Espiritualidade missionária

No mês de outubro, ao qual comumente chamamos de mês dedicado à missão, vale-nos refletir sobre o fundamento da missão da Igreja; afinal, a essência da Igreja é a missão: não se pode falar de Igreja sem se referir a sua ação principal no mundo. Precisamente a missão da Igreja é evangelizar, ou seja, é anunciar aos povos que Deus os ama, que Ele está perto com o poder salvador e libertador de Seu Reino e que Ele nos acompanha na tribulação (DAp, no 30).

O Papa Bento XVI nos recorda que “o discipulado e missão são como duas faces da mesma moeda: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, ele não pode deixar de anunciar ao mundo que só Ele nos salva” (DAp, no 146). Quando o discípulo está enamorado de Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que “em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devemos ser salvos” (cf. At 4,12). A missão é um dinamismo essencial e permanente da vida cristã; o estado de missão é um movimento permanente pelo fato de a natureza da própria Igreja ser peregrina e sempre estar em um processo de renovação, de evangelização e de conversão (Lumen gentium LG, no 8). Evangelizadora, a Igreja tem sempre a necessidade de ser evangelizada se quiser conservar o frescor e a força para anunciar o Evangelho, isto é, uma Igreja que se evangeliza mediante uma conversão e um renovamento constante de si mesma, para evangelizar o mundo com credibilidade (Evangelii nutiandi EN, no 15). Um estado permanente de missão exige uma pastoral mais missionária e uma pastoral missionária se opõe a uma pastoral chamada “pastoral de conservação”, que apenas conserva o que já existe, mantendo-se em estruturas protetoras, esperando apenas que as pessoas venham até ela. Assim, uma Igreja permanentemente missionária não é presa em si, parada em si, mas sai em busca, vai ao encontro das pessoas.

O discípulo, inserido verdadeiramente na Igreja, na medida em que vai conhecendo e amando o Senhor, sente a necessidade de partilhar com os outros a sua alegria em ser enviado, de estar no meio do mundo e anunciar Jesus Cristo morto e ressuscitado, tornando visível o seu amor e o seu serviço, sobretudo aos mais necessitados; em uma palavra, missão é, antes de tudo, construir o Reino de Deus. Sendo assim, a espiritualidade missionária tem por base afirmar que a missão é inseparável do discipulado. A espiritualidade cristã se caracteriza como seguimento de Jesus Cristo, numa adesão total e irrestrita da própria vida aos valores e ensinamentos emanados do Evangelho de Jesus; é a partir do encontro forte e transformador com Jesus Cristo vivo que o discípulo se põe em disposição e em espírito missionário. Dessa forma, a espiritualidade do cristão missionário consiste em viver a vida guiada pelo mesmo Espírito que guiou Jesus.

Assim, uma espiritualidade missionária é ter na missão a ação totalmente plasmada pelo Espírito Santo, que é o agente principal da missão da Igreja; sem o Espírito Santo, não há missão, não há evangelização, não há seguimento. Por isso, não existe na Igreja missão sem espiritualidade. A expressão “Espírito Santo” para nós tão é importante porque revela a natureza de Deus: Ele é Santo porque é de Deus, porque Sua realidade pertence à esfera da existência de Deus, não cabendo a nós buscar outra razão de sua santidade; Deus é santo porque Ele é Deus. O Espírito Santo, por sua vez, é, antes de tudo, aquele que faz agir de modo a realizar o desígnio de Deus na história.

Portanto, a Igreja é enviada por Deus ao mundo para continuar a missão visível do Filho encarnado e do Espírito doado. Assim, a espiritualidade missionária é expressão da espiritualidade encarnada, a qual expressa a natureza própria da Igreja, pois se origina da missão do Filho e do Espírito, segundo o desígnio do Pai (Ad gentes AG, no 2).

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