Escutar com o coração

Saindo da igreja, outro dia, cumprimentei um senhor que parecia querer conversar. Perguntei como estava e ele respondeu com um ‘tudo bem’, mas foi além e falou um pouco mais. Prontifiquei-me a ouvi-lo.

O que me chamou a atenção neste simples fato foi que aquele homem me contou que anos atrás foi ele o pioneiro na implantação da Pastoral da Escuta na Paróquia da qual faz parte até hoje.

Realmente, é importante o ato de escutar. Sabemos de inúmeros casos de pessoas que se salvaram até mesmo de um suicídio após serem ouvidas.

Escutar quer dizer “ouvir com atenção”, com raiz no latim: ‘auscultare’. Ouvir com atenção, estando inteiramente envolvido, no momento presente, com a pessoa que fala. Estar consciente de que escutar é acolher profundamente o outro para entender, de fato, o que ele está falando.

Escutar é como colocar-se no lugar do outro, procurar se sentir como ele está se sentindo e colher qual a real dimensão do que quer comunicar.

O ato de escutar pode começar com o acolhimento das pessoas com as quais temos contato, seja formal e previsto, seja ocasional, que pode ocorrer durante o dia no trabalho, no transporte ou mesmo em casa.

Muitas vezes, acolher o próximo pode ser natural e espontâneo, quando se trata de pessoas com as quais já temos algum relacionamento ou que temos em certa consideração. Mas não é tão fácil quando se trata de desconhecidos, sobretudo se pertecerem às minorias ou àquelas pessoas deixadas de lado pela sociedade em razão de preconceitos de gênero, cor ou condição social.

Em meio a tantas desavenças, discussões, polarizações e guerras, a busca do entendimento, da paz, da unidade, se torna cada vez mais urgente.

A experiência que nos passa Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, da espiritualidade da unidade é que: “… escutar o outro de maneira sincera e profunda, sem pressa, para conhecê-lo e valorizá-lo na sua diversidade cultural. É o caminho que leva também o outro a escutar, e é portanto a base e a premissa para um diálogo fecundo.” (https://www.focolare.org/pt/2017/04/02/a-escuta-que-gera-dialogo).

O Papa Francisco nos convida a escutar com o ouvido do coração para estabelecer uma “relação dialogal entre Deus e a humanidade.”

E continua na mensagem do LVI Dia Mundial das Comunicações Sociais, de 2022: “Entre os cinco sentidos, parece que Deus privilegia precisamente o ouvido, talvez por ser menos invasivo, mais discreto do que a vista, deixando consequentemente mais livre o ser humano”.

Na Vigília em preparação para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em 30 de setembro deste ano, o Papa Francisco lembrou: “É somente quando nos calamos para ouvir os outros que o Espírito Santo é capaz de ‘reunir pontos de vista’. Além disso, o silêncio “permite o verdadeiro discernimento, por meio da escuta atenta dos suspiros do Espírito, profundos demais para as palavras, que ecoam, muitas vezes escondidos, no interior do povo de Deus”.

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