A Ressurreição de Jesus não é apenas uma lembrança gloriosa do passado, mas acontecimento permanente que renova a vida da Igreja e sustenta nossa esperança. A promessa do Ressuscitado, segundo o Evangelho de São João, permanece atual: “O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26).
Em tempos de rápidas mudanças, quando certezas vacilam e a fé corre o risco de se tornar uma experiência meramente isolada, essa promessa ressoa com força: não estamos sozinhos. O Espírito Santo é a memória viva de Jesus. Ele não apenas recorda ensinamentos, mas atualiza sua presença, sua Palavra e seu amor em nossa vida cotidiana.
Jesus nos chama a uma espiritualidade interior: “Se alguém me ama, guardará minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos e faremos nele nossa morada” (Jo 14,23). Ser cristão é acolher essa presença transformadora, vivendo-a como espaço de escuta, comunhão e missão.
O Espírito que ensina e recorda também conduz. Por isso, a Igreja é chamada a viver a sinodalidade como estilo espiritual: caminhar juntos, atentos ao que o Espírito diz às Igrejas (cf. Ap 2,7). Não é tendência passageira, mas o modo próprio de ser Igreja, como constantemente insistia o Papa Francisco.
A sinodalidade supõe escuta mútua, discernimento comunitário e decisões tomadas à luz da fé. Nos Atos dos Apóstolos (cf. At 15,1-2.22-29), diante de um conflito pastoral, não se divide, mas se reúne, discerne e decide em comunhão: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. Aqui se resume a espiritualidade sinodal: deixar-se guiar pelo Espírito em unidade.
Hoje, esse estilo sinodal pode renovar profundamente nossas comunidades. Em vez de decisões centralizadas ou isoladas, somos chamados a cultivar uma pastoral de comunhão, em que cada batizado se sinta corresponsável pela missão da Igreja. Conselhos pastorais, assembleias, escutas comunitárias e formação de lideranças são meios preciosos, desde que animados por oração, escuta e discernimento.
A paz que Jesus oferece é também sinal dessa presença do Espírito: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá” (Jo 14,27). Não se trata de ausência de conflitos, mas de comunhão reconciliada, fruto da escuta e da abertura ao outro. Uma comunidade guiada pelo Espírito torna-se pacificada e pacificadora.
No Apocalipse (cf. 21,10-14.22-23), a Jerusalém celeste surge como cidade sem templo, iluminada pela glória de Deus. Essa imagem inspira a Igreja de hoje: comunidade que vive na luz de Cristo, aberta, acolhedora e missionária. Cada paróquia, pastoral ou movimento deve refletir essa nova Jerusalém, onde Deus habita e transforma tudo com sua luz.
Ser Igreja sinodal é ser Igreja missionária, como recordava o Papa Francisco: uma Igreja que sai, escuta, serve e discerne. Mais do que adaptar estruturas, é necessário renovar corações, colocando o Espírito no centro da vida eclesial como mestre, memória e guia.
O Espírito Santo continua a agir. Mesmo em meio a desafios, Ele ensina, recorda e conduz. Com Ele, podemos repetir com confiança e fé: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”; e, assim, caminhar com esperança, edificando uma Igreja mais sinodal, orante, mais fraterna e mais fiel ao Evangelho.