O Pastor bom

O 4º Domingo da Páscoa é conhecido como o Domingo do Bom Pastor. Nele se lê a cada ano, na Missa, uma parte do capítulo 10º do Evangelho segundo São João, no qual Jesus se apresenta como a porta dos pastores e das ovelhas e também o bom pastor das ovelhas.

Jesus é a porta do redil para os verdadeiros pastores, que devem passar por Ele para se aproximarem das ovelhas. Quem tenta aproximar-se das ovelhas de outro modo “é ladrão e salteador”, nas palavras do próprio Jesus, e não tem boas intenções em relação às ovelhas. “O ladrão aproxima-se das ovelhas apenas para roubar, dispersar e matar” e as ovelhas fogem dele, pois não reconhecem a voz de estranhos.

Em seguida, Jesus também se apresenta como a porta das ovelhas. Pastores verdadeiros passam pela porta, aproximam-se das ovelhas e elas escutam a sua voz porque a reconhecem. Ele as leva para fora, passando pela porta, que se abre para pastagens boas e águas refrescantes. A “porta” e o “porteiro” conferem autenticidade aos pastores e dão segurança às ovelhas.

Ainda no mesmo capítulo do quarto Evangelho, Jesus mesmo identifica-se com o pastor bom e verdadeiro (cf. Jo 10,11-18), que cuida bem de suas ovelhas e dá a vida por elas. A passagem precisa ser entendida à luz do capítulo 34 do livro do profeta Ezequiel, no qual Deus faz advertir os maus pastores, que descuidaram do rebanho e deixaram que se perdesse, enquanto só pensaram no proveito que podiam tirar do leite, lã e carne das ovelhas. Não as defenderam contra o lobo e o ladrão e, por isso, o rebanho foi disperso, desorientado e dizimado.

O povo de Israel estava no exílio, na Mesopotâmia, depois de ter sido atacado pelos inimigos, que destruíram e saquearam, mataram muita gente e levaram para o exílio, como escravos, boa parte dos sobreviventes. E o profeta cobrou contas das autoridades e chefes do povo, culpando-os pelo que aconteceu, qualificando-os de “pastores maus”, pois apenas cuidaram do próprio interesse e de salvar sua pele, em vez de defender as ovelhas. Por meio do profeta, Deus faz saber que as ovelhas são suas e que Ele mesmo vai tomar conta delas daí por diante, prometendo enviar ao povo um pastor bom e justo, que cuidará dele com justiça.

Assim fica mais clara a afirmação de Jesus: “Eu sou o pastor bom. O pastor bom dá a vida pelas ovelhas” (Jo 10,11). Jesus se apresenta como aquele pastor bom anunciado por Deus por meio do profeta Ezequiel. E as qualidades do pastor bom e sintonizado com o coração de Deus são várias e expressivas: ele conhece as ovelhas pelo nome e elas o conhecem também; ele arrisca e entrega a vida pelas ovelhas na defesa contra o inimigo delas; ele não foge diante do perigo e do ataque feito contra elas pelo lobo e o ladrão.

Nós lemos esse texto e pensamos logo no tipo de pastores que devem ser os padres e bispos, que têm a missão de serem pastores do povo. No entanto, não se deve colocar em segundo plano o sentido cristológico e pascal dessa comparação. Ela diz respeito, primeiramente, ao próprio Jesus. Ele é o pastor bom que, lutando contra os inimigos das ovelhas e na sua extrema dedicação a elas, acabou entregado a própria vida em favor delas sobre a cruz. E, ressuscitando, Jesus Cristo mostrou-se o Bom Pastor, aprovado por Deus Pai, dando vida nova às ovelhas de seu rebanho, fazendo viver nos prados abundantes do Evangelho e dos sacramentos, restaurando as suas forças e conduzindo-as por meio da vida por caminhos seguros.

Pensemos no significado importante dessa parábola para os tempos difíceis que os cristãos já enfrentavam na segunda metade do primeiro século do Cristianismo: perseguições, prisões, torturas e martírio por causa de Cristo; além disso, falsos mestres e falsas doutrinas, desvios na pregação do Evangelho… Nesse contexto, ganha todo o sentido a afirmação: “Eu sou a porta das ovelhas. Quem não se aproximar das ovelhas passando por mim, é falso pastor, é ladrão e salteador”. Ou as afirmações de Jesus: “Eu sou o pastor bom. Conheço as minhas ovelhas. Dou a minha vida pelas ovelhas”. Isso dava segurança e serenidade aos cristãos postos à prova. Pensemos no significado que isso tem também para nós, que vivemos tempos difíceis ainda hoje.

Sintamo-nos todos alegres, amparados e seguros na companhia do Pastor Bom. E rezemos para que Deus envie vocações à sua Igreja para que não venham a faltar ao povo muitos e santos pastores bons. E rezemos pelos seminaristas, pelos padres e bispos, que também são ovelhas do rebanho do Senhor e, ao mesmo tempo, têm a vocação e missão de serem pastores bons, conforme o coração de Deus e de Jesus.

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