Algumas perguntas são fundamentais na vida de cada pessoa: que sentido tem minha vida? Como devo viver? O que devo fazer para alcançar as metas na vida? No Evangelho, um mestre da Lei pergunta a Jesus: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” (Lc 10,25). Esse escriba tinha como objetivo na vida alcançar a vida eterna e ele bem sabia o que devia fazer, mas quis saber a resposta de Jesus. O evangelista diz que se tratava de uma armadilha e que o escriba queria “pôr Jesus em dificuldade”.
Em todo o caso, a pergunta era importante e Jesus levou seu interlocutor a sério, indicando-lhe o caminho dos mandamentos – amar a Deus e amar o próximo: “Faze isso e viverás” (cf. v. 27-28). O caminho ordinário para alcançar a vida eterna é a observância dos mandamentos e isso vale para todos. A prática dos mandamentos não vale somente para judeus e cristãos, pois os mandamentos revelam o que é mais fundamental na vivência do caminho que leva para Deus.
O problema é que o homem sempre procura subterfúgios, para evitar a observância dos mandamentos. O escriba, na sua malícia, continuou tentando pôr Jesus em dificuldades e perguntou: “E quem é meu próximo?” (v. 29). Essa tentação de esquivar-se da prática dos mandamentos não é nova e levou Moisés, no Deuteronômio, a ensinar com insistência: “Ouve a voz do Senhor, teu Deus, e observa seus mandamentos e preceitos. Converte-te ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma. (…) Este mandamento que hoje te dou não é difícil demais, nem está fora do teu alcance. Não está no céu (…) nem está do outro lado do mar (…). Ao contrário, esta palavra está bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” (cf. Dt 30,10-14).
Esse belo texto é antigo e sempre atual, fazendo-nos compreender que Deus não esconde sua vontade de ninguém, mas a todos dá a possibilidade de conhecê-la. Basta buscar com sincero coração e com o desejo de encontrar a Deus. Foi o que Jesus também ensinou: “Pedi e recebereis; batei, e vos será aberto; buscai e achareis” (Lc 11,9). Mesmo sem ter lido a Bíblia, ou sem ter estudado o Catecismo, é possível encontrar Deus mediante a luz da consciência e, também, mediante os sinais de Deus presentes em toda a Criação. São Paulo diz que não têm desculpas aqueles que não encontram Deus, mesmo que seja “às apalpadelas” (cf. Rm 1,18-23).
No entanto, a fé cristã leva além do conhecimento natural de Deus e acolhe a revelação da vontade e dos caminhos de Deus ao homem. A Bíblia narra a progressiva manifestação de Deus à humanidade, inserindo-se na história e na vida do povo que escolheu, para dar-se a conhecer. Mais que intelectual, foi um conhecimento passado por meio das experiências mais diversas da vida desse povo. E assim, no tempo marcado pela sua Providência, Deus enviou seu Filho ao mundo para que se tornasse um de nós, sem deixar de ser o Filho eterno do Pai celestial.
Em Jesus Cristo, Deus revelou sua face e seu coração à humanidade, de maneira que, todo aquele que se aproximar dele, pode conhecer Deus humanamente. Jesus é o “rosto humano de Deus e o rosto divino do homem” (V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, Aparecida, 2007). São Paulo ensinou à comunidade dos Colossenses, que ainda procuravam Deus nos astros e nas forças cósmicas: “Cristo é a imagem (visível) do Deus invisível” (cf. Cl 1,15). Jesus é, para o homem, “o caminho, a verdade e a vida. Quem o segue, não anda nas trevas, mas tem a luz da vida” (cf. Jo 8,12).
O mestre da Lei, que queria pôr Jesus em dificuldades, aprendeu que não basta conhecer a Deus, nem conhecer ao próximo. Não se trata de mera questão intelectual, mas de escolha e decisão, que depende de nós: É preciso amar a Deus sobre todas as coisas e, portanto, também obedecer aos seus mandamentos. Não se trata de definir quem é meu próximo, mas de ter a sensibilidade em relação a cada pessoa se fazer próximo dela. O “bom samaritano” da parábola talvez fosse pouco instruído na religião, mas teve compaixão do homem caído à beira do caminho, deixado quase morto pelos assaltantes. Os outros dois, que talvez conhecessem bastante a religião intelectualmente, não fizeram a mesma coisa e deixaram de cumprir o mandamento do amor ao próximo.
O que devemos fazer para seguir a vontade de Deus e alcançar a vida eterna? As respostas são múltiplas, porque Deus dá ao homem muitos caminhos para conhecer sua vontade. Basta procurar sinceramente, sem subterfúgios. Deus não esconde sua vontade e seus caminhos a ninguém, mas a todos concede a possibilidade de O encontrar.