A espiritualidade da missão

Estamos celebrando o mês missionário, que neste ano tem por tema “Jesus Cristo é missão”, e por lema e inspiração bíblica “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20).  Sabemos que o contexto da pandemia, que se prolonga, tem causado grande sofrimento, com o aumento da pobreza e exclusão social, o que exige de nós um testemunho de compaixão e fraternidade, na esperança. É o que diz o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Missões: “Neste tempo de pandemia, perante a tentação de mascarar e justificar a indiferença e a apatia em nome de um distanciamento social saudável, a missão da compaixão é urgentemente necessária por sua capacidade de fazer desse distanciamento recomendável uma oportunidade de encontro, cuidado e promoção”. Não podemos, como cristãos, ser indiferentes, e omissos.  

Se Jesus Cristo é missão, somos chamados a proclamar o que vimos e ouvimos, o que experienciamos, e testemunhar a imensa misericórdia divina. O Filho de Deus vem ao encontro das “multidões cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9,36). Para cumprir a vontade do Pai, Jesus entrega a sua vida pela salvação da humanidade, chama os Doze apóstolos e os envia para “expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e enfermidade” (Mt 10,1-4). Com a expressão “Igreja em saída”, o Papa Francisco conclama todos a cumprir o mandato de anunciar o Evangelho ao mundo (cf. Mc 16,15). Somente uma espiritualidade verdadeiramente missionária pode nos levar ao encontro, cuidado e promoção de toda a vida humana, com misericórdia. 

Fonte de uma espiritualidade missionária é a Santíssima Trindade, pois missão é, antes de tudo, autocomunicação de Deus, ou seja, do “amor fontal do Pai se origina a missão do Filho e a missão do Espírito Santo” (cf. decreto Ad gentes, 2). Esta referência à Trindade, que é expressão plena de unidade e comunhão, leva ao diálogo e ao acolhimento e proporciona um horizonte à evangelização, seja existencial, seja geográfico, até os confins da terra. Protagonista da missão é o Espírito Santo (cf. Lc 4,14) e sua força e luz dirigem os passos dos missionários, pois Jesus veio para a libertação dos pobres e oprimidos (Lc 4,18-19).  

Não existe missão sem se conformar à pessoa de Jesus Cristo. Uma espiritualidade missionária exige o mesmo despojamento do Filho de Deus que “esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo” (Fl 2,7). Ele se fez pobre e serviu aos pequenos do Reino de Deus (cf. Lc 7,18-23), e cumpriu sua missão como o verdadeiro servo sofredor (cf. Lc 23,1-46), e, por sua morte e ressurreição, a todos salvou. A credibilidade missionária está na experiência profunda de Deus no serviço aos irmãos. Somos chamados a testemunhar o que vimos, ouvimos, contemplamos, tocamos com nossas mãos (cf. 1Jo 1,1-3), e, como sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16), evangelizar atraindo todos a Cristo Jesus. Somos todos discípulos e missionários e, com coragem e alegria, vamos anunciar e testemunhar aquilo que acreditamos e vivemos de acordo com nossa específica vocação e ministério. 

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