, com tanta variedade, foi possível sentar juntos, refletir, compartilhar, propor, discernir. Fato novo e promissor foi fazer isso, sobretudo, remotamente.

A Assembleia mostrou que temos muito em comum, apesar de nossas diferenças. Sobretudo, temos como base o mesmo Evangelho, a mesma fé, a mesma Igreja, verdadeira família que une a todos e suscita uma presença criativa em cada povo e país, conforme situações particulares enfrentadas. A Igreja em nosso continente é muito rica em vitalidade eclesial e experiências autênticas de vida cristã. Temos muitos problemas a enfrentar no cumprimento de nossa missão. Foi bonito perceber que podemos conversar juntos, discernir e buscar juntos. Fizemos uma bela e verdadeira experiência de Igreja sinodal.

Várias vezes, fui perguntado sobre os frutos e sobre o que se pode esperar de concreto dessa Assembleia Eclesial. É compreensível que nos perguntemos sobre os objetivos das iniciativas pessoais e comunitárias. No entanto, os frutos nem sempre aparecem imediatamente, quando se trata de iniciativas e ações humanas. A Assembleia foi, mais que tudo, uma experiência vivida juntos, cuja memória se leva no coração e que desencadeará novas iniciativas. É como uma semeadura, cujos frutos devem ser esperados pacientemente. Temos as indicações conclusivas da Assembleia, que agora precisam ser levadas à prática. Mas, com certeza, foi uma semeadura rica, cheia de esperança para o futuro da Igreja.

O Papa Francisco havia recomendado que a Assembleia fizesse uma avaliação dos frutos da Conferência de Aparecida, 14 anos depois de sua realização, em maio de 2007. Pediu também que se verificassem as lacunas na aplicação das ricas orientações do Documento de Aparecida e se fizesse um discernimento sobre as novas questões que desafiam a vida e a missão da Igreja em nosso continente. Isso foi feito do início ao fim da Assembleia e tomou-se consciência de que resta muito a fazer. Sobretudo, chegou-se à conclusão de que a questão central, posta na Conferência de Aparecida, precisa ser retomada. Ela diz respeito ao renovado encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo. Essa questão central no Documento de Aparecida permanece atual e urgente em nossos dias. Nos parágrafos 10-12 do Documento, encontram-se algumas chamadas que podem ser consideradas como o foco central de todo o Documento: “Esta Conferência se propõe à grande tarefa de cuidar e alimentar a fé do povo de Deus e de recordar também aos fiéis deste continente que, em virtude de seu Batismo, são chamados a ser discípulos e missionários de Jesus Cristo” (nº 10). A fé é o maior tesouro da Igreja e a missão mantém a Igreja viva e atuante.

Sobre a urgência da missão, o Documento diz: “A Igreja está chamada a repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais. Ela não pode se resignar diante de quem só vê confusão, perigos e ameaças, ou diante de quem pretende encobrir a variedade e a complexidade de situações com uma capa de ideologismos radicais, ou de agressões irresponsáveis. Trata- se de confirmar, renovar e revitalizar a novidade do Evangelho, arraigada em nossa história, a partir de um encontro renovado com Jesus Cristo” (n° 11).

A Assembleia Eclesial nos remeteu ao centro da vida cristã e da missão da Igreja. E isso precisa ser buscado de maneira sinodal, todos juntos, em comunhão, participação e missão.

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