Ser missionários: chegou a nossa vez

No dia 9 de outubro, a Igreja comemorou a memória litúrgica de São João Leonardo, sacerdote italiano nascido em 1541 e falecido em 1609. Só para nos situarmos: ele nasceu quando a Igreja Católica fazia um enorme esforço de renovação missionária, depois da reforma protestante e do Concílio de Trento. Na mesma época, a recém-fundada Companhia de Jesus começava a se expandir, enviando missionários para a Europa, Ásia e América. Anchieta ainda era criança, mas, já em 1553, ele vinha ao Brasil e, em 25 de janeiro de 1554, participava da primeira missa celebrada na missão de São Paulo de Piratininga.

Naquela época, a Igreja esforçava- -se para superar o trauma vivido com a Reforma e o Cisma do Ocidente, que fez perder metade dos católicos da Europa. Viveu, então, um fervilhar de iniciativas missionárias e de “nova evangelização”, embora ainda não se usasse esse conceito, que é bastante recente. Entre essas iniciativas, estiveram as missões populares, a Catequese estendida mais amplamente ao povo, a criação dos seminários para uma renovada formação do clero, a preparação de missionários para serem enviados a outros povos e países, o incentivo às associações de leigos, as novas ordens e institutos missionários, a reforma da vida do clero e da vida religiosa. E não se pode esquecer do renovado cuidado dos pobres e doentes. São Vicente de Paulo e São Camilo de Lellis também são daquele período histórico fecundo. Como não ver semelhanças com o tempo em que vivemos, depois do Concílio Vaticano II?

São João Leonardo promoveu organizações para o incentivo à Catequese das crianças e fundou uma congregação para promover a formação religiosa do povo, sobretudo para a vida sacramental. Também nós precisamos promover tudo isso hoje, com urgência! E fundou um colégio para formar missionários a ser enviados a outros países, origem do Colégio Urbano e da Universidade Urbaniana, em Roma, ainda hoje voltados para a formação de missionários, sobretudo para a África e a Ásia. Sua iniciativa deu impulso à Propaganda Fide, atual Congregação para a Evangelização dos Povos, instituída pelo Papa, também naquela mesma época, para o serviço missionário em todo o mundo.

Nas preocupações missionárias da Igreja, há sempre duas frentes inseparáveis e complementares: a evangelização permanente do povo já evangelizado, mediante a boa Catequese, a boa liturgia, a promoção de uma intensa vida sacramental, e o testemunho da fé, esperança e caridade das comunidades cristãs. E isso deve acontecer nas comunidades já constituídas, com seus pastores e suas organizações eclesiais e pastorais. A outra frente é a missão ad gentes – mediante o envio missionário para o meio dos povos ainda não evangelizados e o apoio a esse trabalho “além-fronteiras”. Esses povos e grupos humanos não evangelizados podem estar perto de nós, como vem acontecendo sempre com maior frequência. Todos são destinatários da esperança do Evangelho e das promessas de Deus.

No dia 18 de outubro, a Igreja celebra mais uma vez a Jornada Missionária Mundial, com muitas iniciativas para manter viva em todos os católicos e cristãos a consciência do dever missionário. Na Igreja, somos todos agraciados e beneficiados pelo dom da fé e do Evangelho. Ao mesmo tempo, somos chamados a fazer a nossa parte para que o Evangelho continue a ser anunciado “a todos os povos” e o patrimônio da fé e da vida da Igreja continue a ser acolhido com ação de graças e transmitido para os outros. Todos os batizados são missionários, mas não todos o são da mesma maneira. Na messe e na vinha do Senhor há possibilidades de trabalho para muitos, em momentos e situações diversas, conforme a graça que cada um recebeu de Deus.

No passado, a Igreja viveu vários momentos de forte renovação missionária, quase sempre quando atravessava situações de grande crise. O Espírito Santo, que guia a Igreja, fez surgir iniciativas fecundas, inspirou homens e mulheres santos, cuja obra missionária perdura pelos séculos e chegou também a nós. Também nós, com nossas comunidades, somos fruto da dedicação missionária de pessoas que acreditaram e levaram a sério o envio missionário de Jesus. Hoje é nossa vez e temos a oportunidade de oferecer a nossa contribuição para a conversão missionária da Igreja. E podemos estar seguros de que o Espírito de Deus, que “renova a face da terra”, fará a sua parte, dando nova vitalidade à nossa Igreja.

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