Durante o tempo pascal, a Igreja proclama e testemunha a ressurreição de Jesus e seu significado extraordinário para Ele e para nós. Jesus não é uma ideia, uma lembrança do passado, uma doutrina ou um receituário para nos satisfazer em qualquer situação e necessidade. A Igreja proclama Jesus Cristo como Filho de Deus, que assumiu a nossa condição humana e a resgatou e elevou, dando-nos uma dignidade e uma esperança que nós nunca poderíamos alcançar por nós mesmos.
Jesus Cristo não pertence ao passado. Ele está hoje vivo e presente no meio de nós, como prometeu: “Eu estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos”. Ele caminha com a sua Igreja, mostrando-lhe o caminho, confortando-a nas suas tribulações e sustentando o seu passo. No tempo pascal, recordamos esta verdade bonita. Ele está vivo e presente no meio de nós. E nos conduz para o nosso futuro, já inaugurado por Ele mediante sua ressurreição. Também nós, desde agora, participamos de sua vida gloriosa, mas ainda na penumbra da fé e na esperança. Um dia, a participação na glória de Jesus ressuscitado será plena para nós também.
Por outro lado, o tempo pascal também nos recorda do que significa ser cristão e como se deve expressar a vida cristã. Na Vigília Pascal, renovamos a profissão de fé e as promessas do Batismo, significando que assumimos a nossa condição de cristãos com nova alegria e empenho, a partir da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. De fato, fomos batizados na morte de Jesus e renascemos para a vida nova mediante a participação na sua ressurreição. No Batismo, recebemos imensos dons e graças. Somos filhos e filhas de Deus, membros da família de Deus neste mundo, a Igreja. E recebemos o dom da vida divina pela graça do Espírito Santo, a nós concedido pelo Senhor ressuscitado.
Durante as semanas do tempo pascal, a mistagogia litúrgica vai nos lembrando das diversas dimensões da dignidade dos cristãos e da vida cristã. Antes de colocar em destaque a nossa missão, como cristãos, nos é lembrado de que os cristãos pertencem a Jesus Cristo. Não é uma pertença de posse, mas de privilégio e de gratuidade. Para não perder seu sentido, a vida do cristão nunca pode estar desvinculada de Cristo, do seu Evangelho e da sua Igreja, que é a comunidade dos seus discípulos. Nossa adesão a Jesus Cristo não é uma adesão a ideias e doutrinas apenas, mas, sobretudo, adesão à sua pessoa. E isso não é um peso nem nos tira a liberdade, mas enche nossa vida de sentido e esperança.
No 6º Domingo da Páscoa, celebrado no dia 9 de maio, apareceu de maneira destacada que a vida do cristão consiste em corresponder ao amor de Deus, que se revelou a nós por Jesus Cristo. A iniciativa do amor não foi nossa, para merecermos ser cristãos, mas foi Deus que nos amou primeiro e enviou ao mundo seu Filho, para que todos possam ter a vida por meio dele (cf. 1Jo 4,7-10). Esta afirmação inverte o conceito que geralmente se tem da religião, como se fosse a busca de Deus pelo homem. De fato, é Deus que procura o homem, manifesta-lhe seu amor e o atrai a si. De muitos modos, Deus nos atrai a si. E nós buscamos a Deus porque Ele nos atrai a si. De nossa parte, devemos deixar-nos atrair por Deus, e não resistir à sua manifestação suave e misteriosa.
Jesus, no Evangelho de São João, diz claramente aos apóstolos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi” (Jo 15,16). A vida cristã é fruto de um olhar de predileção de Jesus por nós. E Ele chama a todos para sua companhia, pois entregou a sua vida sobre a cruz por todas as pessoas. Ele amou até o fim, a ponto de oferecer a sua vida até a morte pelos que Ele ama: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos”. E completa com esta bela afirmação: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (Jo 15,13-15).
Os cristãos são os “amigos de Jesus”, que foram atraídos por Ele, estão com Ele e o seguem, que o amam apaixonadamente e acolhem e valorizam cada palavra sua e testemunham seu Evangelho até a entrega da própria vida, se preciso for. Quanta coisa poderia mudar se entendêssemos que a vida cristã consiste em viver a amizade com Jesus e em corresponder ao amor que Ele tem por nós! Nada mais se tornaria pesado na vida cristã. Os amigos verdadeiros fazem tudo com alegria e leveza pelo amigo! Ninguém mais estaria a reclamar que a vida cristã tira nossa liberdade ou nos impõe coisas contra a nossa vontade. Quem ama compromete sua liberdade com alegria, pois o amor verdadeiro é uma libertação e um enriquecimento!