Na Missa, após a Consagração, há uma aclamação muito bonita, cujo sentido fica especialmente iluminado pela vivência do Advento: “Vinde, Senhor Jesus!” É a exclamação de São Paulo no final da primeira Carta aos Coríntios, que retrata o desejo ardente dos primeiros cristãos de serem unidos ao Senhor glorificado. A expectativa do encontro com o Senhor na glória estava muito viva nas primeiras comunidades cristãs: “Maranatá: vem, Senhor” (1Cor 16,22).
Uma segunda aclamação após a Consagração expressa isso de maneira ainda direta: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!” A celebração da Eucaristia é o “memorial” da paixão, morte e ressurreição de Jesus e, ao mesmo tempo, o anúncio da segunda vinda de Jesus, em glória. Também a Igreja vive hoje a feliz esperança na realização plena das promessas de Deus de salvação e vida nova em plenitude.
Entramos no tempo litúrgico do Advento, marcado pelo anúncio das promessas de Deus através dos profetas, de Jesus e dos apóstolos. Neste tempo, recordamos o amor fiel e misericordioso de Deus, que não abandona seu povo e a humanidade e vem socorrê-la e lhe dar sempre novo alento. São especialmente bonitos os anúncios do profeta Isaías, que falam dos planos de salvação de Deus para Israel e para todos os povos. Já o primeiro Domingo do Advento deste ano anuncia os “dias em que Deus fará cumprir a promessa de bens futuros”. Serão dias em que “a justiça vai valer na terra”. E Deus mesmo, no meio do seu povo, será a garantia da justiça (cf. Is 33,14-16).
A justiça, neste mundo, sempre é imperfeita, assim como são imperfeitos a beleza, a bondade, o amor, a alegria, a saúde e a própria vida. Vivemos mergulhados em um mundo de imperfeição, mas a humanidade e cada ser humano aspira à perfeição da alegria, da justiça, da felicidade e da vida. Serão desejos irrealizáveis e utopias ilusórias, às quais deveríamos renunciar? Seria o homem um projeto frustrado? Por certo que não. Para a fé cristã, o homem não é um projeto frustrado, mas um ser de esperança. Somos “peregrinos de esperança” e sabemos que “a esperança não decepciona” (Jubileu 2025).
O Advento nos recorda de que vivemos entre o “já” realizado e o “ainda não” plenamente realizado. Em Jesus Cristo, Deus já veio ao encontro da humanidade de forma extraordinária e única, mostrando sua fidelidade às promessas e seu amor pela humanidade. Já vivemos “salvos na esperança” (Rm 8,24) e nossa vida é um contínuo peregrinar ao encontro do Senhor, na expectativa da feliz realização da plenitude daquilo que esperamos.
O Advento, portanto, nos ajuda a reavivar a consciência de que nossa vida tem um futuro e está marcada pelo sentido profundo da esperança, da grande esperança do encontro com Deus. Nós vamos ao encontro de Deus e Ele vem ao nosso encontro. Ele é o “Deus-que-vem” para nos salvar. Essa vinda acontece ao longo de nossa vida, em muitas circunstâncias, e devemos estar atentos e prontos para não perder a ocasião desses encontros salvadores. Jesus adverte os discípulos sobre o discernimento dos sinais de Deus em nossa vida e nossa história: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós” (Lc 21,34). Os prazeres da vida, as vaidades e as preocupações exageradas podem nos fazer esquecer o sentido da vida. Santo Agostinho dizia: ‘Tenho medo de que o Senhor passe por mim e eu não O reconheça’.
São Paulo recomenda aos cristãos que, durante esse tempo de “feliz esperança”, eles vivam a santidade, o amor fraterno e façam progressos na virtude (cf. 1Ts 3,12.4-2). E Jesus recomenda a todos “a oração constante e a vigilância”, como atitudes próprias deste tempo em que a Igreja pede: “Maranatá: vem, Senhor!”