Vivemos mais uma Semana Santa e Páscoa em meio à pandemia de COVID-19, com dezenas de milhares de novos doentes a cada dia e milhares de falecidos, vítimas do coronavírus. Mais de um ano após o início da pandemia, encontramo-nos no seu momento mais grave. Quem poderia ter imaginado isso?
As celebrações da “semana maior” do ano na Liturgia da Igreja tiveram de ser realizadas sem a participação presencial de povo. Ainda bem que já aprendemos a lidar, minimamente, com as mídias sociais e, assim, as celebrações puderam ser transmitidas e muitas pessoas as acompanharam em suas casas. Não foi o ideal, nem o desejável, mas foi o possível para que o povo não ficasse inteiramente privado de participar dos ritos e ações da Semana Santa e da Páscoa.
Não fomos os únicos e não estivemos sozinhos. Pelo Brasil afora, a maioria das regiões se encontra na mesma situação de São Paulo. E onde o povo podia frequentar as celebrações nas igrejas, as possibilidades também eram muito limitadas. Em Roma e no Vaticano, não foi diferente: também o Papa celebrou a Semana Santa na Basílica de São Pedro e na grande Praça vazias, com a presença limitada a pequenos grupos. Ele, certamente, era o primeiro que teria desejado a participação de muita gente, mas priorizou-se a saúde e a vida do povo. E ele deu o exemplo, respeitando as restrições impostas pelas autoridades sanitárias locais e, acima de tudo, motivado pelo bom senso e a caridade.
Como ficará a Igreja se as coisas continuarem assim por muito tempo? Ninguém sabe até quando essa situação continuará. Temos a esperança de que, à medida que a vacinação avança, a pandemia diminua seu impacto. A única solução contra a pandemia é a vacina. O ritmo da vacinação, porém, é lento, e leva a pensar que esse resultado ainda precisará de meses para chegar. Esperamos que surja, quanto antes, um medicamento para curar quem já está infectado pelo vírus, o que ajudaria a reduzir a gravidade da pandemia e o número de vítimas.
A Igreja e suas comunidades, enquanto isso, não podem ficar esperando que a onda passe e tudo volte ao seu normal para, somente então, retomar sua vida e suas atividades. O tempo da pandemia reduziu a quase nada os programas de vida ordinária da Igreja e nos desafia a repensarmos nossos modos de trabalhar e os métodos da ação pastoral. A vida da Igreja não pode ser pensada apenas para “tempos normais”. As crises e dificuldades oferecem oportunidades e novas possibilidades; assim, precisamos nos abrir e ser criativos diante dos apelos dessa nova realidade, sem inércia e sem medo.
Nossa Igreja possui uma experiência consolidada de dois milênios no enfrentamento de crises e limitações no exercício de sua missão. Quando não foram vetos à liberdade religiosa, perseguições e martírios, foram guerras, convulsões sociais, pandemias (pestes!), pobreza, graves crises internas, divisões e cismas lacerantes. Poucos foram os períodos da História em que ela teve absoluta paz e tranquilidade, porém sempre encontrou forças para se renovar e superar os momentos difíceis. Seria diferente neste momento da História, no qual nós somos desafiados como protagonistas?
Valem para nós as palavras do Senhor ressuscitado aos apóstolos, desolados pela morte do Mestre, assustados diante do futuro, incrédulos no encontro com o próprio Mestre, que se manifestava vivo a eles e lhes falava: “Por que estais perturbados e por que essas dúvidas em vossos corações? Sou eu, não tenhais medo!” (cf. Lc 24,38). Acompanha-nos a certeza de não estarmos sozinhos! Deus não abandona a humanidade, e Jesus não abandona a sua Igreja, mas caminha conosco. Coragem, pois!