Praticantes da Palavra de Deus

Setembro é, para a Igreja Católica no Brasil, o mês da Bíblia. Essa prática é promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) há cerca de 50 anos, propondo todos os anos um livro da Bíblia, ou um tema específico, a ser estudado e refletido durante este mês. O objetivo é ajudar o povo católico a ter maior familiaridade e apreço pela Bíblia, o Livro da Palavra de Deus.

Durante esses anos todos, aconteceu uma difusão bíblica extraordinária entre os católicos. Milhões e exemplares da Bíblia foram adquiridos e distribuídos; uma infinidade de cursos e estudos bíblicos breves foram promovidos para que o povo tivesse melhor acesso à leitura e compreensão da Bíblia. Este, de fato, é um livro diferente de outros e nem sempre é de fácil compreensão: trata-se de uma verdadeira biblioteca de 72 livros, escritos ao longo de muitos séculos, por muitos autores diversos. A Bíblia é o testemunho da vivência de um povo com Deus e de Deus com seu povo. Ela contém a Palavra de Deus, mas esta precisa ser compreendida a partir do contexto em que ela foi revelada, acolhida e transformada em texto.

A Palavra de Deus na Bíblia está revestida de muitos elementos de história, cultura, literatura e práticas religiosas do povo de Deus e de outros povos. Por isso, a Bíblia precisa ser lida, estudada com atenção e explicada, para “extrair” do seu texto a Palavra que Deus comunicou aos homens para seu bem e sua salvação. Por isso, há uma multidão de estudiosos da Bíblia em todo o mundo, que buscam explicitar o significado dos seus textos, ajudando a acolher sempre melhor a Palavra amorosa de Deus. Certamente, a Bíblia é o livro mais espalhado e mais estudado em todo o mundo.

Mas nem todos têm a possibilidade de fazer estudos aprofundados sobre a Bíblia. Isso, porém, não impede que cada pessoa possa ler a Bíblia com proveito. O mais importante é o desejo de “ouvir Deus” por meio da leitura do texto bíblico. A ajuda de alguém que já possui alguma iniciação na leitura e explicação da Bíblia sempre poderá ser útil. Não se trata da leitura por mera curiosidade ou motivação estética, literária ou histórica, mas de uma ação religiosa, motivada pela fé e pelo desejo de “ouvir Deus”, colocando-se na atitude do menino Samuel: “fala, Senhor, teu servo escuta” (1Sm 3,9). Nossa atitude devia ser também aquela da multidão, que seguia Jesus o dia inteiro só pelo desejo de ouvir sua palavra, e que dizia: “hoje vimos (ouvimos) coisas maravilhosas” (cf Lc 526; Mc 12,37).

Se a leitura pessoal e individual da Palavra de Deus é aconselhada a todos, para o crescimento na fé e nos caminhos de Deus, mais ainda, a Igreja recomenda ouvir e acolher a Palavra divina na comunidade de fé, sobretudo no contexto da Liturgia. Quando a Igreja lê e proclama a Palavra de Deus no contexto da celebração litúrgica, podemos ter a certeza de que essa “Palavra da Salvação” deixa de ser simplesmente um texto herdado do passado, referente a fatos antigos, e se torna “Palavra do Senhor” dita a nós no hoje de nossas vidas e nossa história. Os destinatários da Palavra, proclamada hoje, somos nós, e não mais apenas as pessoas do passado.

Dizia o Papa Francisco em certa ocasião: o texto bíblico não é texto morto e fóssil, mas segue sendo palavra viva e amorosa dirigida por Deus aos seus filhos através das gerações, mediante a ação do Espírito Santo. É Ele que faz ressoar em nossa consciência e em nosso coração a Palavra proclamada e lida com fé e coração aberto. Por isso, cada vez que ouvimos ou lemos a Palavra de Deus, é necessário que invoquemos o Espírito Santo, a fim de que Ele nos prepare para acolher com fé a santa Palavra.

Ler, estudar, conhecer e explicar a Palavra de Deus é bom, mas isso ainda não basta. São Tiago recomendou aos cristãos: “Recebei com humildade a Palavra que em vós foi semeada. Ela é capaz de salvar as vossas almas. Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando a vós mesmos” (Tg 1,21-22). A Bíblia não deve apenas ser conhecida e compreendida, mas amada como um presente amoroso de Deus à humanidade e a cada pessoa. Jesus proclamou ‘felizes aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a praticam (cf Lc 11,28).

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