O Ano Jubilar de 2025 marca os primeiros 25 anos do novo milênio cristão, iniciado solenemente com a celebração do Grande Jubileu do ano 2000. Foi um tempo de graça, preparado com uma novena de anos, com grandes e importantes propostas para a vida e a missão da Igreja. Foram marcantes as cinco assembleias continentais do Sínodo dos Bispos. Foi grande a ação de graças pelo dom da encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, pela graça do Evangelho, da redenção, da missão confiada à Igreja e do tesouro precioso da fé, conservada ao longo de dois mil anos, com a ajuda de Deus.
No Grande Jubileu, houve uma renovada tomada de consciência sobre a necessária e urgente revitalização missionária da Igreja e seu papel na edificação do mundo, segundo o reino de Deus. Terminada a celebração do Jubileu, o Papa São João Paulo II escreveu a Carta Apostólica Novo Millennio ineunte (“No Início do Novo Milênio”), dirigida aos bispos, ao clero e a toda a comunidade eclesial. Nela, o Papa fazia a memória agradecida de tudo o que foi celebrado durante esse ano de graças especiais. Ao mesmo tempo, lançava o apelo, como se fosse uma palavra de ordem: Duc in altum! (“Barcos ao mar!”); com essas palavras, Jesus convidou os apóstolos a avançarem, mar adentro, para lançar as redes em águas mais profundas (cf. Lc 5,6).
O Papa dizia que a missão da Igreja, longe de estar concluída, estava apenas no seu início e que o barco da Igreja, levando o Evangelho do reino de Deus, precisa ser levado para os vastos espaços do mundo a serem evangelizados. Mas lembrava uma questão fundamental: o Grande Jubileu foi ocasião para um renovado encontro com Jesus Cristo, para a contemplação do seu rosto, para encher-se de alegria, gratidão e entusiasmo. Essa mesma contemplação, partindo sempre de Cristo, deve acompanhar a Igreja em sua missão cotidiana durante o novo milênio, apenas iniciado.
São João Paulo II fez algumas recomendações importantes à Igreja: ela é testemunha do Evangelho no mundo e, por isso, a Palavra de Deus precisa ser sempre mais conhecida e acolhida pelos cristãos. A Igreja é peregrina na fé, que precisa ser alimentada e cultivada constantemente na oração e no encontro com Deus. Ela não está sozinha e não deve esquecer que, além de ser uma realidade humana, também é o corpo vivo e visível de Cristo, animada, guiada pelo Espírito Santo. Caminhando entre os sofrimentos do mundo e as consolações do Espírito (Santo Agostinho), encarnada nas realidades humanas, ela está cheia de esperança nas promessas divinas.
A Carta contém algumas valiosas indicações pastorais para a Igreja do 3º milênio cristão: manter-se fiel ao Evangelho e à Tradição viva. Manter o olhar fixo em Jesus Cristo, que deve ser mais e mais conhecido, amado, imitado, para viver nele a vida divina trinitária e transformar a história até à plenitude na Jerusalém celeste. A santidade é a vocação universal de todos os cristãos e deve ser o primeiro e mais importante objetivo de toda a ação pastoral; a oração precisa ser ensinada, aprendida e exercitada continuamente; a Eucaristia dominical seja para cada cristão o centro da celebração do Domingo, dia do Senhor e dia da Igreja; o Sacramento da Reconciliação precisa ser valorizado mais, como via ordinária para obter o perdão de Deus; escutar e acolher a Palavra de Deus; nunca esquecer o primado da graça de Deus: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5); testemunhar a misericórdia, a caridade fraterna, a espiritualidade da comunhão; valorizar todas as vocações, o diálogo ecumênico e o engajamento para colaborar na solução dos problemas humanos e sociais de cada período da história, como as questões da guerra e da paz, do respeito à vida, dos direitos humanos, dos problemas ambientais. Por fim, o Papa recomendou à Igreja caminhar na luz do Concílio Vaticano II, “grande graça de que se beneficiou a Igreja no século XX”.
Podemos perguntar-nos se, depois de 25 anos, essas diretrizes para a Igreja no 3º milênio cristão estão sendo realizadas. Ninguém terá a ilusão de esperar que, em poucos anos, já tenhamos realizado metas tão altas e desafiadoras. Contudo, é possível verificar se, ao menos, estamos indo na direção justa para a realização dessas importantes metas da vida e da missão da Igreja, ou se estamos indo na direção contrária. Não é temerário afirmar que, em geral, a Igreja caminha na direção justa, conforme indicado na Carta Apostólica. Contudo, a renovação missionária é mais lenta do que seria desejável; a fidelidade ao Concílio enfrenta algumas posições negacionistas, que geram perplexidades; a contemplação do rosto de Cristo, mediante o cultivo de uma sólida espiritualidade cristã, por vezes, parece ficar na sombra de iniciativas autorreferenciais e de certo “mundanismo espiritual”, para usar expressões caras ao Papa Francisco.
O Ano Jubilar de 2025 está sendo uma boa ocasião para ouvir, com renovada consciência, a palavra de ordem de Jesus Cristo: Duc in altum! E quem obedece a essas palavras, fará pesca abundante!