Natal tem tudo a ver com família: um casal, uma mulher que dá à luz, nascimento de uma criança, parentes, vizinhos, uma comunidade onde vive a família. O Filho de Deus entra no mundo num contexto de família, e isso tem um significado enorme. Deus valoriza a família humana, está no meio das pessoas que creem e aceitam sua vontade. Deus não desdenha das realidades humanas, mas as assume e as eleva e santifica. Os textos do Natal falam dessa realidade bonita: “Dai-nos participar da divindade daquele que uniu a vós a nossa humanidade” (Missa da noite, oração sobre as oferendas). E ainda, na mesma missa: “Dai-nos alcançar por uma vida santa seu eterno convívio” (Oração da comunhão). No dia do Natal, os textos litúrgicos expressam de forma esplêndida o benefício que o mistério da encarnação e o nascimento do Filho de Deus trazem à humanidade: “Ó Deus, que admiravelmente criastes o ser humano e mais admiravelmente restabelecestes a sua dignidade, dai-nos participar da divindade daquele que se dignou a assumir a nossa humanidade”. E a oração após a comunhão, da mesma missa, faz um pedido ousado, mas plenamente consequente com o mistério do Natal: “Que o Salvador do mundo, hoje nascido, como nos fez nascer para a vida divina, nos conceda também a imortalidade”.
Aprofundando a reflexão sobre o mistério do Natal, perguntamos: por qual motivo o Filho de Deus se fez homem? E a resposta está nos textos da Palavra de Deus e da li- turgia: por extremo amor. Somente por isso. Deus não perdeu nada de sua glória, mas o homem foi extremamente valorizado. “Tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna”, revela Jesus a Nicodemos (Jo 3,16-17).
Os prefácios da Missa do Natal expressam igualmente a fé da Igreja na grandeza do mistério do Natal. O 3º Prefácio fala do acontecimento do Natal como um “maravilhoso encontro, que nos dá vida nova em plenitude”. Ainda no mesmo formulário, aparece o significado maior da antropologia cristã: “No momento em que vosso Filho assume a nossa fraqueza, a natureza humana recebe uma incomparável dignidade. Ao se tornar Ele um de nós, nós nos tornamos eternos”. Por aí se compreende bem a afirmação dos Padres da Igreja: a nossa redenção teve início com a encarnação do Filho de Deus em nossa carne humana.
O nascimento de Jesus é também um evento maravilhoso de revelação divina: “Reconhecendo a Jesus como Deus visível aos nossos olhos, aprendemos a amar nele a divindade que não vemos” (1º prefácio do Natal). De forma semelhante se expressa a Igreja no 2º prefácio do Natal: “Ele, no mistério do Natal que celebramos, invisível em sua divindade, tornou-se visível em nossa carne”. Nascendo “de mulher”, como diz São Paulo, o Filho de Deus, “gerado antes dos tempos, entrou na história da humanidade para erguer o mundo decaído” e introduzir o homem decaído no reino dos céus. São textos carregados de significado e coerentes com a Palavra de Deus e com a nossa fé em Jesus Cristo.
Quanta beleza contém a celebração do Natal! E nasce daí a dimensão social dessa mesma comemoração. Nós, cristãos, somos chamados a fazer festa, a nos alegrar, a compartilhar nossa alegria com todos! Convidamos também os irmãos de fé diferente e os que não têm fé a se alegrarem conosco. O Natal é uma boa notícia para toda a humanidade! Também é a festa da fraternidade universal de toda a humanidade. O Filho de Deus veio ao mundo para ser um de nós. Mas não somente isso: veio para nos revelar que Deus ama a todos e que todos podem ser filhos e filhas seus. Por isso, todos são chamados a serem irmãos e a viverem assim. A fraternidade da grande família humana, sem distinção, é decorrência de nossa fé em Deus e na encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade. As ações para levar alegria e esperança aos pobres, doentes e pessoas que sofrem não podem faltar na celebração do Natal. Natal e fraternidade são inseparáveis e, por isso, a Igreja também lança apelos e ações de reconciliação e paz para a grande família humana nesta época. O Natal é uma boa notícia para a humanidade!