No dia 18 de maio foi realizada a 3ª etapa da assembleia arquidiocesana de pastoral, com o objetivo de delinear um projeto pastoral pós-sinodal da Arquidiocese de São Paulo. Tendo presentes os passos dados no sínodo arquidiocesano (2017-2023), as diretrizes e propostas pastorais divulgadas na Carta Pastoral “Comunhão, Conversão e Renovação Missionária” (2023), a assembleia confrontou-se, sobretudo, com esta questão: como levar à prática da vida eclesial e pastoral as indicações sinodais?
Já temos abundantes propostas e diretrizes, amadurecidas durante e após o sínodo arquidiocesano. Procuramos “ouvir o que o Espírito Santo diz à nossa Igreja”; percebemos, de muitos modos, que precisamos preservar, cultivar e aprofundar a comunhão da fé da Igreja, da esperança e da caridade, ser uma Igreja “em saída missionária”, que não se ocupe apenas com sua autopreservação, mas também se interesse pelos “irmãos ausentes”; e percebemos que, para isso, precisamos abrir-nos a um processo de “conversão e renovação” espiritual e pastoral. Talvez essa parte foi a menos difícil do processo sinodal.
Defrontamo-nos, agora, com a parte mais complicada do processo sinodal: como devemos fazer? Onde concentrar os esforços, sem abandonar os demais aspectos da vida e missão da Igreja? Esse “como fazer” envolve escolhas, prioridades e métodos e requer a proatividade e a boa vontade de todos os membros da Igreja de São Paulo, especialmente daqueles que já exercem funções e responsabilidades pastorais nas comunidades. E requer nossa fé firme na ação do Espírito Santo e nossa perseverança e confiança na sua ação suave e luminosa, sábia, paciente e perseverante.
Como vamos fazer, tendo em vista as diretrizes e propostas sino-dais, para sermos uma Igreja que se renova na missão, na dedicação ao anúncio da Palavra de Deus, que desperta a fé e atrai para a vivência da Igreja? Sabemos que pre-cisamos fazer isso: como fazer para que nossas paróquias e todas as organizações e expressões de vida e ação eclesial sejam “comunidades missionárias”? Como alcançar as pessoas com o “belo anúncio”, por meio da evangelização querigmática, a boa pregação, a boa catequese e a formação cristã ao longo da vida? Como alcançar com a ação missionária os 70% dos católicos que estão longe do convívio das comunidades da Igreja?
O testemunho da caridade, da esperança e das obras de misericórdia é distintivo dos cristãos, por determinação do Fundador e Senhor da Igreja. O testemunho das obras de amor, misericórdia e esperança confirma se nossa fé está viva ou morta, se é autêntica ou não. Apesar das muitas e belas ações caritativas já existentes por toda parte em nossa Arquidiocese, ainda se faz necessário crescer e alargar a caridade operante e a caridade organizada. Em todas as organizações da vida eclesial deve haver alguma expressão de caridade organizada. Como fazer para que isso aconteça, na amplidão e diversidade que o Evangelho e a “criatividade da caridade” suscitam? Como tornar mais eficaz o testemunho público da nossa fé, que floresce na caridade e na esperança?
O Papa Francisco vem repetindo em diversas ocasiões que a Igreja de Cristo não é uma “ONG do bem”. É certo que ela deve fazer, e também faz, tanto bem. Mas sua existência não se esgota nisso. Ela existe para anunciar aos homens o caminho, a verdade e a vida, para a glorificação de Deus e a santificação do homem, para ser “instrumento” da ação de Deus no mundo. Ela chama a todos a viverem sua vocação primordial, que é a vida santa, na comunhão com Deus e na vida nova “segundo o Espírito de Deus”. Por isso, ela convoca a todos os seus filhos a celebrarem sua fé mediante a adoração e louvor de Deus, a acolhida dos “mistérios da graça e da santificação”, que são os sacramentos, mediante a acolhida humilde do perdão e da misericórdia de Deus e da graça necessária para viver e testemunhar os valores da “vida nova” que vem do Evangelho do reino de Deus no mundo.
Sem a celebração da fé, esta esmorece e se acaba. Estamos diante de uma grave crise da prática sacramentária na Igreja, envolvendo todos os sacramentos. Diante da constatação objetiva de que apenas 30% dos católicos participam, me-nos que mais, das celebrações dominicais da Igreja, como fazer para que nossas celebrações dominicais sejam participadas por mais pessoas, que também foram batizadas e são católicas? Como melhorar e aumentar a prática da vida sacra-mentária em nossas comunidades, a começar pela participação na missa dominical?
O projeto Pastoral “de emergência” da Arquidiocese de São Paulo deverá trazer respostas indicativas para promover a “comunhão, conversão e renovação missionária” de nossa Igreja particular, para que sejamos, mais e melhor, “testemunhas de Deus na Cidade”.