Igreja em caminho sinodal

Algo novo está acontecendo na Igreja e somos convidados a participar desse caminho novo que se vai definindo. Na América Latina e Caribe, estamos preparando a Assembleia Eclesial da Igreja na América Latina e no Caribe, que acontecerá na Cidade do México, em novembro deste ano. O Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) havia sugerido ao Papa Francisco a convocação de uma nova Conferência Geral do Episcopado, 15 anos depois da 5ª Conferência, realizada em Aparecida (SP), em maio de 2007.

Francisco, porém, respondeu que o Documento de Aparecida ainda tem muito para oferecer e, por isso, seria preferível fazer uma ampla avaliação sobre o caminho percorrido depois de Aparecida: avaliar os êxitos e destacar as questões ainda não suficientemente trabalhadas nesse tempo posterior à 5ª Conferência. Ao mesmo tempo, sugeriu que se destacassem as questões emergentes e os novos desafios postos à evangelização e à missão da Igreja no continente americano.

Portanto, desde 2020, o CELAM iniciou a preparação de uma Assembleia Eclesial, com a participação mais ampla de membros da Igreja. As Conferências Gerais do continente são episcopais e seus membros são representativos das Conferências Episcopais, com identidade canônica e teológica próprias. A Conferência Eclesial não será apenas episcopal e terá a participação de membros do clero, em geral, dos consagrados e leigos. Portanto, é um sujeito eclesial novo que se reunirá, com competências e representatividades ainda por serem mais bem definidas. A experiência é original e ainda não conta com nenhuma outra da mesma natureza num âmbito tão vasto da Igreja. Certamente, no âmbito das dioceses já existem experiências semelhantes, como certas assembleias diocesanas do povo de Deus e também os sínodos diocesanos.

O CELAM encarregou uma Comissão para preparar a Conferência Eclesial do México e orienta que essa preparação já seja uma verdadeira experiência sinodal da Igreja, com a participação dos diversos membros das comunidades eclesiais locais. Parte dessa preparação é a reflexão, nas comunidades da Igreja, sobre os frutos da Conferência de Aparecida e sobre as orientações dessa Conferência ainda não trabalhadas o bastante. Ao mesmo tempo, as “bases da Igreja” são incentivadas a apontar os novos desafios postos à missão da Igreja nos diversos países e regiões do continente.

Enquanto isso, no dia 20 de maio passado, mais uma “novidade sinodal” foi anunciada. O Cardeal Mário Grech, Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, escreveu aos bispos de todo o mundo sobre a preparação da próxima assembleia geral do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro de 2023, com o tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. O tema foi definido pelo Papa Francisco, após consulta ao episcopado da Igreja. O objetivo dessa nova assembleia sinodal será, justamente, confrontar-se com essa “configuração sinodal” da Igreja. Naturalmente, ainda há muito para se refletir, compreender sobre esse conceito e sobre quais poderiam ser as implicações e consequências teológicas e práticas de uma Igreja “mais sinodal”.

No Concílio Vaticano II, foi destacada a dimensão da Igreja como “povo de Deus”, com decorrências muito importantes para a prática da vida eclesial. Destacou-se, também, a “colegialidade episcopal”, para mostrar que o episcopado, no seu todo, é corresponsável pela Igreja, junto com o Papa, e que os bispos, por isso mesmo, devem se encontrar e atuar na comunhão colegial entre eles e com o Papa. Na 3ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, realizada em 1979, em Puebla (México), desenvolveu-se o conceito de “comunhão e participação”, para indicar que na Igreja todos devem viver a comunhão de fé, esperança e caridade, mas também a participação nas responsabilidades da vida e da missão eclesial.

O Papa Francisco chama a Igreja a aprofundar, agora, a sua dimensão sinodal, que tem a ver com todas essas dimensões destacadas anteriormente. Mas coloca em maior evidência que, na Igreja, é preciso que pastores e ovelhas caminhem juntos e partilhem os bens, alegrias e responsabilidades da vida eclesial. Não basta que os pastores tenham “cheiro de ovelhas”: é preciso que a Igreja inteira tenha “jeito de rebanho” – o rebanho de Cristo, único Pastor.

Deixe um comentário