Quem vai renovar a Igreja?

Na proximidade do encerramento do tempo pascal e da solenidade de Pentecostes, a Liturgia da Igreja traz as promessas de Jesus sobre o envio do Espírito Santo. Ele refere-se ao Espírito Santo de diversas maneiras, especialmente no Evangelho de São João: como Defensor da Igreja e Mestre do Evangelho, que o recordará sempre de novo à Igreja e a ajudará a permanecer fiel, anunciando-o ao mundo, em tempos, lugares, culturas e circunstâncias diversas.

O Espírito Santo também é o Paráclito, o Consolador, que estará sempre com os discípulos e os confortará em suas aflições e dificuldades, por causa do testemunho de Jesus (cf. Jo 14,16). É o Mestre do Evangelho, que faz compreender a sua verdade plena (cf. Jo 16,13-15). É o Defensor dos apóstolos e da Igreja, “que o Pai enviará em meu nome e que vos ensinará e recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14,26). É o “Espírito da verdade”, enviado pelo Pai e o Filho, que preserva a Igreja do erro, faz voltar à verdade, quando ela erra e dá vigor e fruto ao seu testemunho (cf. Jo 15,26). O Espírito Santo também é Defensor, luz de discernimento, que faz compreender em que consiste o pecado, a justiça (santidade) e o julga- mento (cf. Jo 16,6-11). Sem acolher o Espírito Santo, não se é capaz de perceber a gravidade do pecado, nem a beleza e a dignidade da santidade, nem de se importar com o julgamento de Deus. Antes de se elevar ao céu, Jesus recomenda uma vez mais aos apóstolos que aguardem “aquele que meu Pai prometeu”, “a força do alto”, que os envolverá e ajudará no desempenho da missão recebida (cf. Lc 24,49).

A partir de Pentecostes, a ação transformadora do Espírito Santo se manifestou nos apóstolos, na sua pregação, nas suas ações e seu testemunho em favor de Jesus ressuscitado e, também, na comunidade dos fiéis reunidos em nome de Jesus. Os Atos dos Apóstolos estão repletos de exemplos dessa transformação, que acontece quando se acolhe o Espírito Santo. Ele também vai moldando a Igreja nos seus inícios, para que ela assuma seu caminho próprio, sempre fiel a Jesus e ao Evangelho. O Espírito Santo mostra como resolver os impasses que surgem, como no caso da instituição dos diáconos (cf. At 6) e na abertura da pregação do Evangelho aos pagãos, no “concílio apostólico” (cf. At 15). E os apóstolos se entendem como colaboradores do Espírito Santo na missão, deixando-se guiar por Ele, mas também assumindo as suas responsabilidades: “Decidimos, o Espírito Santo e nós” (At 15,28).

Ao longo da história, o Espírito Santo continuou a conduzir a Igreja como Mestre da verdade, Defensor, Luz da verdade, Força vital e dinâmica, Consolador nas aflições e perseguições por causa do Evangelho. Jamais poderíamos pensar que Ele tenha abandonado a Igreja em algum momento, pois isso equivaleria a invalidar as promessas de Cristo e a verdade do Evangelho. Pode acontecer, porém, que nós mesmos nos fechemos ao Espírito Santo, sem dar atenção, sem seguir suas inspirações, nem acolher a luz do seu discerni- mento. Podemos tornar-nos infiéis ao Espírito Santo e, como consequência, à Igreja de Cristo. Acontece quando, no serviço à Igreja ou na vivência cristã, afastamo-nos da verdade do Evangelho, da comunhão de fé e vida eclesial, dando maior atenção a projetos pessoais de poder e vaidades.

É por isso que, neste momento de crise de fé religiosa que o mundo atravessa e de crise vivida na Igreja, é fundamental que nos voltemos com fé firme e confiança humilde ao Espírito Santo, para que nos assista, ilumine, inspire, conduza, fortaleça e alegre no testemunho do Evangelho. E nos ensine de novo o Evangelho, como Jesus prometeu: “Ele vos ensinará todas as coisas que vos falei”. O Papa Francisco tem recomendado com ênfase a renovada atenção ao Espírito Santo, que é a verdadeira força renovadora e dinamizadora da Igreja. Sem isso, os projetos de renovação e reforma da Igreja podem ficar infrutíferos. Esse também é o motivo profundo da chamada a sermos “Igreja sinodal”, que caminhe unida e participativa, aberta e acolhedora para as moções do Espírito Santo, deixando-nos moldar por Ele, buscando respostas para as questões atuais da Igreja e ações para sua missão em nossos dias.

E não é diferente o propósito do nosso sínodo arquidiocesano. Desde a sua convocação, em 2017, o sínodo foi proposto como uma grande ação de escuta e discernimento daquilo que o Espírito Santo diz à Igreja de São Paulo – “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7), e para respondermos, de forma renovada à pergunta: “Senhor, o que devemos fazer?” (cf. At 22,10). Na oração pelo sínodo arquidiocesano, invocamos o Espírito Santo como “alma da Igreja”, luz de verdade, força renovadora e dinamizadora da Igreja. Pedimos a nossa conversão e renovação cristã e, como fruto, o aumento da fé, esperança e caridade, virtudes teologais que são a marca da vida cristã. Conversão ao discipulado e renovação da vida cristã vêm em primeiro lugar. E suplicamos um renovado ardor missionário, a exemplo do testemunho vigoroso dos Santos, que nos precederam no testemunho do Evangelho.

Na celebração de Pentecostes, e dando início à nossa assembleia sinodal arquidiocesana, invoquemos com fé e confiança o Espírito Santo sobre nós e toda a Igreja. É Ele quem renova a face da terra. E, também, da Igreja.

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