Na celebração do Natal, muitos sinais de festa ao nosso redor fazem referência a algo muito grande e bom para a humanidade. Mesmo sem saber dizer bem de que se trata, há contentamento, sentimentos bons, expressões de fraternidade e de pacificação dos corações. Que há de tão grandioso no Natal, que os cristãos celebram e compartilham também com quem não crê como nós ou não é animado por nenhuma fé ou religiosidade?
Vamos falar do Natal como aprendemos da Palavra de Deus e da Igreja, assim como cremos. Do Evangelho de São Lucas, sabemos que o filho nasci- do de Maria é fruto da ação do Espírito Santo no seio dela e, por isso, “será chamado filho de Deus”. Jesus é filho de Maria, mas também é filho de Deus. Em outras palavras, entra no mundo e nasce humanamente de Maria o Filho de Deus, assumindo a nossa natureza e condição humana. Isso é inaudito, grandioso! Impossível ao homem, mas não a Deus (cf. Lc 1,35-37).
No Evangelho de São Mateus, Jesus é anunciado a José, que estava confuso diante da gravidez de Maria, bem sabendo que o filho esperado por ela não fora gerado por ele. Também Mateus fala que Maria “achou-se grávida por obra do Espírito Santo” (Mt 1,18). O mesmo diz o anjo a José, visitando-o em sonhos: “Não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo” (Mt 1,20).
Na visita a Zacarias e Isabel, Maria é saudada pela prima como “mãe do Senhor”: “Como acontece que a mãe do meu Senhor venha a mim?” (Lc 1,43). A saudação é forte e expressa a fé clara que a comunidade cristã primi- tiva já tinha a respeito de Jesus: Ele é “o Senhor”, título que era dado apenas a Deus. Em outras palavras, é o reco- nhecimento de que o filho que Maria gera humanamente para este mundo é também filho do eterno Deus.
Os fatos que envolvem o nascimento de Jesus, narrados pelos Evangelhos de Mateus e Lucas, dão a entender que esse nascimento é extraordinário e divino. Os anjos a cantar, dando boas notícias aos homens, fazem parte das cenas onde Deus se manifesta e está em ação. E são os anjos, mais uma vez, que dão aos pastores a explicação do que acontece na noite de Belém: “Não temais! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11).
O Evangelho de São João não narra os fatos ligados ao anúncio e nas- cimento de Jesus. Mas o prólogo do seu Evangelho é uma interpretação teológica desses mesmos fatos e do próprio nascimento de Jesus. Nele, “a palavra eterna e poderosa de Deus entra no tempo e se faz carne para estar no meio da humanidade. No nascimento de Jesus, a luz esplendorosa de Deus brilha no mundo e dá a todos a possibilidade de caminhar na verdade dessa luz. No nascimento de Jesus, resplandece no mundo a glória de Deus, do Filho Unigênito de Deus, cheio de graça e de verdade”. E a quem dele se aproxima e nele crê, também é dado o poder de se tornar filho de Deus. Se ninguém jamais viu a face de Deus, isso agora muda com o nascimento de Jesus: “O Deus Unigênito, que está no seio do Pai, nô-lo revelou” (cf. Jo 1,1- 18). Em Jesus, Deus está humanamente no mundo.
Naturalmente, o que os Evangelhos dizem sobre quem é Jesus, nascido da Virgem Maria, não se resume às narrativas do nascimento e da infância de Jesus, que nós lemos nos tempos litúrgicos do Natal e Epifania. É preciso percorrer todo o caminho dos Evangelhos para compreender quem é esse, que nasceu pequenina e frágil criança, como recordamos no Natal. Ao longo de sua vida pública, Jesus foi revelando pouco a pouco o mistério que o envolvia. Por um lado, inteiramente humano, o mais humano dos humanos. Ao mesmo tempo, na sua condição humana, também está a realidade divina, que se manifesta e age de formas surpreendentes e variadas.
A celebração do Natal tem no seu centro o mistério da encarnação, do Filho eterno de Deus, que se fez humano, “nasceu de mulher”, assumiu em tudo a nossa condição humana, “menos o pecado”, como diz São Paulo. Sim, Ele nunca esteve sujeito ao pecado, mas assumiu o pecado da humanidade sobre si, purificando-a e santificando-a com sua divindade. Grande presente do céu nos foi dado: assumindo a nossa pobreza, Ele nos enriqueceu com o esplendor de sua divindade.
O mistério da encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade foi, certamente, o maior acontecimento na história, desde a criação do homem e do mundo. Mas esse Mistério Santo não está na ordem da ciência e nenhum cientista o comprovará. Ele está na ordem da fé e pode ser acolhido apenas mediante a oração e a contemplação, de coração humilde e agradecido.