A celebração da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo (Corpus Christi) traz ao centro de nossa atenção o dom ímpar que Jesus deixou à sua Igreja na Última Ceia com os apóstolos: o sacramento da Eucaristia. Este Santíssimo Sacramento é rico de significados importantes para nós e para o mundo, que são recordados, anunciados e celebrados nesta festa.
Ao falar de Eucaristia, devemos ter em consideração não apenas a “hóstia consagrada”, mas a celebração do sacramento da Eucaristia, na santa Missa, que contém e expressa em sinais diversos a multiplicidade de significados desse imenso dom. Ele é o memorial perene de Jesus Cristo que, no seu imenso amor pela humanidade, se entrega por ela, “até o fim”, até ao sofrimento mais extremo e à morte na cruz. É o seu sacrifício de doação e obediência a Deus Pai, também em nosso nome, pela remissão dos nossos pecados, para que todos, por Ele, possamos alcançar misericórdia, perdão e vida.
A Eucaristia é o banquete sagrado, no qual os participantes convivem com Aquele que os convoca e acolhe ao redor de sua mesa, instrui-os com Sua palavra e lhes dá o alimento da fé, o próprio corpo e sangue de Cristo. É o banquete do Pai com seus filhos, no qual nos reconhecemos também como irmãos e nos comprometemos mais e mais na vivência do amor filial e do amor fraterno, a ser testemunhado na caridade. É o banquete profético, que anuncia a “ceia no reino de Deus”, na qual será plena a vida, o amor, a fraternidade e a paz. Enquanto celebramos a Eucaristia na terra, na nossa condição de peregrinos, e esperamos a sua vinda, proclamamos também nossa esperança: vem, Senhor Jesus, maranathá!
A Eucaristia também é o sacramento de Jesus e sua Igreja. O que é a Igreja, senão a comunidade de Jesus, com seus discípulos, unidos a Ele por laços sobrenaturais, enviados ao mundo como testemunhas e missionários de seu Evangelho? Na celebração da santa Missa, isso se manifesta no sinal da assembleia eucarística reunida em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; na comunhão de preces, súplicas e cânticos de adoração, súplica e louvor, na escuta e acolhida da Palavra de Deus; na comunhão eucarística, alimento da fé, e no envio missionário às ocupações da nossa vida diária. A Eucaristia celebrada é o sinal-Sacramento da Igreja: de Jesus sacerdote, palavra de Deus e pastor, com seus irmãos, o “povo que Ele conquistou com seu sangue” e conduz à casa do Pai.
Quanta coisa bonita temos a recordar sobre a Eucaristia, esse verdadeiro tesouro da nossa fé! É bem conhecida a palavra do Papa João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia – A Igreja vive da Eucaristia (2003): “A Igreja faz a Eucaristia”; de fato, porém, é a Eucaristia que faz a Igreja. A celebração da Eucaristia é a ação central da vida da Igreja. Sem ela, certamente, nós perderíamos bem depressa a percepção daquilo que é a Igreja e da relação dela com Jesus Cristo e com o conjunto das verdades da nossa fé. É o que acontece com quem, de fato, se afasta da participação da Eucaristia por muito tempo: vai perdendo a sua relação com a Igreja real, humana e frágil, com suas limitações humanas, mas também santa, bela e forte, graças Àquele que a habita, acompanha e fortalece.
Em termos pastorais, temos muito a fazer para que todos os fiéis participem da celebração do sacramento da Eucaristia de maneira assídua, consciente, ativa e frutuosa. Lamentavelmente, conforme revelou a pesquisa do nosso sínodo arquidiocesano, ainda são poucos os católicos que participam regularmente da celebração da Missa. Como seria importante que os católicos participassem regularmente da Missa dominical! Como é importante que a Eucaristia seja sempre celebrada bem para que o “mistério da fé” seja manifestado, acolhido e amado pelos que dela participam.
Em nossa Arquidiocese, precisamos dedicar uma renovada atenção à catequese eucarística para crianças, adolescentes e jovens. Mas também para os adultos que não tiveram a oportunidade de se aproximar “da mesa do Senhor” e de se alegrar na comunidade de fé. O apreço à Eucaristia começa na infância, na medida em que os pais levam as crianças à igreja e lhes explicam, com palavras simples e diretas, aquilo que a Igreja crê e celebra na Eucaristia. Melhor ainda quando as palavras são acompanhadas pelo exemplo dos pais que vão à Missa, participam com fé e recebem a Comunhão.