Jejum, esmola e oração

A Igreja nos proporciona o “tempo favorável” da Quaresma, em preparação à Páscoa, maior de todas as celebrações da Liturgia e núcleo central da fé e da vida dos cristãos. Durante esse período, somos chamados a nos voltar para Deus de forma renovada, ouvindo e acolhendo a palavra de Deus, fazendo penitência para a conversão e nos preparando para a renovação das promessas batismais na celebração da Páscoa.

A Quaresma, de fato, não é um tempo fechado sobre si mesmo, mas voltado para a Páscoa e para reassumirmos com renovadas disposições a vida nova em Cristo ressuscitado, da qual participamos mediante o Batismo. Ao longo da vida, nem sempre somos fiéis e coerentes com essa graça tão grande; cansamos, desanimamos, desviamo-nos do caminho, perdemos de vista a meta, esquecemos os mandamentos de Deus e agimos como se nem fôssemos cristãos. Pecamos e precisamos de conversão. A Quaresma nos chama de novo para o centro de nossa fé e a renovarmos nossas disposições para vivermos como discípulos de Jesus Cristo e membros da sua Igreja.

Para nos ajudar a viver com maior proveito esse tempo de graça, a Igreja nos propõe três exercícios quaresmais. O jejum “religioso”, assumido como forma voluntária de penitência, lembra-nos de que a vida não se resume ao alimento do corpo e na satisfação das necessidades e desejos terrenos. É preciso buscar “o pão que desceu do céu para dar vida ao mundo” (cf. Jo 6,51), o alimento da palavra de Deus, que molda nossa vida e nos educa. Quaresma é tempo de ler e ouvir com atenção renovada a palavra de Deus e de buscar a instrução cristã. Por isso, é aconselhável, para quem tiver a oportunidade, fazer um bom retiro espiritual ou um encontro formativo, para aprofundar a formação cristã.

A esmola, entendida literalmente, também deve ser praticada, e a proibição de dar esmolas, se existir em algum lugar, nunca partiu da Igreja. Porém, como exercício quaresmal, o conceito “esmola” indica muito mais que esse simples gesto e se refere à prática da caridade, às obras de misericórdia em geral e à verdadeira solidariedade e fraternidade. Talvez seja o campo em que mais precisamos nos converter, pois o egoísmo e o individualismo podem ser tentações e modos de vida muito arraigados em nós e na cultura circunstante. Nessa dimensão da vivência quaresmal também se insere a Campanha da Fraternidade, que, no Brasil, a cada ano, aborda alguma questão do convívio social em que se fazem necessários a conversão e o crescimento na caridade e fraternidade. A fraternidade concreta para com o próximo é inseparável do amor a Deus. Neste ano, a Campanha da Fraternidade nos questiona se a educação ajuda a promover a fraternidade ou não. A questão é muito séria e merece toda a nossa atenção.

A oração indica o terceiro conjunto de exercícios da Quaresma. Antes de tudo, refere-se à prática da oração diária, feita bem, com fé e humildade, como aprendemos de Jesus. Ele rezou, ensinou a rezar e recomendou a oração. Oração é exercício da fé, alimento da fé e expressão da nossa busca de Deus. Quem tem fé reza. Quem não tem fé não reza. Quem não reza perde a fé. Como cristãos, temos as várias formas de oração: oração pessoal, em família, ou grupos, é muito recomendada como exercício diário. A Igreja recomenda a oração nos diversos momentos do dia: pela manhã, ao despertar; ao meio-dia; no final do dia e ao nos recolhermos para o descanso.

A mais importante de todas é a oração litúrgica, quando a Igreja, reunida em comunidade e em comunhão com Jesus Cristo Sacerdote, celebra a adoração, o louvor, a súplica, a ação de graças a Deus Pai, na graça do Espírito Santo. A Santa Missa dominical é a oração central de toda a semana e não deve faltar na vida dos católicos. Entre os exercícios da Quaresma, também não deve faltar a sincera e humilde avaliação de nossa vivência cristã, preparando-nos, assim, para uma boa confissão, em preparação à Páscoa. A confissão deve ser procurada em tempo nas igrejas, onde normal- mente estão previstos os momentos para o seu atendimento.

Algumas expressões da Liturgia da Quarta-Feira de Cinzas nos indicam os objetivos dos exercícios quaresmais: “Para que a penitência nos fortaleça no combate contra o espírito do mal” (Oração do dia). “Para que, prosseguindo na observância da Quaresma, (os fiéis) possam celebrar de coração purificado o mistério pascal do vosso Filho” (Oração de bênção das cinzas). “Nós vos suplicamos, ó Deus, a graça de dominar nossos maus desejos pelas obras da penitência e da caridade” (Oração sobre as oferendas). “O jejum e a abstinência que praticamos, quebrando o nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os necessitados” (Prefácio). “Para que o jejum de hoje vos seja agradável e nos sirva de remédio” (Oração depois da comunhão). Temos, pois, muito a viver e para nos exercitar na Quaresma.

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