Que significa “Igreja em saída missionária”? A expressão foi inspirada no Documento de Aparecida, que insiste na necessidade de uma renovação missionária da Igreja. No Documento, fala-se de “conversão missionária” pessoal, comunitária e da Igreja inteira, referindo-se à necessidade de superar uma pastoral apenas voltada para a manutenção da Igreja, como se toda obra missionária já tivesse sido concluída.
Foi o Papa Francisco quem usou a expressão “Igreja em saída missionária”, na exortação apostólica Evangelii Gaudium (2013), sobre a nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Nas palavras do Papa, isso significava que a Igreja, além de estar de portas abertas para acolher quem nela quer entrar, deve também abrir as portas para sair ao encontro das pessoas e situações, não ficando apenas voltada sobre si mesma. Sair ao encontro do mundo, que pensa diversamente dela, tem sua própria lógica e é muito diversificado nas suas crenças e não crenças a respeito de tudo. A Igreja em saída está disposta a ouvir com respeitosa paciência, a dialogar com sincera atenção pelo outro, a valorizar o que há de bom nos outros e no mundo.
O Papa tem mostrado essa atitude de “Igreja em saída missionária”, de muitas maneiras. Nas suas viagens internacionais, ele sempre encontra personalidades e grupos de religiões diversas, ouve pessoas que fazem o bem, mesmo sem serem católicas. Como destino de suas viagens apostólicas, ele tem incluído países que poderíamos chamar de “periféricos”, que não estão no centro das atenções e decisões das autoridades políticas, econômicas e financeiras mundiais. Entre os cardeais que nomeia de tempos em tempos, há sempre alguns de países com poucos cristãos, como é o caso do Vigário Apostólico da Mongólia, onde há cerca de 1,5 mil cristãos apenas, ou do Arcebispo de Timor Leste. Nesses casos, há uma nítida atenção em relação às “periferias da Igreja” e do mundo.
“Igreja em saída” também inclui a chamada a sermos uma “Igreja si- nodal”, vivendo a comunhão, a participação e a missão. É importante revivermos essas três dimensões essenciais da Igreja, que fazem parte da sua natureza, para superarmos certa tendência ao “sedentarismo eclesial”, com estruturas pesadas e pouco eficazes e sem vida nem dinamismo missionário. E não é diferente o propósito do nosso sínodo arquidiocesano, ao nos convocar a fazermos um “caminho de comunhão, participação e missão”. Caminhar juntos, saindo dos nossos redutos fechados e autorreferenciais, e das zonas de conforto, importando-nos mais com a situação dos outros. Não podemos pensar apenas na nossa paróquia, nosso movimento, nossa pastoral, nossa diocese.
Não será mera coincidência que nossa assembleia sinodal arquidiocesana inicia, justamente, seu trabalho entre as solenidades da Ascensão de Jesus aos céus e Pentecostes. Na Ascensão, Jesus enviou os Apóstolos em missão, para anunciarem o Evangelho a toda criatura e para serem suas testemunhas em toda parte. O cristão, discípulo de Jesus, claramente, não é alguém que possa ficar parado, de braços cruzados, com medo de sair ao encontro dos outros e de lhes comunicar a Boa Notícia! Os Anjos, na Ascensão, repreenderam os Apóstolos, que continuavam a olhar para o céu, depois da subida de Jesus para os céus: “Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu”? Foi uma forte chamada a serem “Igreja em saída missionária”, já naquele primeiro início da Igreja! A vida é marcada pela feliz esperança de estar com Jesus no céu, um dia. Mas, enquanto isso, este é um tempo de missão, de sair ao encontro dos outros, sem ficar parados nem esquecer o mandato missionário de Jesus: “Ide”!
E, também, não será por mera coincidência que, no Domingo da Ascensão, os dois novos Bispos Auxiliares da Arquidiocese de São Paulo, Dom Cícero Alves de França e Dom Rogério Augusto das Neves, foram acolhidos em suas Regiões Episcopais, para iniciarem, efetivamente, sua missão na Arquidiocese de São Paulo. Foram chamados ao Episcopado para a missão de evangelizar e ser testemunhas de Deus nesta cidade imensa e para animar o povo de Deus para ser “Igreja em saída missionária” em todas as comunidades e realidades eclesiais. Para isso, contam com os dons do Espírito Santo, verdadeiro animador da vida da Igreja, Mestre do Evangelho, Defensor, Consolador, Luz no caminho. É o Espírito Santo que dá fecundidade e fruto à missão da Igreja em saída missionária.
Igreja em saída missionária é mais que um conceito abstrato: ele realiza-se no dia a dia da vida da Igreja, quando estamos atentos à voz do Espírito Santo: “Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz à Igreja” (cf. Ap 2-3). Cada paróquia, organização pastoral, Instituto de Vida Consagrada, movimento, associação de fiéis, colégio católico, meio de comunicação ou mídia social ligada à Igreja, cada família e fiel, em particular, todos somos chamados a assimilar sempre mais essa chamada a sermos “Igreja em saída missionária”.