Há 15 anos, de 9 a 12 de maio de 2007, a visita do Papa Bento XVI em São Paulo nos proporcionou momentos e encontros memoráveis. A juventude encheu o estádio do Pacaembu de alegria e esperança e alegrou o coração do Papa. No dia 11 de maio, Bento XVI canonizou “Frei Galvão” no Campo de Marte, primeiro Santo nascido no Brasil e primeira canonização realizada no Brasil. Foi uma celebração grandiosa, participada por uma multidão imensa de pessoas vindas de todos os cantos do Brasil. O encontro de Bento XVI com o episcopado brasileiro, na Catedral metropolitana de São Paulo, completou o intenso programa de sua estadia em São Paulo. Hospedado no Mosteiro de São Bento, o Papa sentiu-se muito à vontade com a comunidade do Mosteiro, com a qual se entreteve em conversações prolongadas e espontâneas à mesa, após as refeições.
Na tarde de 11 de maio, Bento XVI deslocou-se para Aparecida, onde já havia grande expectativa pela sua chegada e para o encontro com as pessoas e grupos eclesiais consagrados a Deus nas diversas vocações e carismas. No dia 12 de maio, além de um encontro muito carinhoso com os internos da Fazenda da Esperança, em Guaratinguetá, Bento XVI recitou o rosário na basílica de Aparecida com o povo, especialmente com religiosos, sacerdotes e seminaristas. Bento XVI ficou impressionado com as exuberantes e singelas manifestações de devoção mariana do povo brasileiro na Basílica. Ele pediu que a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe fosse realizada junto de uma basílica mariana de grande movimento. E escolheu o santuário mariano de Aparecida.
Na manhã de 13 de maio, há 15 anos, Bento XVI celebrou a Missa na esplanada da Basílica com os membros da 5ª Conferência e uma grande multidão de povo. No início da tarde, fez a abertura da 5ª Conferência, reunido apenas com os cerca de 300 membros convocados para o evento. Foram palavras memoráveis, que ofereceram as principais diretrizes daquela importante reunião eclesial. Elas estão conservadas, como apêndice, no Documento das conclusões da 5ª Conferência, que passou a ser conhecido, simplesmente, como Documento de Aparecida.
Motivada e orientada pelo tema – “Discípulos missionários de Jesus Cristo, para que, nele, nossos povos tenham vida” –, a Conferência de Aparecida trabalhou de 13 a 31 de maio, avaliando a situação dos povos e da Igreja nos países da América Latina e do Caribe. Na conclusão dos trabalhos, chegou-se a um volume considerável de reflexões e propostas para renovar e revitalizar a vida e a missão da Igreja em nosso Continente. O cardeal Jorge Mário Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires à época, foi um dos membros da assembleia, e coordenou a comissão de redação das conclusões finais da Conferência. Naquele momento, ninguém podia suspeitar que, menos de seis anos mais tarde, ele seria o sucessor de Bento XVI! Por certo, o Espírito Santo sabia e o preparava para a missão que lhe foi confiada, como Sucessor de Pedro diante da Igreja toda.
A Conferência de Aparecida abriu novos horizontes para a Igreja na América Latina e no Caribe, que conservam sua validade no presente. O Papa Francisco pediu que a Igreja em nosso Continente, comemorando o 15º aniversário da 5ª Conferência, revisitasse o Documento de Aparecida, pois suas intuições são fundamentais para a vida e missão da Igreja. A primeira questão posta refere-se à origem do ser cristão e sua identidade: antes de sermos membros de uma instituição, somos discípulos missionários de Jesus Cristo. E somente nisso está a origem da nossa fé e do nosso ser cristão. Nossa fé nasce do encontro pessoal com Jesus Cristo, que pode acontecer de muitas formas. A primeira finalidade da missão evangelizadora da Igreja é ajudar as pessoas a terem um profundo encontro com Deus por meio de Jesus Cristo. Disso decorre todo o resto na vida cristã e da Igreja.
Uma segunda constatação é que muitos daqueles que foram batizados nunca tiveram uma experiência pessoal e profunda de encontro com Deus e sua fé, por isso mesmo, é superficial e vacilante. A Igreja precisa evangelizar a partir do anúncio do querigma cristão e proporcionar a verdadeira experiência da fé. Depois seguem o aprofundamento e amadurecimento da fé. A Conferência de Aparecida reafirmou que a primeira missão da Igreja é evangelizar e, por isso, o Documento destacou tanto a necessidade de retomar a dimensão missionária da Igreja, sem a qual ela pode se transformar numa instituição cansada e sem vitalidade. A Igreja existe para a missão e se renova e ganha novo dinamismo quando se faz missionária.
A Igreja não pode se contentar com atividades voltadas para a mera conservação daquilo que ela já alcançou, mas precisa voltar a ser decididamente missionária. A Conferência de Aparecida aconteceu há 15 anos e já trouxe tantos impulsos de renovação para a Igreja. Quanta novidade ainda poderá acontecer, se estivermos atentos àquilo que o Espírito Santo diz à Igreja!