A festa de São José, dia 19 de março, no ano que lhe é dedicado, deveria ser marcada por muitas manifestações de devoção e apreço pelo “querido São José”. Infelizmente, porém, encontramo-nos numa fase crítica da pandemia de COVID-19 e teremos celebrações sem a participação do povo. A prudência e a solidariedade para com os numerosos enfermos e pessoas já falecidas nos levam a acolher as medidas restritivas de aglomeração de povo nesses próximos dias. Assim, evitando as ocasiões e situações de contágio do vírus, colaboraremos para poupar muitas pessoas dos sofrimentos e lutos por causa da pandemia.
E como fica São José? Como podemos perder esta ocasião de festejar o padroeiro universal da Igreja, das famílias, dos trabalhadores, dos enfermos, justamente no dia a ele dedicado? E respondo: nós ainda teremos muito tempo para lhe prestar homenagens ao longo do ano. Neste momento, porém, perguntemo-nos: o que dará mais alegria a São José – cuidar bem da saúde, evitar que mais pessoas fiquem enfermas e até percam a vida? Ou fomentar aglomerações e participar delas, com grandes riscos para a saúde de muitas pessoas?
São José foi um homem sempre aberto às surpresas de Deus em sua vida. Acolheu o mistério da maternidade de Maria, sua noiva, e a tomou como esposa, encarregando-se de cuidar do filho dela; surpresa ainda maior: o filho de Maria era também o Filho de Deus, que, por meio dela, vinha ao mundo. José, envolvido em tudo isso, assumiu com fé pronta e humilde os desígnios de Deus que o envolviam, apesar de nem sempre compreender.
José foi surpreendido duas vezes pelo anjo, que lhe trazia ordens de Deus. E ele, prontamente, se pôs a colaborar com Deus. Ao apresentar, com Maria, o menino Jesus no templo, José ouviu as palavras bonitas, mas misteriosas, do velho sacerdote Simeão e da igualmente idosa profetisa Ana sobre o menino Jesus. E o próprio menino Jesus, adolescente, o surpreendeu quando resolveu ficar no templo, em vez de acompanhar a caravana dos peregrinos. José ouviu de Jesus que sua casa não era a de Nazaré, mas o templo, a “casa do Pai”.
O bom e justo José ficou pensando no significado de todas palavras e circunstâncias. Por certo, Deus sabia o que fazia e ele se deixava conduzir pela Providência, seguindo em frente, na fé obediente. Não tinha a pretensão de ter tudo sob o seu comando e controle, uma pretensão nossa, que nos leva com frequência a confiar pouco em Deus e aceitar somente, como vindo de Deus, o que estiver adequado às nossas medidas e controles. José é grande porque se deixou conduzir pela mão providente de Deus. Confiar em Deus vai além da confiança em nossas capacidades e realizações.
Na festa de São José, nós o honraremos se aprendermos de novo as lições importantes que ele nos deixou, mesmo sem conhecermos uma só palavra do que tenha dito: ele é mestre do silêncio contemplativo e orante, atento aos desígnios misteriosos de Deus, noivo e esposo amoroso, homem devotado à família, pai solícito e de grande coração (carta apostólica Patris corde), trabalhador esforçado, cidadão justo e bom. Ensina a Igreja que a melhor devoção aos santos consiste na imitação de suas virtudes. Bem por isso, o Papa Francisco propôs este ano especialmente dedicado a São José: para olharmos para ele, conhecendo melhor esse homem extraordinário escolhido por Deus e colocado ao lado de Jesus e Maria.
Se Deus confiou a ele os cuidados do núcleo inicial da Igreja, que é a “família de Jesus” e a comunidade “dos irmãos de Jesus”, isso continua valendo nos desígnios insondáveis de Deus ainda hoje. Ele é o “cuidador” e “provedor” da casa de Deus e da família de Jesus. Por isso, neste ano, podemos valorizar mais a presença de São José em nossas famílias e nossos lares. Os homens e esposos podem aprender muito de São José e se dirigir muitas vezes a ele, pedindo ajuda; assim também os namorados e noivos, os trabalhadores, os enfermos e todos os que têm responsabilidades sobre outras pessoas na Igreja e na sociedade.
Mesmo sem povo nas missas e sem procissões pelas ruas, a festa de São José, deste ano, pode se tornar um marco na renovação da vida cristã e familiar. Que o bom José nos alcance graça, misericórdia e coragem, e nos defenda de todo o mal.