O Domingo de Cristo Rei é rico de significados e marca o final do ano litúrgico, ao longo do qual celebramos os mistérios da nossa fé e da nossa salvação, sempre orientados pela meta do nosso peregrinar na história. Essa meta é o encontro final com Jesus Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem glorificado, mediador da nossa salvação. Assim, a Liturgia do Domingo de Cristo Rei fala de nossa participação no Reino de Cristo, “imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (cf. Cl 1,15).
Poderíamos pensar que o Reino de Deus está somente no céu, na perfeição das perfeições. No entanto, Jesus ensinou que “o Reino de Deus está no meio de vós” (Lc 17,21). Ele já é uma realidade presente no mundo, mas ainda não de maneira plena. O mundo da natureza e da condição humana já está permeado pelo Reino de Deus, que se manifesta na beleza e bondade das criaturas e na vida digna, justa e santa das pessoas humanas. Sinais da presença do Reino de Deus são a paz, a justiça, a caridade, a bondade, a fé, o amor e a esperança. O Reino de Deus, neste mundo, ainda se encontra em tensão com o anti-Reino, que também atua neste mundo e introduz nele a discórdia, a divisão, a soberba, a falsidade, a violência e tantos males que são sinais de que o Reino de Deus ainda não foi acolhido amplamente.
Neste Ano Jubilar, nós recordamos que todo o nosso peregrinar na história, durante esta vida, está orientado pela “bem-aventurada esperança da vinda do teu Reino, na espera confiante dos novos céus e da nova terra”, quando, “vencidas as potências do Mal, se manifestar para sempre a tua glória” (Oração do Jubileu de 2025). Somos peregrinos, animados por essa esperança, que orienta nossa vida e nos dá forças para seguir caminhando, apesar das dificuldades ainda encontradas no caminho. O Reino de Deus é a glória de Deus e todo bem de Deus compartilhado com as criaturas que se abrem a Deus e O acolhem em sua vida. Como consequência, o Reino de Deus neste mundo é todo “bem celeste” já acolhido na vida, mesmo entre angústias e tremores, na insegurança de ainda poder perder a participação no Reino de Deus mediante a nossa ruptura com Deus e a infidelidade a Ele.
Na festa de Cristo Rei, somos convidados a nos tornarmos mais e mais “discípulos do Reino de Deus” e a buscar o Reino de Deus acima de todas as coisas (cf. Mt 6,36). Ele é o maior bem da nossa existência. Por outro lado, somos também convidados a sermos anunciadores do Reino de Deus para nossos irmãos, a fim de que se abram a ele e o acolham em suas vidas. Esta festa tem uma forte dimensão missionária. Por isso, faz todo sentido que, no Domingo de Cristo Rei, seja celebrado no Brasil o Dia dos Leigos, ou seja, de todos os batizados que, por sua condição própria, estão envolvidos diretamente com as “realidades terrestres”, para testemunhar nelas os valores e os bens do Reino de Deus, ajudando o mundo “secular” a acolher o Reino em suas estruturas e organizações.
Os cristãos leigos e leigas são testemunhas do Reino de Deus na família e suas realidades, nas múltiplas dimensões da vida social, política, econômica e cultural. Nessas “realidades terrestres”, é preciso que o Reino de Deus seja acolhido e se torne a referência alta na busca do bem e da superação dos males. São também o bem e a justiça do Reino de Deus que precisam orientar nossa relação com as outras pessoas e com todas as criaturas, que, conforme nossa fé, também são criaturas de Deus. E este mundo, casa comum de todas as criaturas e de todas as pessoas humanas, é o lugar onde se devem acolher e praticar a fraternidade, o respeito, o amor e a paz do Reino de Deus.
Também no Domingo de Cristo Rei, a Igreja no Brasil inicia a Campanha anual para a Evangelização, para dinamizar a obra evangelizadora, que é imensa e nunca terminada. A Igreja, mediante a obra evangelizadora, realizada de muitas maneiras, anuncia o Evangelho do Reino de Deus e convida a todos a acolherem o incomensurável bem do Reino em suas vidas e na vida pessoal e na convivência social. A Igreja, com todos os seus membros, é discípula do Reino de Deus e, ao mesmo tempo, missionária do Reino, encarregada de fazer chegar a todos o anúncio e o testemunho da Boa-Nova do Reino de Deus. A ação missionária é dever de todos os batizados, sendo exercida de muitos modos, de acordo com o dom que cada um recebeu de Deus.
Na nossa Profissão de Fé, proclamamos: “E o seu Reino não terá fim”. O Reino de Deus, mesmo se ainda está presente na precariedade das coisas deste mundo, é a única realidade que subsistirá para sempre. Tudo o mais passará. Se queremos viver para sempre, busquemos nesta vida o Reino de Deus e a sua justiça. E cresçamos na esperança dos bens prometidos por Aquele que é o Senhor do Reino. Ele é fiel.






