Igreja, instituição clerical?

De 24 a 30 de abril, em Aparecida (SP), realizou-se o 19º Encontro Nacional de Presbíteros, com a participação de mais de 400 padres, representando os presbíteros das dioceses de todo o Brasil. Orientados pelo tema “Presbíteros: testemunhas da esperança”, eles refletiram sobre a sua vida e missão na Igreja, acompanhados pelos Bispos da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Durante o encontro, os padres partilharam suas alegrias e esperanças e, também, as angústias pessoais e das comunidades onde trabalham. De fato, eles exercem sua missão nas mais diversas situações da vida do povo e da Igreja e conhecem como ninguém as coisas belas que ali existem, mas também as dificuldades do povo e os desafios bem concretos que eles próprios enfrentam no exercício de sua missão.

O tema do 19º encontro fala da esperança: “Presbíteros: testemunhas da esperança”. Trata-se da esperança cristã, que faz parte do núcleo central do Evangelho e a Igreja anuncia de muitos modos. Também o tema do ano jubilar de 2025 está relacionado com a esperança: os cristãos são “peregrinos da esperança”, animados e atraídos pela grande esperança que nos vem do Evangelho e da obra da salvação realizada por Jesus Cristo em favor da humanidade. Como é importante manter viva a chama da esperança, não apenas na consecução de objetivos imediatos e terrenos, mas dos bens eternos.

Nesta primeira semana de maio, estão reunidos perto de Roma cerca de 400 padres representantes do clero de todos os países do mundo, convocados pela Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos. Na verdade, é o Papa Francisco que quer ouvir os párocos, na preparação da 2ª. parte da assembleia do Sínodo sobre a “Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, que será realizada no próximo mês de outubro. Mesmo que, entre os membros convocados para a assembleia sinodal já haja um certo número de padres, o Papa quis que os padres pudessem dar uma contribuição mais direta para a assembleia sinodal por meio do encontro que se realiza em Roma nestes dias.

Alguém poderia questionar se esse destaque dado aos párocos não significa fazer concessões a uma “Igreja clerical”, que o próprio Papa Francisco criticou em diversas ocasiões? De fato, porém, essa impressão seria equivocada. Antes de tudo, porque a Igreja Católica não vive sem clero, sem padres. A vocação e missão deles é essencial na animação e condução das comunidades eclesiais. Os padres exercem sua missão sacramental no seio da Igreja, nas comunidades locais, unidos aos seus bispos, como servidores do povo nos bens de Deus: o Evangelho da vida e da esperança, o perdão e a misericórdia de Deus, a vida sacramental, a organização e animação da evangelização e da caridade. Para isso, eles recebem o dom especial da imposição das mãos do bispo e a unção do Espírito Santo.

Seria um equívoco fatal pretender uma Igreja sem clero, e sem o reconhecimento do papel fundamental que os padres exercem nela. Se assim fosse, ela já não seria mais a Igreja Católica. A crítica do Papa à “Igreja clerical” refere-se a um modelo de Igreja em que tudo depende apenas do clero. Pior ainda: onde a Igreja é pensada, vista e praticada como uma instituição clerical, em que o povo dos batizados é visto e identificado como parte passiva e apenas receptiva dos serviços “da Igreja”, identificada como clero. A “Igreja clerical”, muitas vezes, também é identificada com comportamentos e atitudes despóticas de clérigos, que não reconhecem nem valorizam a graça do Batismo e a dignidade de todos os membros da Igreja. No entanto, a Igreja de Cristo é o povo dos batizados, povo de Deus, agraciado com muitos dons e carismas necessários à sua vida e missão. Os membros do clero receberam um dom importante para a edificação da comunidade cristã. Mas também os leigos e leigas, os consagrados e consagradas nos diversos carismas da vida religiosa receberam dons e carismas, que precisam ser reconhecidos, incentivados e valorizados.

A Igreja de Cristo tem clero, mas não é uma instituição clerical. Precisa muito do clero, mas não para deixar os demais membros da Igreja passivos e apenas “assistidos”. A vocação e missão do clero é “servir os irmãos nas coisas de Deus”, ajudando e animando todos a viverem o seu próprio dom, quer na vida interna das comunidades cristãs, quer no imenso campo missionário que é o mundo social, econômico, político, cultural, no mundo das profissões e responsabilidades públicas. A Igreja é o povo dos batizados e ungidos pela graça do Espírito Santo para ser um povo de missionários no mundo e fazer frutificar as sementes do Evangelho e a força transformadora do Reino de Deus em todas as dimensões do convívio social.

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