Fui ordenado bispo no dia 2 de fevereiro de 2002, na catedral Cristo Rei, de Toledo (PR), pela imposição das mãos do Cardeal Cláudio Hummes, então, Arcebispo de São Paulo, e de mais 36 bispos concelebrantes. Entre eles, também estava o saudoso Dom Armando Círio, Arcebispo Emérito de Cascavel, que me havia ordenado presbítero em dezembro de 1976. Era a festa da Apresentação do Senhor no Templo.
Recordo, neste ano, os 20 anos de minha ordenação episcopal e agradeço a Deus pela graça do episcopado, exercido integralmente na Arquidiocese de São Paulo: cinco anos como Bispo Auxiliar e, a partir de 29 de abril de 2007, como Arcebispo desta grande e estimada Igreja Particular. Também no quadriênio de serviço à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), como Secretário-Geral (2003 – 2007), permaneci vinculado a São Paulo. Só tenho a agradecer a Deus!
É um privilégio e uma honra muito grande poder servir a esta Arquidiocese, com tão ilustres predecessores, como os cardeais Cláudio Hummes, Paulo Evaristo Arns, Agnelo Rossi, Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta e os arcebispos Dom José Gaspar e Dom Duarte Leopoldo e Silva. Esta Igreja de São Paulo também conta com o testemunho dos santos e Bem-Aventurados que aqui viveram: Padre Anchieta, Frei Galvão, Madre Paulina, Padre Mariano e Madre Assunta. Seu exemplo e estímulo nos encorajam a fazer hoje a nossa parte no serviço ao Evangelho e ao povo santo de Deus.
Tomei como lema episcopal a mesma palavra de Jesus, que já havia servi- do como lema de minha ordenação sacerdotal: in meam commemorationem – “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). São palavras de Jesus na instituição da Eucaristia, que o sacerdote pronuncia em todas as missas na hora da consagração do pão e do vinho. Jesus ordenou aos apóstolos que o seu gesto ritual de repartir o pão e o cálice continuasse a ser feito por eles ao longo do tempo, “em memória Dele”, ou seja, lembrando Dele, do que Ele fez e de tudo o que significava aquele rito. E significava muito!
De fato, o gesto ritual da instituição da Eucaristia, no contexto da última ceia e na véspera de sua Paixão, Morte e Ressurreição, resume toda a obra salvadora de Jesus. Nesse sentido é que a Igreja ensina que a Eucaristia contém, de alguma forma, todo o bem da Igreja. A celebração da Eucaristia é o momento sacramental mais significativo da Igreja, para o qual se orientam toda a vida e ação da Igreja e do qual ela toma toda a sua força e vitalidade. Ah, se compreendêssemos melhor a celebração da Eucaristia, não deixaríamos facilmente de celebrá-la e de participar dela!
Ser bispo, “em memória de Jesus Cristo”, traduz o sentido essencial do ministério episcopal, exercido a partir de Jesus Cristo, em nome Dele, como “sinal” de Jesus Cristo Pastor no meio da Igreja, com a força do Espírito Santo prometido por Jesus Cristo, como servidor dos discípulos de Jesus, testemunha do Evangelho e cuidador da Igreja, “esposa de Cristo”. O bispo não exerce a sua missão em nome pessoal, mas como um dom recebido “em favor dos irmãos” e para a glória de Deus. O episcopado não é uma carreira profissional em grau superior, mas um chamado a um serviço maior, a exemplo de Jesus: não para “ser servido, mas para servir e entregar a sua vida como serviço aos irmãos” (Mc 10,45).
O episcopado não consiste na busca de vaidades, vantagens pessoais e autoglorificação. Se as pessoas honram o bispo e o tratam com distinção, isso expressa, certamente, o reconhecimento delas diante do significado da figura do bispo e da sua missão no meio delas, à luz da fé, e fazem bem. Mas o bispo sabe que as honras não são para ele, mas para Aquele que ele representa, que o chamou e constituiu para servir a Deus e os irmãos. “Em memória de Jesus Cristo”, o bispo leva ao peito uma cruz, para o lembrar sempre do seu serviço a Jesus Cristo crucificado e ressuscitado. E, no exercício de sua missão, ele também experimentará muitas vezes, nos próprios ombros, o peso da cruz de Cristo e da humanidade. Como Arcebispo de São Paulo, Deus me concedeu, até agora, alegrias e também cruzes. Mais alegrias que cruzes, devo reconhecer.
Agradeço a todos os que me acompanharam e ajudaram até aqui no exercício do ministério episcopal. E são tantos e tantas, graças a Deus, a começar pelos valorosos e dedicados Bispos Auxiliares e padres, que partilham com o bispo a responsabilidade de servir a esta imensa “família de Deus” em São Paulo. Sem eles, seria impossível servir adequadamente a um povo tão nume- roso e com necessidades e situações tão diversas. Mas agradeço também muito aos religiosos e consagrados nos muitos carismas do Evangelho, que servem o povo de Deus na caridade. Os numerosos leigos e leigas, em todas as comunidades e organizações de nossa Igreja particular, participando das iniciativas e ações eclesiais mais diversas, são a verdadeira base da vida eclesial. Somos todos, “em memória de Jesus Cristo”, testemunhas do Evangelho nesta cidade imensa. Que Deus continue a nos ajudar!