Missão santificadora da Igreja

A Igreja existe para anunciar e testemunhar o Evangelho, para viver e testemunhar o amor de Deus através da prática da caridade e das obras de misericórdia e para adorar a Deus e promover a santificação das pessoas e do mundo. Isso pode parecer muito esquemático para falar da razão de existir da Igreja e, de fato, é assim. Mas expressa, em poucas palavras, as três grandes dimensões da vida e da missão da Igreja.

Ocupemo-nos aqui da missão santificadora da Igreja. O reconhecimento, a adoração e o louvor a Deus correspondem ao primeiro mandamento da Lei de Deus. Amar a Deus sobre todas as coisas também leva à busca da vida santa, em conformidade com a vontade de Deus e seus misteriosos e santos desígnios. A Igreja tem por missão promover a vida santa mediante as virtudes teologais da fé, esperança e caridade, e as demais virtudes humanas e cristãs; faz parte de sua missão a busca da vida santa, na comunhão com Deus e na correspondência com a sua vontade.

A busca do caminho da santidade, como grande meta e sentido da vida e condição para se aproximar de Deus, já aparece no Antigo Testamento: Deus é sumamente santo (cf. Is 6,3). E se repete no Novo Testamento: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1Tes 4,3). Jesus coloca a perfeição de Deus como meta altíssima de santidade: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). A constituição dogmática Lumen gentium, do Concílio Vaticano II, sobre a Igreja, no capítulo V, indica a “vocação universal à santidade” como grande meta e programa para todos os membros da Igreja, que a devem buscar de diversos modos, segundo o próprio estado de vida e conforme os dons e graças que cada um recebeu de Deus.

O Papa São João Paulo II, na carta apostólica Novo Millennio Ineunte (Entrando no Novo Milênio, 2001), indica a santidade como primeiro programa pastoral a ser promovido pela Igreja no terceiro milênio cristão. E recorda que o sentido original de “santidade” indica a “pertença” Àquele que é o Santo por excelência (cf. nº 30-31). Pelo Batismo, passamos a ser o povo de Deus e a família dos filhos e filhas de Deus, por meio de Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo. Fomos marcados pela santidade de Deus e nosso primeiro chamado é viver e irradiar a santidade de Deus em nossa vida pessoal e comunitária. Talvez isso pareça demasiado para nossa condição humana, frágil e pecadora. Mas Deus nos concede, para isso, o Espírito Santificador, que nos capacita a vivermos uma vida santa. Nem poderia ser diferente na Igreja, comunidade dos batizados, povo que Ele chamou para irradiar no mundo a sua santidade!

A Igreja recebeu de Jesus Cristo os meios de santificação, que nos proporcionam a ajuda necessária para vivermos uma vida santa. Antes de tudo, a Palavra de Deus, que nos chama à vida santa e ensina o caminho da santidade. Acolhida com fé e amor, vivida com humildade e generosidade, a Palavra de Deus é caminho de santificação para todos, pois ela nos revela o Deus Santo e Aquele que é o “caminho, a verdade e a vida”, o próprio Cristo Jesus. A Palavra de Deus revela a vontade de Deus nos mandamentos e nos ensinamentos de Jesus. Mas a Igreja também celebra os sacramentos, dons da santificação que, de diversos modos, concedem as graças de Deus que são necessárias à vida santa. A Eucaristia e a Penitência são dons inestimáveis, que restauram e sustentam a fé no caminho da santidade. Além disso, há na Igreja um tesouro de orações e devoções, que expressam o balbuciar do povo peregrino no encontro com Deus nos momentos de alegria ou angústia. E a Igreja possui o tesouro também valioso da vida e do testemunho dos Santos que, de diversos modos, viveram a comunhão com Deus e a fidelidade aos seus caminhos.

O Papa São João Paulo II observou que nunca devemos esquecer a “medida alta da vida cristã ordinária” (cf. nº 31): toda a vida cristã, de todos os cristãos e da comunidade eclesial inteira, deve estar orientada para a santidade e nem poderia ser diferente. E o Papa Francisco, na exortação apostólica Gaudete et exsultate (Alegrai-vos e exultai, 2018), indicando as Bem-Aventuranças do Evangelho como caminho de santificação para todos, recordou que a santidade é um chamado feito a todos e não apenas a algumas pessoas. Jesus foi o primeiro que viveu as Bem-Aventuranças; por isso, ele nos convida a seguir por esse caminho também. A adoração de Deus e a busca da vida santa precisam fazer parte das preocupações de nossas comunidades e organizações pastorais.

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