Igreja sinodal: comunhão, participação e missão

Com a celebração da Missa presidida pelo Papa Francisco e acompanhada pelos membros da assembleia sinodal, na Basílica de São Pedro, foram encerrados no domingo, 27 de outubro, os trabalhos da XVI assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos. Desta vez, o processo sinodal foi mais longo e complexo do que costumava ser anteriormente, incluindo uma ampla consulta e escuta do povo de Deus, desde 2021, e a assembleia em duas etapas, de quatro semanas cada uma: em outubro de 2023 e em outubro de 2024. O Sínodo inovou no método e na abrangência do tema.

De fato, o tema desta assembleia sinodal, escolhido pelo Papa Francisco, bem justificava essas escolhas: “Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. Pela primeira vez, desde o Concílio Vaticano II, uma assembleia sinodal foi dedicada à Igreja, enquanto tal, e não apenas a algum tema eclesial específico. O pano de fundo do tema foi a Constituição Dogmática conciliar Lumen gentium, sobre a Igreja. E o Sínodo foi chamado a refletir sobre o modo de traduzir melhor, na prática eclesial, a doutrina e a teologia da Igreja, presente no Concílio.

O tema do Sínodo já indicava que o mistério profundo da Igreja deve ser traduzido em uma prática eclesial sinodal de comunhão, participação e missão. As consultas ao povo de Deus e o discernimento feito mostraram que isso nem sempre acontece na prática da vida eclesial, na qual pode aparecer o clericalismo, que tem a Igreja como uma instituição clerical, reduzindo o povo de Deus, em geral, à condição passiva de beneficiado e assistido pela Igreja-clero. Mas seria uma deformação da Igreja, que não é isso, nem deve ser proposta assim ao mundo: ela é a comunhão-comunidade de todos os batizados, que participam juntos de um imenso dom recebido no Batismo e expressam a alegria de sua fé em muitas maneiras de participar da missão da Igreja, cada um de acordo com o dom recebido de Deus.

A assembleia sinodal teve a tarefa de refletir sobre as muitas contribuições vindas das bases da Igreja em todo o mundo, por meio das dioceses, conferências episcopais e patriarcados das Igrejas Orientais. O povo de Deus fez muitas observações sobre as possibilidades de melhorar a comunhão eclesial nas comunidades locais em todo o mundo; sobre a superação das divisões e conflitos internos e sobre os modos de contribuir melhor para viver a realidade profunda da comunhão de fé, caridade e esperança. Da mesma forma, a assembleia refletiu sobre as falhas na participação na vida da Igreja e sobre as propostas para melhorar essa participação de todo o povo de Deus no bem da Igreja e nas responsabilidades concretas da vida e da missão da Igreja. O Sínodo refletiu sobre a missão, como realidade que faz parte da vida de cada cristão, desde o Batismo: somos todos discípulos-missionários de Jesus Cristo. Como melhorar a consciência missionária na Igreja e a participação efetiva na ação missionária?

O trabalho dos participantes nas duas sessões da assembleia sinodal foi grande, na busca do discernimento sobre a Igreja sinodal, a partir da fé, acompanhado pela oração de toda a Igreja ao Espírito Santo. O documento votado pela assembleia sinodal foi publicado logo e entregue à Igreja no dia 26 de outubro, ainda na vigília do encerramento da assembleia sinodal. Trata-se agora de ler, estudar e acolher o conjunto das reflexões e indicações sinodais. Em breves traços, pode-se dizer que se encontra nesse documento um amplo chamado à conversão, para sermos mais e melhor uma Igreja sinodal em comunhão, participação e missão. O chamado à conversão perpassa todo o documento, e é feito não apenas à Igreja, “instituição clerical”, mas a todo o povo santo de Deus, convidado a fazer um processo de escuta e acolhimento atento das inspirações e da ação do Espírito Santo na Igreja por meio do Sínodo e na vida cotidiana.

O chamado à conversão também se refere ao esforço para melhorar as relações internas na vida da Igreja, que devem ter em conta os muitos dons, carismas e ministérios no meio do povo de Deus e que não são destinados à concorrência ou à vaidade pessoal, mas à participação e colaboração harmônica para a vida e a missão da Igreja. O mesmo chamado é feito quando se trata da missão, que precisa ser assumida mais e melhor, como parte da vida das comunidades eclesiais e exercida mediante a participação diversificada nas ações e responsabilidades eclesiais. E isso precisa acontecer, não apenas nas comunidades locais do povo de Deus, mas também no nível dos organismos eclesiais, como as conferências episcopais, os patriarcados, as organizações da Vida Consagrada e do Laicato.

É certo que a conclusão da assembleia sinodal não vai mudar as coisas de um momento para outro, como por encanto. A esperança é que as grandes propostas sinodais sejam assumidas e levem a um processo gradual de renovação da Igreja, em todos os níveis, na direção dada pelo Sínodo. Que o Espírito Santo nos ajude!

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